Eron Bezerra: Haddad x Bolsonaro, ninguém pode alegar desconhecimento

 E, no futuro, se há algo que ninguém poderá argumentar é falta de conhecimento sobre os candidatos. Ninguém poderá alegar ignorância sobre a ideologia, a conduta e a prática de cada um deles, mesmo tendo presente que nenhum dos dois jamais disputou uma eleição presidencial.

Por Eron Bezerra*

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Haddad é um professor doutor da USP, um profissional com larga formação acadêmica e que agregou à sua base teórica uma larga experiência administrativa.

Foi ministro de educação e prefeito de São Paulo, simplesmente a maior cidade da América latina. Sua ideologia plural e sua prática tolerante e conciliatória são públicas e amplamente testadas no duro exercício de ministro e prefeito paulistano.

Seu compromisso com as bandeiras progressistas, com o desenvolvimento sustentável, a soberania nacional, a inclusão social e o respeito às regras democráticas já foram testadas e aprovadas.

Mesmo uma expressiva parcela de juristas independentes afirmando que Lula – líder de seu Partido – foi condenado e preso sem qualquer prova material, jamais se viu ou ouviu Haddad sugerindo o fechamento do STF ou bradando que seus adversários terão dois caminhos: sair do país ou serem presos (a execução sumária ainda não foi explicitada).

O outro, Jair Bolsonaro, é um político profissional (quase 30 anos de mandato) com formação militar. É capitão reformado do exército.

Sua longa atividade parlamentar, geralmente vinculado a partidos conservadores, tipo o PP, que ostenta o maior número de parlamentares denunciados em esquemas de corrupção, talvez explique o seu deboche no trato da coisa pública e sua aversão as bandeiras populares.

E, certamente, seus tempos de caserna talvez expliquem dois traços predominante na sua retórica: o desprezo pela democracia e o ódio das ideias avançadas, provavelmente porque associa essas ideias a derrocada da ditadura militar. Seria uma espécie de “ir à forra” depois de terem sido escorraçados do governo após 21 anos de ditadura.

Seu desprezo pelos pobres, pelos índios, pelos negros, pelas mulheres, pela democracia e pelo direito ao contraditório são tão danosos e nefastos quanto à pregação de membros de seu núcleo duro no que diz respeito à redução das despesas públicas, o fim do 13 salário, e a intolerância com os adversários.

Ganhar, para eles, se tornou uma obsessão. Recorrem a qualquer expediente, como fica evidente com o uso de caixa dois de grandes empresas, como foi denunciado pela Folha de São Paulo.

A declaração de que para fechar o STF basta um cabo e um soldado é apenas a parte mais visível da arrogância e da truculência que seria praticada num eventual governo de extrema direita de Bolsonaro.

O mutismo do STF diante de tamanha truculência não faz bem a democracia, um razão a mais para que nós, pelo voto, impeçamos que a nascente democracia brasileira seja mais uma vez golpeada.

Ninguém pode alegar amanhã que não sabia do risco, por isso acredito que o povo saberá como se conduzir.

Até o dia 28 de outubro de 2018.

*Eron Bezerra é Professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB. Assumiu recentemente a vaga de deputado federal pelo PCdoB-AM.