O cenário brasileiro para a Indústria 4.0
Debate sobre mudanças na produção de bens de consumo e indústria 4.0 é necessário para que o Brasil avance em sua busca pelo desenvolvimento. Ficar para trás agora pode significar além de anos de atraso, a oficialização do país como exportador de insumos básicos, sem nenhuma relevância na construção social e econômica do planeta.
Publicado 17/08/2018 12:52
O tema “Indústria e desenvolvimento: a nova onda da indústria 4.0 e o futuro do Brasil” atraiu um público de 400 pessoas de todas as idades ao Clube de Engenharia, no Rio de Janeiro. Nos dias 9 e 10 de agosto em painéis organizados com nomes dos mais representativos no cenário político nacional, o Centro Internacional Celso Furtado refletiu sobre o Brasil e buscou soluções para um futuro mais justo.
Na mesa oficial de abertura, representando o Centro, seu presidente Roberto Saturnino Braga, o presidente do Conselho da entidade Samuel Pinheiro Guimarães; a integrante do Conselho Deliberativo Rosa Freire d’Aguiar, o coordenador do encontro Marcelo Arend, e o presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino.
O foco das abordagens foi, em sua maioria, o momento de transição que vive o mundo, com a 4ª revolução industrial. Depois da transição do artesanato para a mecanização, da introdução da eletricidade nos processos produtivos nas linhas de montagem e da terceira revolução que veio com a eletrônica, telecomunicações e tecnologia da informação, a indústria se transforma conjugando as revoluções anteriores e promovendo a total automatização das fábricas. Máquinas ligadas a sistemas digitais são capazes de tomar decisões e cooperar entre si e com os trabalhadores, via internet das coisas. É tempo de fábricas inteligentes que dispensam a intervenção humana na maior parte de seus processos.
O tema do 4º Congresso do Centro Internacional Celso Furtado aborda mais que uma mudança na produção de bens de consumo. Com toda a polêmica que provoca no mundo do trabalho, o debate é condicional para que o Brasil avance em sua busca pelo desenvolvimento. Ficar para trás agora pode significar além de anos de atraso, a oficialização do país como exportador de insumos básicos, sem nenhuma relevância na construção social e econômica do planeta.
“Essa discussão é essencial para resolvermos que país queremos. Se é o voltado para fora, exportador de produtos primários, ou se é um Brasil industrializado, que possa oferecer ao seu povo a perspectiva de um futuro melhor. Desde a revolução de 30 esse debate é travado e Celso Furtado foi um dos que melhor formulou a proposta de desenvolvimento para o Brasil. Estamos em processo agudo porque em nenhum instante anterior esteve em risco o Estado Nação”, afirmou Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia, ao abrir os trabalhos do Congresso.
Mudança inevitável
A responsabilidade da palestra magna coube ao professor Luciano Coutinho, um dos fundadores do Instituto de Economia da Unicamp e ex-presidente do BNDES, que reafirmou a tecnologia como questão central no debate sobre a indústria 4.0, registrando que os avanços acelerados de descobertas e a implementação de novas tecnologias nas últimas três décadas foram responsáveis por esse novo momento na história da produção humana.
“Há uma trajetória exponencial de ganhos de capacidade dos processadores e memórias de, em um curto período histórico, armazenar e processar massas de dados e informações a custos cada vez mais baixos. Esses avanços permitiram aprofundar a conectividade na sociedade”, destacou Luciano Coutinho.
Os números confirmam: em 2015 a população mundial era de 7.4 bilhões de habitantes, 3 bilhões estavam conectados à Internet, cerca de 40% da população global. Em 2017, esse número cresceu e cerca de 50% já estavam conectados, graças aos smartphones. As projeções são de que, em 2030, quando a população global chegar a 8.5 bilhões de habitantes, 93% da população mundial esteja conectada à rede.
“A dominância desses sistemas é inexorável. Eles irão, nos próximos anos, abarcar toda a sociedade. É um desafio integrar massas hoje excluídas, mas há outros. Esse avanço abre a porta para o uso de algoritmos de inteligência artificial capazes de traçar o perfil das pessoas. São sistemas que saberão cada vez mais as preferências da sociedade e serão usados para a manipulação e controle dessas preferências e interesses. Daí a importância do debate sobre a propriedade de dados e a privacidade dos cidadãos”, destacou Coutinho.
Essa nova realidade impõe um arranjo de poderes diferente do qual estávamos acostumados. Segundo Coutinho, o Setor Público segue sendo o coração dos investimentos no setor de tecnologia e a configuração das políticas é de avanço mais focado em estratégias de longo prazo. Entre 70% e 99% dos avanços relevantes na pesquisa básica no mundo são feitas em universidades públicas ou laboratórios públicos avançados. No Japão, esse percentual é de 98%; nos EUA, 96%; na União Europeia, 83% e no Reino Unido, 71%.
O professor Luciano Coutinho, um dos fundadores do Instituto de Economia da Unicamp e ex-presidente do BNDES, abordou na conferência de abertura a “Quarta revolução industrial e os desafios para o Brasil”. Foto: Isabela Kassow
“Essas transformações estão em curso. Ou bem a sociedade brasileira – e nós temos uma disjuntiva histórica fundamental nos próximos meses – compreenderá, ainda que por intuição, os desafios colocados ao seu futuro, ou o risco de projetos ignorantes, que desconhecem a profundidade e a envergadura das transformações que virão poderão nos arriscar a retrocessos irreversíveis para a nossa indústria. Uma sociedade urbana, complexa como a brasileira, não poderá melhorar a renda sem indústria, sem serviços sofisticados, sem estar engajada num processo de transformação em direção a esses paradigmas de maneira muito intensa”, alertou Luciano Coutinho.
Atraso nacional é projeto
Para o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, desde sempre, dois projetos distintos se digladiam pelo poder no país. Um deles é pensado para 210 milhões de habitantes. É um modelo industrial que organiza o mercado de trabalho e de capital, que cria estrutura de Estado, que quer a criação de um Brasil moderno. “O outro projeto”, afirma Samuel, “é pensado para apenas 30 milhões de brasileiros. O restante, 180 milhões, têm como política social o encarceramento. Esse é o projeto que está no poder e já abriu todos os setores para o capital estrangeiro”.
João Eduardo de Moraes Pinto Furtado, professor da Universidade de São Paulo (USP), também apontou, no painel “Os trabalhadores e a indústria 4.0”, o enfrentamento entre dois modelos, mas por uma perspectiva diferente, que coloca a própria sociedade como parte de um protagonismo incômodo no processo. O professor destacou que, junto com os hardwares que importamos, vem um software que, de certa forma, determina uma dependência de ideias e da forma de funcionamento das novas tecnologias. Esse material inominável e intangível, segundo ele, está em todo lugar e deve ser levado em conta para entender o lugar que o Brasil ocupa hoje no que diz respeito à tecnologia.
“Em 1930 tínhamos um país semi-industrial que se industrializou muito rapidamente. Em 1980, o Brasil tinha o mesmo grau de semelhança entre a sua estrutura industrial e de países desenvolvidos, mas ainda assim, não era industrializado. Isso porque indústria não é apenas um processo de fabricação, mas uma dinâmica comandada por um processo tecnológico. Ela é a correia transmissora do processo tecnológico, não só uma produtora de bens. Na década de 1980, as maiores empresas do país, mesmo as em posição dominante, não tinham um departamento de engenharia”, lembrou o professor João Eduardo de Moraes Pinto Furtado.
A pressa para se industrializar acabou não deixando o conceito da produção de lucro através da transformação permanente dos processos produtivos se solidificar. “Há uma empresa farmacêutica famosa que, em 1990, tinha três mil representantes de vendas e nenhum cientista. A empresa é dona de um hotel e de um campo de golfe, mas não tem um departamento de pesquisa e desenvolvimento”, alertou Furtado.
“O capitalismo brasileiro não absorveu o conceito necessário para o capitalismo industrial. Não há a noção de que, às vezes, temos que esperar para ter direito a um consumo que seja para todos. O primado do consumo imediatista nos coloca em contradição: dizemos que queremos o desenvolvimento do país, mas escolhemos sempre pelo consumo imediatista. Isso nos impede de construir as competências necessárias para esse novo momento”, lamenta o professor João Eduardo de Moraes Pinto Furtado.
Diagnóstico e solução
O painel “Diagnósticos dos problemas da indústria nacional” levantou a questão da desindustrialização do país considerando fatores como a priorização das importações, não valorização do setor de serviços e a falta de política pública orientada para a qualidade de vida da população. Antonio Corrêa de Lacerda, economista e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ao falar da importância de se traçar um diagnóstico, citou dois importantes indicadores da crise; desemprego e queda do investimento na indústria nacional.
“O PIB hoje está 7% abaixo de 2014, a indústria está cerca de 10% abaixo e o investimento cerca de 30% abaixo”, expôs. Por outro lado, foi fortalecido o mercado internacional: as importações passaram a abastecer o consumo.
“O Brasil necessita de uma ação em três frentes: políticas macroeconômicas, especificamente fiscal, monetária e cambial; políticas de competitividade, valorizando indústria, tecnologia, infraestrutura, educação e políticas regulatórias; e, em microescala, atuação empresarial nos campos de inovação, gestão, produtividade, qualificação e treinamento”, defende Antonio Corrêa de Lacerda.
A necessidade de uma orientação clara para o desenvolvimento do país também foi abordada por Clélio Campolina, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ex-Ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação. Para ele, é preciso parar de acreditar que a indústria vai desenvolver o Brasil sozinha, desligada de demais dimensões macro-setoriais. É necessário haver política pública e planejamento, visando o desenvolvimento da população.
“É um mito continuar pensando que desenvolvimento é crescimento econômico, é industrialização, é progresso técnico, é competição, sem que isso seja orientado para um objetivo social”, afirmou Clélio Campolina.
Para evitar a desindustrialização pela qual o país vem passando faltaram investimentos em serviços necessários para a informática, eletrônica e automação, na visão de Marcelo Arend, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Segundo ele, o Brasil mal entrou na terceira revolução industrial, marcada pela mecânica, eletrônica e automação, e não deu atenção a serviços intensivos em conhecimento, que são essenciais para o desenvolvimento.
O professor Marcelo Arend defendeu que não é a indústria o único motor do país, mas também os serviços. A quarta revolução industrial trata, justamente, da simbiose entre serviços e tecnologia: Internet das Coisas, Big Data e Computação em Nuvem são inovações que provêm do setor de serviços e causam impacto profundo no setor industrial. Mas para se inserir nesse contexto, o país precisa de uma estratégia nacional de reindustrialização: intensa automação junto com autonomização do processo produtivo. É uma forma de restabelecer a industrialização e juntar consumo com produção.
Desenvolvimento nacional
O painel “Perspectivas de desenvolvimento industrial” reuniu dados fundamentais para a compreensão da queda no investimento e desempenho da indústria na última década e lançou um olhar sobre a intrínseca relação entre desenvolvimento econômico e desenvolvimento nacional.
Carmem Feijó, docente da Universidade Federal Fluminense (UFF), apresentou dados sobre o desempenho da indústria brasileira antes e depois da crise financeira internacional. A avaliação é de que o ciclo de investimento ocorrido na economia, entre 2007 e 2015 aproximadamente, ocorreu acentuadamente em setores intensivos em recursos naturais, as commodities, não dando base para a agregação de valor na indústria.
Fragilizadas no início dos anos 2010, as empresas industriais perderam capacidade de financiar seus investimentos com recursos próprios, enquanto políticas de estímulo focaram mais na oferta do que na demanda, ainda sem valorizar os setores com tecnologia mais qualificada. Com a brusca mudança da direção política econômica em 2015, a economia mergulhou em grande recessão.
Para Esther Dweck, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é urgente deslocar o olhar do desenvolvimento do país para a redução das desigualdades sociais. Não basta estar no sistema capitalista para alcançar o desenvolvimento industrial, pois o capital busca a solução mais rentável. O que se precisa é de estratégia: “Pensar o Estado como quem vai dar o motor do desenvolvimento, e ele tem que ser voltado para nossas grandes demandas sociais. Se conseguirmos pensar uma estratégia onde o objetivo seja redução de desigualdades e puxar a indústria para atuar nesse sentido, temos chances maiores de ter uma mudança estrutural mais intensiva”.
O caminho, para Dweck, seria reativar dois canais para aumentar a demanda perante a indústria: o mercado consumidor e o investimento público. Isso seria feito com distribuição de renda e oferta pública de bens e serviços, tendo uma população com maior poder de compra.
José Eduardo Cassiolato, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também acredita que a política industrial tem que olhar para o desafio nacional principal que é da pobreza, das desigualdades sociais. Não mais ter um pensamento “setorizado” como foi no passado quando se privilegiou, por exemplo, o setor automobilístico. Para ele, o caso é grave, uma vez que avanços conquistados em 14 anos, a partir do início dos anos 2000, foram perdidos em apenas dois anos, mais recentemente.
4º congresso centro celso furtado em 09 de agosto 2018
Painel “Perspectivas de desenvolvimento industrial”. Da esquerda para a direita: Esther Dweck, Carmem Feijó, Helena Lastres e José Eduardo Cassiolato. Foto: Isabela Kassow
Vocações do país
André Furtado, docente da Unicamp, caracterizou a indústria de petróleo e gás natural como uma vocação desperdiçada. O enorme investimento feito no setor, por parte do Estado, teve como um dos principais focos de demanda o modal rodoviário.
“Ciência e tecnologia têm um papel importante no desenvolvimento brasileiro”. Toda a abundância conquistada permitiu ao país reduzir sua dependência externa, cenário que mudou drasticamente com a adoção de novas estratégias da Petrobras nos últimos anos, afirmou André Furtado.
Ainda no campo da energia, o conselheiro do Clube e engenheiro Paulo Metri abordou a vocação nuclear do país. Segundo ele, o Brasil possui 309 mil toneladas de urânio somente em um terço de seu território, o que coloca o país na sexta posição do ranking mundial. A utilização desse recurso na energia é da maior importância, principalmente no combate aos efeitos do aquecimento global, uma vez que 85% do consumo mundial de energia hoje é de combustíveis fósseis.
“Se nós queremos chegar ao ano de 2100 com acréscimo de somente 2 graus à temperatura da Terra, relacionado a antes da industrialização, isso vai ser muito difícil com 85% de combustíveis fósseis”, afirmou Paulo Metri, que defendeu a urgência de o programa nuclear ser considerado um programa de Estado, como uma demanda da população, para que possa ser priorizada pelos governantes para além de seus quatro anos de gestão.
Marcio Nobre Migon, do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), abordou a indústria aeroespacial, que concentra 838 bilhões de dólares por ano em todo o mundo, sendo que o Brasil detém cerca de 1%. É uma área de difícil inserção e que precisa ter um olhar global, sem se ater à demanda doméstica. Nesse contexto, o Brasil atua como um parceiro, fornecedor de produtos para outros países também emergentes. Sinais de crescimento são visíveis: o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) inaugurou um curso de engenharia aeroespacial recentemente, e surgem no país cada vez mais cursos de engenharia aeronáutica.
No que se refere ao futuro da área de Defesa, é fundamental, na visão de Marcio Nobre Migon, que o país supere a contenção de gastos: “Não é possível imaginar um fomento e desenvolvimento de uma cadeia produtiva de defesa e aeronáutica dependendo das compras públicas enquanto a nossa legislação de orçamento geral da União for de orçamento anual, com planos plurianuais que não são seguidos e ainda estão sujeitos a contingenciamentos”.
Oportunidades e gargalos
O painel “Políticas de Inovação para a indústria 4.0” foi marcado por números e estudos acadêmicos que apontaram gargalos e oportunidades para o Brasil nesse momento de mudança de paradigmas. David Kupfer, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ); Eduardo Motta Albuquerque (CEDEPLAR/UFMG) e Jorge Saba Arbache Filho, da Universidade Federal de Brasília e Secretaria de Assuntos Internacionais – Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, apontaram problemas e possíveis posturas que se traduziriam em soluções na busca de uma agenda possível.
As transformações estão por todo lugar e entendê-las é fundamental para pensar o futuro. O consumo está mudando, voltado para o consumo de bens intangíveis ou produtos industriais com alto valor intangível agregado, como os aparelhos de smartphone.
“Cada vez mais a fonte de geração de riqueza é menos formação bruta de capital fixo e mais bits e neurônios”, destaca o professor Jorge Saba. Segundo ele, temos um processo de desenvolvimento industrial em três momentos. Inicia-se de forma rudimentar: têxteis, ferro, aço, cimento etc, gerando um aumento na participação da indústria no PIB. “Há uma dinâmica própria que diz que mais do mesmo não funciona. À medida que você vai sofisticando essa economia, você vai se enriquecendo e vai demandando coisas mais sofisticadas, inclusive coisas que valorizam o processo e o produto industrial. O ponto crítico é quando vemos que há um processo em que mais indústria não é fonte fundamental de geração de densidade industrial que é o que importa. Há uma aparente diminuição da importância da indústria no PIB, quando, na verdade, o que se tem é uma mudança da natureza do produto industrial, que se torna uma amalgama de tangíveis e intangíveis para criar valor”, explicou. O Brasil, ainda no início desse processo, precisa de políticas de inovação que o coloquem minimamente em contato com o mundo que avança nas tecnologias. Jorge aponta a necessidade de ações que alimentem a co-criação e compartilhamento, que capacitem o Brasil como desenvolvedor, gestor e distribuidor de tecnologia e políticas que acelerem os saltos em determinados setores vocacionais do país.
“O que vemos, por enquanto, são políticas que visam aumentar o nosso uso sobre as novas tecnologias, mas precisamos nos tornar gestores e desenvolvedores delas. É o que de fato vai fazer diferença no século XXI”, alertou o professor Jorge Saba Arbache Filho.
Para Eduardo da Motta Albuquerque, o país precisa de foco para aproveitar as suas vocações e direcionar políticas públicas para o desenvolvimento desses setores, considerando sempre a possibilidade de leapfrogging (quando se salta uma tecnologia intermediária não dominada e se domina diretamente a tecnologia que vem depois dela, mais atual e moderna). “Podemos pular para a revolução tecnológica que está emergindo. Há oportunidades. Para aproveitá-las, articulado com a história do Brasil, temos que investir em biotecnologia porque somos bons de saúde; nanotecnologia porque somos bons em materiais em geral; e investir em Big Data porque com o SUS podemos ter uma poderosa máquina de inovação na área de saúde”, destacou Albuquerque.
“Precisamos combinar sistema de bem estar social com sistema de inovação em um quadro de aprofundamento de democracia”, aponta Eduardo da Motta Albuquerque.
O economista David Kupfer fechou o painel trazendo dados positivos dentro de uma realidade bastante complicada para a indústria nacional. “Estamos vendo um novo Big Bang e estamos vendo a banda passar. No Brasil, os debates sobre a tecnologia 4.0 começaram há dois anos. Estávamos em momento político caótico do qual nem saímos ainda. O assunto começou a percorrer os meios de estudiosos, mas existia uma percepção de desconhecimento do que se estava falando. Hoje o assunto é popular, mas não conseguimos ainda avançar”. Após a disseminação do termo, lembra Kupfer, planos e estudos nasceram com o objetivo de apontar caminhos para o país atravessar essa revolução com êxito. No entanto, nenhum deles, de acordo com o economista, tem de fato um contexto suficientemente robusto pra guiar a tomada de decisão necessária”. A indústria vive momento delicado, de crise multidimensional, com elementos conjunturais, estruturais, institucionais. Precisamos construir uma linha de ação para que a nossa indústria, já tão capenga, não venha a fenecer como algo que já amadureceu, passou do ponto, não consegue se revitalizar e vai perdendo suas capacidades em uma situação muito grave”, alertou.
Ao abordar o caminho de introdução do novo paradigma, Kupfer apontou um cenário mundial que ainda se adapta ao novo momento com empresas brasileiras dispostas a participar desse movimento. De acordo com pesquisa de campo sobre a indústria 4.0 no país, com a participação de 725 empresas com 100 ou mais funcionários, cerca de 70% das nossas empresas entendem que a indústria 4.0 estará difundida efetivamente no Brasil em 10 anos, destacou David Kupfer.
Um Brasil ativo e altivo
No encerramento, o embaixador Celso Amorim traçou questões fundamentais para que o país possa pensar em se igualar a outros Estados, principalmente se mirar o desenvolvimento em uma economia robusta. “Há uma preocupação entre os economistas com a inapetência da economia brasileira em sua recuperação. Não vai existir recuperação até que o Estado invista pesadamente em infraestrutura e outras áreas altamente tecnológicas. Estávamos nesse caminho, mas não estamos mais”, lamentou o embaixador. Retomar uma postura de menos vassalagem a interesses americanos e mais independentes na proteção de nossos próprios interesses é, segundo Amorim, condicionante para que o país se erga novamente. “Vencer o bloco do atraso é necessário. China e Rússia vêm impondo um novo momento no arranjo geopolítico do mundo”.
Para aproveitar o momento e buscar seu espaço, a receita de Amorim é simples: “o Brasil ativo e altivo na política internacional é bom para a própria ordem internacional, mais voltada para a paz. Precisamos defender nossos interesses e buscar construir uma ordem mundial mais justa e equilibrada”, finalizou o ex-chanceler Celso Amorim.
Em seguida, os participantes do 4º Congresso do Centro Internacional Celso Furtado assistiram à exibição do filme “Livre pensar — cinebiografia de Maria da Conceição Tavares”, de José Mariani.