Esdras Gomes: O papel dos sindicalistas no combate ao fascismo

“Tendo o fascismo, não como um sistema fixo, mas um sistema que se adapta ao ambiente nacional, no caso brasileiro, ele se vestiu de liberal e conservador. Pegou bandeiras que são polêmicas na sociedade brasileira e criou uma cisão”.

Por Esdras Gomes*

O Brasil tem visto, nos últimos anos, uma ressurreição de selvageria e entulho autoritário que tem assustado as pessoas de bom senso. Dentro desta confusão, existe o fascismo ressurgindo, mas as pessoas miram mais nas experiências da Alemanha nazista do que nos escritos do principal sindicalista que se opôs ao fascismo que é Giorgi Dimitrov.

Em 1928, no IV Congresso da Internacional Sindical Vermelha, Dimitrov afirmou que “devemos saber de maneira absolutamente clara que o fascismo não é um fenômeno local, passageiro ou transitório” (1928).

Neste sentido, Dimitrov já alertava que, enquanto houver capitalismo, o perigo do fascismo existe, porque a burguesia tende a perder o controle ideológico das massas. Ele diz que “(…) a burguesia não pode conter por muito tempo as massas populares sob a sua hegemonia de classe e fazer face aos problemas de estabilização e da racionalização capitalistas com o auxílio dos antigos métodos e fórmulas da democracia parlamentar” (1928).

Um exemplo no Brasil é a luta dos trabalhadores contra a reforma da previdência, que fere os interesses dos grandes bancos. Neste sentido, o avanço das classes populares acontece naturalmente no capitalismo, com a organização da população contra as medidas de austeridade. A luta do trabalho contra o capital é uma constante e existe uma tendência de que os trabalhadores ganhem maior protagonismo ao longo dos anos em suas diferentes versões, como os sociais-democratas, socialistas ou comunistas.

Mas a luta pela maximização dos lucros continua e Dimitrov alerta de que “(…) a única saída para a burguesia é a submissão das massas pelo fascismo. O fascismo é a última fase do domínio de classe da burguesia. Todos os países passam sucessivamente pelo fascismo, mais tarde ou mais cedo – por golpe de Estado ou por via pacífica, sob a forma mais brutal ou mais delicada” (1928).

Fascismo é um braço do Capital Bancário

Uma das principais contribuições de Dimitrov é conceituar o fascismo com uma forma de opressão do Capital Financeiro. Já em sua época existia diferentes tentativas de conceituá-lo. Ele afirma que:

“O fascismo não é uma forma do poder do Estado que, supostamente, ‘se coloca acima das duas classes, do proletariado e da burguesia’, como afirmava, por exemplo, Otto Bauer. Não é a ‘pequena burguesia revoltada que se apoderou da máquina do Estado’, como declarava o socialista inglês Brasilsford. Não. O fascismo não é um poder acima de classes, nem o poder da pequena burguesia ou dos elementos deslocados do proletariado sobre o poder do capital financeiro. O fascismo é o próprio poder do capital financeiro; é a repressão terrorista organizada contra a classe trabalhadora, a parte revolucionária da classe camponesa e dos intelectuais” (1935).

O Capital Financeiro alimenta setores da população envenenando com discurso de ódio contra o proletariado e suas conquistas.

Fascismo e o discurso de ódio brasileiro

Dimitrov afirmava que “ultrapassando cinismo e hipocrisia, todas as outras variantes da reação burguesa, o fascismo adapta a sua demagogia às particularidades nacionais de cada país e mesmo as particularidades de diversas camadas sociais num só e próprio país. É assim que as massas da pequena burguesia e mesmo uma parte dos operários, levados ao desespero pela miséria, pelo desemprego e pela precariedade da sua existência tornam-se vítimas da demagogia social e chauvinista do fascismo” (1935).

Tendo o fascismo, não como um sistema fixo, mas um sistema que se adapta ao ambiente nacional, no caso brasileiro, ele se vestiu de liberal e conservador. Pegou bandeiras que são polêmicas na sociedade brasileira e criou uma cisão.

Um exemplo é a questão do aborto, que divide todos os setores sociais e até a própria esquerda. Existem pessoas na esquerda que apoiam o aborto e outras que se opõem. Mas de forma a ganhar adeptos, simplificou a ideia dizendo que quem é contra o aborto é de direita e quem é a favor seria de esquerda. Assim como simplificou uma série de questões como diversidade sexual, legalização das drogas, dentre outras.

Esta cisão vem com um discurso inflamado que evita a reflexão e impede o diálogo. É uma estratégia para ganhar adeptos e criar um exército de fascistas que se apoiam nestas bandeiras primárias como o combate às drogas, combate à violência, legalização das armas, dentre outras que estão na verdade a serviço do capital bancário e da exploração dos grandes capitalistas.

Os riscos para o movimento sindical

Os sindicalistas de 1928 liderados por Dimitrov sabiam que “(…) o perigo do fascismo para o proletariado e para o movimento sindical de classe é absolutamente permanente e crescente” (1928). Os avanços dos direitos dos trabalhadores atiçam as vontades dos grandes capitalistas abrindo o caminho para a violência. Reprimir o movimento sindical é uma palavra de ordem para garantir o lucro desmedido.

No Brasil, os anos de avanços do movimento sindical e dos movimentos sociais foram atacados por medidas como a terceirização e a reforma trabalhista, que buscam empobrecer ainda mais a população mais pobre e tirar seus representantes. Mas os capitalistas sabem que não é suficiente, porque a classe trabalhadora se reorganiza a todo o momento, avançando no conjunto da sociedade.

Tarefas dos Sindicalistas

Dimitrov afirmou que fortalecer os sindicatos é uma prioridade, e que, dentre as tarefas, estava opor-se à ideologia fascista, fortalecendo a comunicação, as greves, o recrutamento (sindicalização) dos trabalhadores, apoiar todos os trabalhadores em luta, organizar a autodefesa contra fascistas nas empresas e unificar o movimento sindical contra a ameaça que se aproxima.

Quem foi Giorgi Dimitrov?

Dimitrov nasceu na Bulgária e foi sindicalista gráfico. Participou insurreição da revolução na Bulgária em 1923. Com a derrota do movimento, foi exilado e emigrou para a Alemanha, sendo preso em 1933 e acusado pelos Nazistas de queimar o Reichstag (parlamento alemão).

Na prisão, estudou Direito e defendeu-se no tribunal. Foi absolvido e enviado para a União Soviética. Na Internacional Comunista, escreveu inúmeras obras contra o fascismo, como:

• Sobre as medidas de luta contra o fascismo e os sindicatos amarelos (1928)

• A ofensiva do fascismo e as tarefas da Internacional Comunista na luta pela unidade da classe operária contra o fascismo (1935)

• Fascismo é a Guerra (1937)


*Esdras Gomes é jornalista sindical.

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