Chomsky: Lula é o preso político mais importante do mundo

Duas semanas após visitar a Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba (no dia 20 de setembro), o intelectual norte-americano Noam Chomsky escreveu uma carta sobre o líder brasileiro, onde o definiu como “o preso político mais importante do mundo”.

Por Dario Pignotti

Chomsky - Lia Bianchini

Para Chomsky, Lula está submetido a “uma censura de carácter fascista”, e que não é aplicada nem mesmo aos chefes do narcotráfico, em complexos de segurança máxima. Faltando poucos dias para as eleições (que seriam vencidas por Lula, se fosse candidato), o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil decidiu manter de pé a proibição de acesso da imprensa ao calabouço onde o líder político está alojado desde abril passado.

Além de Chomsky, Lula da Silva já recebeu as visitas de Adolfo Pérez Esquivel (Prêmio Nobel da Paz de 1980), Massimo D´Alema (ex-premiê italiano), Cuauhtémoc Cárdenas (ex-chefe de governo da Cidade do México) e Martin Schulz (deputado alemão e ex-presidente do Parlamento Europeu), entre outras grandes personalidades brasileiras e internacionais que foram até o recinto de sua prisão, em Curitiba.

Nessa sede policial também esteve, nesta segunda-feira (1/10), o líder petista Fernando Haddad, candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Uma pesquisa do instituto Ibope, contratada pela Rede Globo – um dado que se deve considerar ao analisar a qualidade do material – indicou que o candidato da ultradireita, Jair Bolsonaro, chegou aos 31% das preferências, com um crescimento de 4 pontos percentuais em menos de uma semana, enquanto Haddad estacionou nos 21%.

Essa sondagem e todas as demais publicadas desde a semana passada projetam que Bolsonaro e Haddad disputarão o segundo turno, programado para o dia 28 de outubro.

“Recentemente, visitei Lula, o preso político mais proeminente da atualidade, uma pessoa de notável significado para a política global contemporânea”, escreveu o linguista estadunidense, ao relatar sua estância em Curitiba. A cidade é uma das capitais do Sul do Brasil, dominada por uma elite branca radicalmente antipetista, a qual se conhece com o mote de “República de Curitiba”, desde que o juiz Sérgio Moro lançou a Operação Lava Jato.

Além de condenar Lula da Silva a 12 anos de reclusão, através de uma sentença excêntrica, Moro divulgou, nesta mesma segunda-feira, a delação premiada do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, homem importante do primeiro gabinete lulista, formado em 2003. As acusações do “arrependido” Palocci (que tenta reduzir sua pena), são genéricas e carentes de documentação que as respalde, embora esse aspecto tenha sido ignorado ou menosprezado pelos intermináveis artigos publicados no diário conservador O Globo e por outros meios hegemônicos.

Como se previa, Moro perpetrou um “microgolpe” na reta final da campanha, com o propósito de atingir a candidatura de Haddad. A decisão do magistrado curitibano foi qualificada como “política” pela direção do PT, mas aplaudida por Bolsonaro – que, tempos atrás, prometeu nomear Moro como ministro do STF. Eufórico, mas ainda em repouso domiciliar, como parte da recuperação pelo ataque a faca sofrido há três semanas, ele prometeu que, se chegar à Presidência, vai “acabar com os petralhas”, termo depreciativo com o qual os neofascistas se referem aos militantes do PT.

Na opinião de Chomsky, a sentença de Moro é baseada em “delações premiadas (…) e é totalmente desproporcionada a respeito do crime alegado”, contra Lula, um “prisioneiro que está isolado em uma cela, podendo receber visitas somente uma vez por semana”.

Com o líder petista “impedido de participar das eleições, há uma boa chance de que o vencedor seja Bolsonaro (…) um autoritário, grosseiro e bruto, além de admirador da ditadura”, avalia Chomsky, na carta reproduzida pelo sítio The Intercept.

Porém, mesmo estando preso, Lula continua sendo um personagem que intimida as elites. “Para a estrutura do poder, tê-lo na prisão não é suficiente, também é preciso garantir que sua palavra não chegue ao público”.

Chomsky dedicou um parágrafo ao juiz do STF Luiz Fux, que impediu o acesso dos jornalistas à prisão onde o líder do PT está preso, e o comparou com os magistrados do governo fascista italiano que condenaram Antonio Gramsci, em 1926, alegando que era necessário “impedir que seu cérebro trabalhasse por ao menos 20 anos”.