"É o projeto mais ousado que o PT já apresentou", diz economista

 "Ponte para o futuro" foi desconstruída pelo governo Temer, disse o economista, afirmando que meta do PT é recuperar emprego e investimentos, sem limitação de gastos, desde infraestrutura a programas sociais.

Marcio Pochmann

"É o projeto mais ousado que o PT já apresentou desde que começou a participar de eleições no Brasil", disse o economista e um dos forumuladores do programa do PT à Presidência 2018, Marcio Pochmann, nesta quinta-feira (23), ao ser sabatinado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da FGV.

O evento faz parte da série de entrevistas promovidas pelo Instituto, em parceria com o Estadão, intitulada "Os Economistas das Eleições", convidando cada um dos economistas dos programas de governo de oito candidatos ao Planalto.

Pochmann explicou o plano de governo do PT ao posto maior do Executivo com base em três fases: houve, primeiro, uma discussão interna do partido sobre erros e acertos dos governos petistas, entre 2003 e 2016: "isso nos permitiu olhar para nosso legado e humildemente reconhecer erros", informou. Depois, ouviram a população, para criar um projeto de "Brasil que o povo quer" – frase que sintetizou emblemática campanha atual de Lula.

A partir daí, o documento do PT foi construído, disse Pochmann, olhando de baixo para cima, com estratégias que permitam a ascensão social, as garantias de emprego e renda, o aumento da tributação aos mais ricos, recuperação de investimentos sem limitação de gastos desde infraestrutura a programas sociais, a suspensão das privatizações, a recuperação do pré-sal em benefício dos brasileiros e a revisão de medidas adotadas por Michel Temer.

"É fundamental termos um programa de emergência para emprego e renda enquanto as reformas são discutidas. Isso passa pela ampliação da renda disponível da população na base da pirâmide social", explicou Pochmann. "E paralelamente a isso, um aumento da tributação de segmentos de renda que estão praticamente isentos. Revisão das isenções fiscais. Uma forte ênfase na redução do custo do dinheiro, da taxa de juros e uma recuperação imediata dos investimentos em obras públicas, como as do programa Minha Casa, Minha Vida."

Outro ponto forte do programa prevê reverter medidas tomadas pelo atual governo Temer, como o teto dos gastos públicos, a reforma trabalhista e as privatizações. "É fundamental fazermos uma revisão profunda nas medidas que foram tomadas pelo atual governo, como o teto de gastos, a reforma trabalhista e os processos de privatização", disse.

Pochmann também defendeu a criação de uma nova Assembleia Nacional Constituinte para a execução de reformas que, segundo ele, são fundamentais para o futuro do país, elencando a do sistema político-eleitoral, dos meios de comunicação e a reforma tributária.

De acordo com o economista, além de impactarem diretamente o país e os trabalhadores, as decisões do atual mandatário são "contraditórias", e disse que a tal "ponte para o futuro", lema do governo de Michel Temer, na verdade, foi descontruída.

"Uma reforma constitucional ajudaria a nos concentrarmos no que é importante e não em mudanças contraditórias. A reforma previdenciária proposta está em oposição à reforma trabalhista apresentada. Uma Constituinte discutiria e organizaria melhor essas reformas. As opções que o Brasil fez nos últimos dois anos desconstroem uma 'ponte para o futuro'", destacou.

Nas mudanças econômicas, o programa defende uma política ativa de investimentos e a expansão do crédito com bancos públicos financiando o desenvolvimento nacional, o que impactaria na redução do spread bancário. Com inspiração desenvolvimentista, a primeira meta seria a recuperação do emprego, disse Pochmann, lograda com a recuperação das obras públicas. Também defendeu a isenção do imposto de renda para pessoas com renda até 5 salários mínimos.

E a largo prazo, o programa prevê a recuperação da base industrial do país, voltada a segmentos tecnologicamente avançados no Brasil. Já a polêmica reforma da Previdência, "ainda que mudanças precisem ser feitas, desde que levem em conta o impacto ao sistema de seguridade", não seriam a prioridade do governo.