Assessor de Trump sugere que Argentina dolarize economia

O assessor do presidente norte-americano Donald Trump e diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Lawrence Kudlow, sugeriu nesta semana que o governo da Argentina dolarize sua economia. A estratégia, segundo Kudlow, seria o “único caminho” para a recuperação econômica do país latino.

Maurício Macri - Divulgação

O economista afirmou que a estratégia de ancorar a moeda argentina ao dólar é o que “precisa ser feito agora”, à medida que é a política macroeconômica “funcionou nos anos 90”, permitindo, à época, a “redução da inflação e manutenção da prosperidade”.

Segundo Kudrow, o governo Trump está "profundamente envolvido" nas negociações entre FMI e Buenos Aires, cujas tratativas foram iniciadas pelo presidente Mauricio Macri após o início da crise cambial. Entre as opções na mesa, afirmou Kudrow, estaria a dolarização da economia.

Trump, que disse "confiar na liderança de Macri", deve ir à Argentina no final de novembro para a reunião do G20.

O Banco Central da Argentina e o Ministério da Fazenda minimizaram a ideia de Kudrow, dizendo ao site ambito.com que a fala do assessor de Trump é somente "uma sugestão"

Convertibilidade

A economia argentina já esteve vinculada ao dólar durante os governos de Carlos Menem (1989-1999) e de Fernando de la Rúa (1999-2001). Em 2001, uma crise econômica mergulhou o país em uma turbulência política sem precedentes, com quatro presidentes em 20 dias.

A "convertibilidade", como ficou conhecida, estabeleceu, com uma canetada, a paridade 1:1 entre peso argentino e dólar no começo do governo Menem. No final dos anos 90, com desvalorizações acontecendo no Brasil (principal parceiro comercial da Argentina na região) e com o dólar e a libra ganhando força, os argentinos começaram a perder competitividade no mercado internacional e a crise econômica derrubou o PIB do país.

Políticas recessivas aplicadas ao final do período Menem e no começo da administração de la Rúa tentaram evitar uma maxidesvalorização do peso, já muito pressionado, mas só pioraram a situação do país. Com medo de fuga de capitais, a autoridade econômica confiscou as contas em dólares e pesos da população (o que ficou conhecido como 'corralito'), o que levou a manifestações massivas – os "panelaços" – em diversas regiões da Argentina, mas especialmente concentradas em frente à Casa Rosada, sede do governo, em Buenos Aires.

De la Rúa renunciou em 20 de dezembro e, até a eleição indireta de Eduardo Duhalde, em janeiro de 2002, o país trocou de presidente duas vezes. Duhalde, que havia ficado na segunda colocação nas eleições de 1999, desvalorizou o peso para 1,40 por dólar. Ao longo do ano, a divisa passou a flutuar de maneira mais livre.

O resultado foi um aumento na inflação, o crescimento da pobreza e mais desemprego. A Argentina só começou a se recuperar no governo de Néstor Kirchner (2003-2007).

Governo Macri

A crise atual, que se acentuou com a instabilidade no mercado de câmbio, foi causada, dentre outros fatores, pela inabilidade do governo de Mauricio Macri de controlar a inflação e diminuir as vulnerabilidades do país no mercado internacional. A Casa Rosada teve que recorrer ao FMI por duas vezes: quando o dólar atingiu o valor de 32 pesos e, há cerca de duas semanas, quando chegou a 42.

O país entrou em uma espiral inflacionária, acabando com todas as metas previstas pelo governo. Neste sábado (15/09), por exemplo, os custos de transporte em Buenos Aires, região economicamente mais importante do país, devem subir de 11,75 a 13 pesos, para trechos de três a seis quilômetros. Percursos de seis a doze devem sofrer aumento de 12,25 para 13,75.

O aumento programado foi comunicado pelo ministro do Transporte, Guillermo Dietrich, em abril passado, quando a medida de aumentos graduais nos preços foi oficializada.