Em seu instituto, FHC diz que democracia 'vai bem' e palestrantes discordam

Desde a vitória da presidente eleita Dilma Rousseff, em outubro de 2014, o Brasil vive um profundo processo de deslegitimação das instituições, com uso do Judiciário para atuar contra políticos, a negação do resultado eleitoral e posterior afastamento de uma presidente eleita, sem crime de responsabilidade.

Palestra sobre Constituição no Instituto FHC - Vinicius Doti

A atuação dos partidos de direita, encabeçado pelo PSDB, em consórcio com a grande mídia insuflando o discurso de intolerância e antipolítica desemboca no atual processo eleitoral em que o candidato, cuja a principal proposta é ser anti-esquerda, sem apresentar um alternativa concreta para o país e para enfrentar a grave crise econômica brasileira, é também o líder nas pesquisas de intenção de voto.

Jair Bolsonaro, do PSL, transforma o debate político num campo de batalha. De origem militar, o presidenciável gosta de usar jargões de farda para impor uma imagem de autoridade. Ele insiste em tratar a política como se um lado fosse o supremo bem e, de outro, o mal a ser aniquilado, em vez da discussão de ideias, planos de governos e projetos que atendam aos graves problemas da população.

Diante desse cenário, os tucanos que, costumeiramente acusam o PT e a esquerda de desconsiderarem a realidade para se manter no poder, tentam ignorar os fatos. Para um dos principais líderes tucanos, Fernando Henrique Cardoso, mesmo com o acirramento das tensões políticas e o crescimento do discurso intolerante no seio a nossa sociedade, a democracia e as instituições não estão ameaçados.

"A democracia está enraizada aqui, o país é muito diversificado", disse FHC em entrevista ao jornal Valor, durante evento realizado na fundação que leva seu nome, em São Paulo (SP), no último dia 18. Em debate os 30 anos da Constituição de 1988, que nos últimos três anos sofreu ataques frontais a princípios fundamentais, como retirada de direitos sociais, ataque à soberania nacional e a violações de garantias e direitos individuais.

Mas no mundo de FHC a preocupação é a agenda econômica, que ele camufla como sendo uma preocupação com a "piora das condições de vida da população".

Apesar de ser enfático em suas declarações, no evento, o tucano afirmou que o próximo presidente precisará de "liderança" para conquistar "coesão" e lidar com um "Congresso oligárquico".

O discurso de FHC destoou dos demais participantes do debate, que acreditam que o atual momento aponta, sim, uma ameaça à democracia duramente conquistada pelos brasileiros.

A professora da Faculdade de Direito da USP, Maria Paula Dallari Bucci, disse que a Constituição está segura neste momento, mas pode acabar ameaçada se "aquele candidato que prefiro não nomear" for eleito, em referência a Bolsonaro.

Aliás, os participantes foram unânimes em apontar o candidato do PSL à Presidência, e suas propostas fascistas como uma clara demonstração de ameaça à democracia.

Para José Eduardo Faria, professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), de maneira semelhante ao período que antecedeu a ditadura, é necessário "saber de novo" quem forma a cúpula das Forças Armadas e "perceber que há riscos em potencial".

Oscar Vilhena, diretor da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, foi mais enfático, afirmando que é preciso "ser radicalmente anti qualquer coisa que o Bolsonaro fala".