Brasileiro médio descobre que The Wall não é sobre construção civil
O disco The Wall foi lançado há quase 40 anos, mas em 2018 uma parcela dos fãs de Pink Floyd parece ainda não ter entendido que a obra é política. Isso ficou claro no show de Roger Waters no Brasil nesta terça-feira (9), quando o ex-integrante da banda foi vaiado por uma parte dos fãs ao criticar a onda neofascista que assola o país com a ameaça de Jair Bolsonaro se tornar presidente da República.
Por Mariana Serafini
Publicado 10/10/2018 11:11
Durante o show que abriu a turnê no Brasil, Waters usou um telão para exibir frases contra a onda neofascista que cresce em várias partes do mundo e deixou claro que o representante deste retrocesso em terras tupiniquins é o candidato Bolsonaro (PSL).
O músico fez um discurso sobre o risco de crescimento do fascismo e foi taxativo com a palavra de ordem “Ele não”. Porém, uma parte do público – que pagou entre R$ 165 e R$ 810 para assistir ao show – se sentiu incomodada. O fato repercutiu rapidamente na internet e, claro, outra parcela do público apoiou a manifestação política. Vale destacar, contudo, que o ativismo de Waters não é novidade, dentro ou fora dos palcos.
Após o show, um dos líderes do movimento “Vem pra rua”, Rogerio Chequer, membro do Partido Novo, criticou o posicionamento político de Waters na internet e foi ironizado por uma internauta: “você achava que The Wall era sobre pedreiros numa obra, filhão?”, disse.
O disco, lançado em 1979, traz uma crítica ácida ao fascismo através do personagem “Pink”. Para além da obra, Waters é um crítico implacável de projetos políticos neoliberais e de austeridade. No ano passado usou sua página oficinal no Facebook para criticar Michel Temer. E mais de uma vez já se pronunciou sobre o projeto do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de construir um muro na fronteira com o México.
Além disso, Waters é um militante engajado em defesa da Palestina e encabeça a campanha de boicote a Israel para denunciar a ocupação ilegal que o país sionista promove no território palestino. Estranho seria se, ao tocar no Brasil, ele fechasse os olhos para o atual momento político.