À véspera da eleição, leilão do pré-sal serve a interesse antinacional

Na próxima sexta (28), a Agência Nacional do Petróleo (ANP) fará a 5ª rodada de leilões para a exploração e produção de petróleo e gás no pré-sal. Para o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Felipe Coutinho, os certames contrariam o interesse nacional. Ele aponta a pressa para entregar o petróleo a multinacionais estrangeiras, às vésperas da eleição, como parte da “agenda antinacional” de Temer, que quer colocar o país em “novo ciclo colonial”.

Por Joana Rozowykwiat

petróleo - Agência Petrobras

Desta vez, serão ofertados nos leilões três blocos na Bacia de Santos (Saturno, Titã e Pau Brasil) e um na Bacia de Campos (Sudoeste de Tartaruga Verde). Juntos, representam uma área de 2.864 quilômetros quadrados, na qual o geólogo Pedro Zalan, da Zag Consultoria em Exploração de Petróleo, estima haver reservas recuperáveis de 5 bilhões de barris.

Onze empresas de vários países, entre eles, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, Noruega, França e China, estão qualificadas a participar da rodada de licitações, além da própria Petrobras.

O leilão ocorrerá a nove dias das eleições, e o crescimento do candidato do PT, Fernando Haddad, nas pesquisas, deve tornar o certame ainda mais disputado. Empresários temem que, caso seja eleito, o ex-prefeito de São Paulo possa dar fim à farra dos leilões ou mesmo alterar as regras, de maneira a preservar os interesses do Brasil, em detrimento das multinacionais.

O presidente da Aepet avalia que, do ponto de vista dos interesses do Brasil, os leilões não deveriam acontecer. “A aceleração dos leilões faz parte da agenda antinacional do governo Temer. Quer dizer, ele acelera a extração do nosso petróleo, com destino à exportação pelas multinacionais. Essa forma de explorar uma riqueza que é finita e estratégica é uma forma predatória para os interesses nacionais”, criticou, em entrevista ao Portal Vermelho.

Coutinho classificou como desvantajosas as condições em que as rodadas de licitação têm ocorrido, desde as mudanças na lei da partilha. “As condições hoje permitem que as multinacionais estrangeiras, privadas ou estatais, atuem como operadoras nos consórcios. E, quando isso ocorre, essas multinacionais se apropriam de frações maiores da renda petroleira, porque eles definem como destinar os investimentos, e fazem isso de acordo com seus interesses. A renda petroleira que fica com o Estado nacional, portanto, diminui”, resumiu.

Como exemplo, ele cita a possibilidade de as multinacionais estatais remeterem os investimentos para seus países de origem, fortalecendo as indústrias lá e, portanto, deixando de gerar empregos no Brasil. Já as multinacionais privadas podem fazer as encomendas nas empresas com as quais já possuem relacionamento nos seus países sede, maximizando os seus lucros, ao mesmo tempo em que deixam de desenvolver a cadeia de petróleo e gás brasileira.

O engenheiro se coloca contra a realização dos leilões também por outra razão. Para ele, extrair o petróleo e exportá-lo sem agregar valor não interessa ao país e reproduz a mesma lógica da exploração colonial.

“O Brasil já é autossuficiente, superavitário na produção de petróleo, e a realização de mais esse leilão vai colocar cada vez mais o Brasil na condição de exportador de óleo cru por multinacionais estrangeiras. Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo cru por multinacional estrangeira. Fazendo desta forma, estamos entrando em novo ciclo colonial, equivalente a todos os outros ciclos coloniais que o país já passou, desde o pau brasil, servindo a interesses antinacionais”, condenou.

Segundo ele, para que o petróleo contribua com o desenvolvimento do país, o Brasil precisa produzir o petróleo na medida das suas necessidades, “agregando valor ao petróleo cru, com uma indústria forte e diversificada, complexa, com setor de serviços para atender a essa demanda industrial e com domínio tecnológico avançado, de forma que a gente pudesse transformar o petróleo em valor agregado e que ele fosse distribuído a amplos setores da sociedade brasileira e, não, entrando nesse novo ciclo colonial”, defendeu.

O presidente da Aepet indicou ainda que, realizados às vésperas da eleição, os certames explicitam o “açodamento da pilhagem dos recursos naturais brasileiros”, diante da possibilidade de o povo decidir, nas urnas, mudar os rumos da política nacional.