Publicado 17/10/2018 15:23
“O governo Temer não precisa dos bancos públicos, pois não tem interesse em fazer política social”, crava o sociólogo Emir Sader, diretor do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Seria por essa razão que a atuação dessas instituições vem mudando radicalmente no Brasil após o ocaso dos governos petistas. “O futuro dos bancos públicos está diretamente ligado ao destino do Brasil.”
Para Sader, ao longo da história, os bancos públicos tiveram funções fundamentais na política do Estado brasileiro, mas durante os mandatos petistas, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil assumiram papeias ainda mais relevantes, como o de alavancar as políticas sociais. “A Caixa se tornou o segundo maior banco do Brasil na esteira do financiamento habitacional do programa Minha Casa, Minha Vida”.
Nesse período, os bancos públicos “tiveram papel dinâmico, como indutor do crescimento econômico e da distribuição de renda.” O sociólogo lembra ainda que na crise financeira de 2008, a existências das instituições estatais foram essências para resgatar a economia brasileira durante a crise financeira de 2008. “A crise uma hora era um tsunami, outra hora, uma marolinha.” Já na atual crise, o papel dessas instituições é praticamente inexistente, atenta o sociólogo.
Ele compara com a Argentina, cuja crise econômica teima em não ceder – o país novamente pediu dinheiro para o FMI. “Eles já não tem banco público. O banco argentino mais forte é dirigido por uma cooperativa ligada ao Partido Comunista. O resto é privado, com capital estrangeiro. Aí nós vemos mais uma vez a Argentina com uma dificuldade muito grande de retomar o crescimento econômico.”
Para a Sader, aqui no Brasil, com a passagem para o governo Temer, os interesses teriam mudado. Voltam, em realidade, velhas ambições. “Na campanha eleitoral de 2014, os candidatos de direita diziam que manteriam o Bolsa Família. Mas seus gurus econômicos diziam que os bancos estatais ficariam reduzidos a nada. Iam fazer o bolsa família com o Bradesco, com o Itaú. De fato, só diziam que ia manter as políticas sociais pelos prestígios.”
Com a saída de Dilma Rousseff da presidência, tem início, inclusive, uma campanha para desfazer a reputação dos bancos estatais, acredita Sader. “Veja essa campanha do Bolsonaro, que repete que ‘o PT quebrou o Brasil’. Que ‘gastou tanto na Venezuela, tanto em Cuba, tanto em propaganda [com os bancos públicos, como o BNDES]’. Nós não conseguimos convencer a massa da população que foi um governo que usou muito bem esses recursos, seja para fazer a economia crescer e distribuir renda”, lamenta. “Essa foi uma batalha que nós perdemos.”
Não é por acaso, sugere o sociólogo, que o candidato Jair Bolsonaro deve colocar no Ministério da Fazenda alguém “radicalmente ligado ao capital financeiro”. Em declarações passadas, o economista Paulo Guedes, consultor do capitão da reserva, já indicou sua intenção em privatizar o máximo possível das estatais brasileiras. Do outro lado do espectro, observa Sader, o candidato do PT já indicou que não vai colocar alguém do mercado para fazer reforma bancaria.
Emir Sader participou do debate público “O Futuro dos Bancos Públicos”, promovido no Rio de Janeiro, na terça-feira 16 por CartaCapital e pela Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae).