Consciência negra: o preconceito em São Paulo é revelado em números

De cada dez paulistanos, sete acreditam que o preconceito se manteve ou aumentou nos últimos dez anos. O dado faz parte do levantamento “Viver em São Paulo: Relações raciais na cidade”, lançado nesta terça-feira (13) pela Rede Nossa São Paulo, em parceria com o Ibope Inteligência e o Sesc. A pesquisa alerta para os problemas e injustiças raciais neste mês da Consciência Negra, 130 anos após o fim oficial da escravidão.

Marcha da Consciência Negra saiu da Avenida Paulista e segue até o Teatro Municipal 2014 - Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

A pesquisa contou com 800 pessoas entrevistadas, entre elas, 52% de declararam brancas e 44% como negras. Para os negros, houve piora no tratamento em todos os aspectos levantados, mas a percepção é diferente entre os mais ricos. Grande parte dos cidadãos com renda acima de cinco salários-mínimos – que em sua maioria são brancos – afirma que não existe diferença de tratamento. “Um dos privilégios dos brancos é perceber o racismo, se indignar e não fazer nada ou simplesmente ignorar”, afirma o professor Silvio de Almeida, que ministrou uma palestra mediada pelo coordenador da Rede Nossa São Paulo, Américo Sampaio, para comentar o estudo.

Silvio é advogado e doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo. Ele comentou a respeito da construção do racismo estrutural dentro das cidades. De acordo com a pesquisa, um dos ambientes mais discriminatórios em São Paulo é o dos shoppings centers. Para 75% dos negros, existe diferença no tratamento nesses locais, enquanto a percepção cai para 59% entre os brancos, ainda mantendo um número alto. “Não é à toa que algumas pessoas negras se sentem mal no shopping. Isso porque não é um espaço para negros. Não tem placas, mas tem relações estruturais de poder. Toda vez que estou no shopping, quando estou parado, as pessoas me pedem informação. O tempo todo, não importa a qualidade do seu terno”, conta.

“O racismo é estrutural. Não existiria racismo se as cidades não fossem construídas para produzir desigualdade”, resume. Para a ativista do Movimento Negro Unificado (MNU) e da Marcha Mundial de Mulheres Luciana Araújo, o cenário é ainda mais perturbador quando o tema diz respeito à população feminina. “Para nós, mulheres negras, a sensação de racismo é duplicada, senão triplicada, por sermos negras e mulheres.”

Luciana, que ajudou na elaboração da pesquisa, disse que “as nossas meninas negras são as maiores vítimas da violência sexual. Isto dentro de uma violência sistêmica e sem atendimento. O que temos são hospitais e centros de atendimento e apoio fechando", relata. "O que acontece nas nossas periferias não vira notícia. E quando vira, em geral, é pelo outro lado. O fato da PM de São Paulo ser uma das polícias que mais mata no mundo é parte da política que é oferecida às nossas juventudes.”

O cruzamento da percepção do preconceito com o grau de escolaridade leva Silvio a analisar que o “acesso ao ensino superior não faz a pessoa menos racista. A pessoa pode ficar ainda mais convicta de sua ignorância e de suas convicções. O racismo é estrutural no sentido de que ele é resultado de toda uma trama sociopolítica”.

Veja todos os resultados do levantamento:

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Fonte: Rede Brasil Atual