Poesia: Resistir é preciso

Prosa, Poesia & Arte traz a publicação inédita da poesia “Resistir é preciso”, de Maria Aparecida Dellinghausen Motta. A autora é poeta, filósofa e membro do Conselho Editorial da Editora Autores Associados e Coordenadora do selo Ciranda de Letras.

Amanhã vai ser outro dia - Divulgação

Leia a obra na íntegra:

Resistir é preciso

(Maria Aparecida Dellinghausen Motta)

Hoje, choremos nossas lágrimas
de amargo gosto
porque já tremulam
sobre nossas cabeças
as bandeiras do agouro
e da opressão.

Outros Inconfidentes
peregrinam pelos corredores do país
onde são instaladas novas formas de DOI-Codi
e algozes aguardam em prontidão.

Agora percebemos:
o injusto cadafalso
foi pacientemente aplainado
selecionando as cabeças
ditadas pelo obsessivo tribunal.

Vozes clamam por justiça
mas de nada valem!
Com princípios falidos,
corrompidos pelo ódio,
querem ditar nossas leis.

É urgente revolver a Conjuração de Minas…
Hoje o Romanceiro* de Cecília se inscreve
novamente na História
nesses dias de plúmbeas vestes…

Ai, Cecília! Ai, Cecília!…
Como revelaste sangrentas verdades,
tão profundas que transpassaram
as cortinas do tempo?!

As sentenças das togas
não podem mais alimentar a conspiração
(juiz não é inquisidor)
que vai golpeando a Liberdade que agoniza!

Nossos corações ainda palpitam perplexos
diante da violência construída contra inocentes.
Tantos Andersons e Marielles
são ceifados diariamente
num silêncio cúmplice encobrindo os culpados.

Hoje só queremos transportar nos braços a Liberdade,
sobrevivente entre os escombros
de duras e falsas leis.
Um país só é legítimo
com ideias livres e justas
no pleno ajuste do povo com sua História.

A socrática condenação de Lula
não poderá mais persistir
arrastando os dias ao incerto porvir.
É preciso ardor na resistência
garantindo a luta
contra a opressão dos cárceres malignos,
resgatando ao país a sempre revolucionária esperança.

São Paulo, agosto de 2018.

*Referente ao livro de Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência: Crônica Trovada da Cidade de San Sebastiam. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1983