PCdoB lança nota sobre perspectivas e desafios pós-eleições no Ceará
Em reunião do Comitê Estadual realizada no último final de semana, os membros da direção do PCdoB aprovaram um documento onde analisam o cenário em que se deu as eleições deste ano, seus resultados e os desafios para os próximos. Leia a seguir, na íntegra:
Publicado 14/12/2018 17:33 | Editado 04/03/2020 16:22
As perspectivas e desafios pós-eleições 2018 no Ceará
Resistir à agenda do atraso, do entreguismo e do conservadorismo no Brasil
1. As eleições de 2018 concluíram um processo prolongado e ininterrupto de disputa que, desde as manifestações de junho de 2013, manipuladas pela direita, tinha como objetivo impedir a consolidação de um novo projeto nacional de desenvolvimento soberano, democrático e com a inclusão das massas trabalhadoras e excluídas. Já em 2014, depois de uma grande batalha política, o PSDB e seu candidato Aécio Neves, derrotados por mais de três milhões de votos, não aceitaram a decisão democrática do povo e fizeram de tudo para impedir que o novo governo pudesse cumprir com o seu legítimo mandato. A vitória de Dilma nas urnas não foi suficiente para deter aquele processo. A ilusão de alguns quanto ao compromisso com a democracia por parte das elites brasileiras e a subestimação da capacidade da oposição conservadora de comandar uma operação golpista deixaram as forças progressistas desarmadas e acuadas no primeiro momento. Por outro lado, o conteúdo e a forma como a ex-presidente tentou enfrentar a crise e conduzir o governo, afastou-o de suas bases sociais, enfraquecendo-o e isolando-o politicamente. Somem-se ainda a escalada da operação Lava Jato, cuidadosamente planejada a partir do exterior e operada por setores do judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal com foco no governo Dilma, no PT, em Lula e seus aliados, a cooptação de parcela significativa da base parlamentar governista pela oposição, além da decisiva ação da mídia oligopolizada e partidarizada. Por último, vale ressaltar, a intervenção discreta, num primeiro momento, e agora mais nítida, de importantes setores das forças armadas, particularmente do exército, que levaram ao golpe em 2016 e, em outubro último, a eleição fraudulenta do capitão da reserva Bolsonaro, fortalecendo este último segmento.
2. O PCdoB, desde o ano anterior, diante da gravidade da situação e dos riscos que o País corria, defendia uma candidatura única que representasse uma ampla frente política e social em torno de um programa democrático, de fortalecimento da economia nacional e da redução da desigualdade social. Infelizmente, disputas no seio das forças progressistas acabaram inviabilizando uma frente política mais ampla. Manuela D’Ávila, lançada como pré-candidata a presidenta pela nossa legenda, foi uma defensora determinada da unidade das forças democráticas e se transformou numa liderança de esquerda prestigiada em âmbito nacional. Ao final, em reconhecimento ao papel que desempenhou neste processo, Manuela foi convidada a compor a vice-presidência de Fernando Haddad na chapa mais ampla que foi possível articular, reunindo o PT, o PCdoB e o Pros.
3. Mesmo com a divisão da frente democrática e progressista, a vitória de Bolsonaro só foi possível, em primeiro lugar, em função do impedimento da candidatura de Lula, líder em todas as pesquisas, com condições de vencer a disputa no primeiro turno. Contou ainda com o apoio da direita internacional, evidenciado na participação de Steve Banon que comandou a mesma estratégia adotada na campanha de Donald Trump através da utilização massiva das redes sociais, inclusive de fora do país, divulgando, de forma ilegal, mensagens mentirosas (Fake News) para milhões de eleitores via Facebook e Whatsapp, entre outras plataformas digitais. Aproveitou-se também da revolta da população com a política tradicional como se Bolsonaro, ex-vereador e deputado por 28 anos, não fosse um dos representantes mais legítimos da velha política fisiológica, reacionária e conservadora. Com a ajuda da mídia tradicional e das redes sociais totalmente manipuladas, travestiu-se de candidato antissistema, contra tudo e contra todos. Na teoria, era de um partido pequeno, sem recursos e sem tempo de rádio e TV. Na realidade, foi apoiado por um grande número de políticos tradicionais ou novos dos mais diversos partidos conservadores, mesmo daqueles partidos que tinham outros candidatos. Foi ainda privilegiado por uma grande cobertura na mídia tradicional, em especial após o episódio da facada, até hoje não esclarecido, sendo ainda financiado ilegalmente por poderosos grupos econômicos que atuaram às sombras, segundo denúncias fundamentadas e divulgadas na imprensa e ainda não apuradas pela justiça eleitoral. A grande onda construída no final do primeiro turno, que objetivava garantir a sua eleição antecipada, teve como consequência secundária a vitória de vários candidatos a governos estaduais e ao senado, além da formação de uma grande bancada de deputados federais vinculados à sua candidatura presidencial, todos comprometidos com um programa ultraliberal e antinacional no que diz respeito à economia, conservador nos costumes e profundamente antipopular e antidemocrático.
4. As declarações do presidente eleito e de seus principais assessores, na medida em que vai compondo o novo governo, confirmam este perfil ultraliberal na economia e conservador na política, apontando para uma política externa submissa e subordinada aos interesses dos Estados Unidos, para o desmonte ainda mais acentuado da indústria nacional, a entrega de nossas riquezas naturais, a venda do patrimônio público a preço de banana e o agravamento das condições de vida e trabalho do povo. Redução dos investimentos em saúde e educação públicas, cortes nos programas sociais, nova redução de direitos trabalhistas, redução do Benefício de Prestação Continuada pago aos idosos e incapacitados e uma reforma da previdência espelhada no modelo aplicado pela ditadura de Pinochet, no Chile, que resultou em aposentadorias bem inferiores ao salário mínimo de lá, ou seja, uma reforma ainda mais dura do que aquela proposta pelo atual governo estão na agenda do capitão e sua trupe. Verifica-se, portanto, que o novo presidente, fiel escudeiro do atual governo na Câmara dos Deputados, será uma versão piorada de Temer, com mais submissão ao imperialismo, menos direitos sociais e mais autoritarismo. O nosso povo trabalhador, certamente, não deverá assistir passivamente a tudo isto e, mesmo diante do possível recrudescimento da violência oficial e/ou paramilitar, continuará com suas legítimas manifestações em defesa de seus direitos e do desenvolvimento soberano e sustentável do Brasil.
Vitória das forças progressistas no Nordeste e no Ceará
5. O Nordeste, região sempre esquecida pelos governos das elites brasileiras, tendo sido beneficiado por importantes investimentos e inúmeras políticas públicas dos governos Lula e Dilma e sendo governado por lideranças do campo democrático e progressista, ao contrário do restante do País, garantiu retumbante vitória destas forças na disputa presidencial e conseguiu, sem exceção, eleger ou reeleger governadores comprometidos com este projeto, a maioria no primeiro turno e por larga margem de votos.
6. No Ceará, no primeiro turno, Ciro (PDT) obteve 40,95% dos votos, Haddad (PT) 33,12% e Bolsonaro (PSL), em terceiro lugar, com apenas 21,74%. No segundo turno, Haddad obteve expressivos 71,11% contra 28,89% de Bolsonaro, o que significou uma diferença superior a dois milhões de votos. Para o governo do estado, Camilo Santana (PT), já no primeiro turno, obteve a maior vitória do País, atingindo 79,96% dos votos válidos, seu adversário mais próximo, o General Theóphilo (PSDB), alcançou apenas 11,3%. Para o Senado, além da vitória esperada de Cid Gomes (PDT) com 41,26% dos votos, o atual senador Eunício Oliveira (MDB), apoiado pelo governador Camilo, obteve apenas 16,93% dos votos, sendo surpreendentemente derrotado pelo candidato Eduardo Girão (PROS) com 17,09%, que surfou na onda Bolsonaro que cresceu em Fortaleza nos últimos dias de campanha, além do apoio que ele e outra candidata do PSDB tiveram de apoiadores de Camilo que não votaram em Haddad.
7. Dos 22 deputados federais eleitos no Ceará, a base de apoio de Camilo conquistou 18 vagas, ficando apenas quatro para a oposição, que pode crescer um pouco a partir do início dos trabalhos do Congresso em 2019.
8. Com relação aos deputados estaduais, a base de Camilo elegeu 39 das 46 vagas em disputa na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, ficando apenas sete vagas com a oposição, quadro que também pode sofrer mudanças no curso do mandato.
Os resultados do PCdoB
9. No período que antecedeu à disputa eleitoral, desde a Conferência Estadual de 2017, a direção estadual em diversas ocasiões chamou a atenção do coletivo partidário para a importância da batalha que se avizinhava. A Resolução Política da reunião do pleno de 24 de fevereiro de 2018 afirmava “Com a exigência da cláusula de barreira, a eleição de deputados federais e o aumento da votação nacional e nos estados para este cargo são decisivos para a continuidade da ação parlamentar do Partido.” e, em seguida, “No Ceará, antecipando o fim das coligações proporcionais, a partir de 2020, o Partido se prepara para lançar chapas próprias de deputado federal e estadual. Neste último caso, repetindo a experiência vitoriosa da eleição passada. Outra alternativa, a coligação com partidos de menor porte, poderia permitir alcançar os mesmos objetivos com maior facilidade e menores riscos.” e, ainda, nesta mesma resolução propugnava, “Em qualquer situação, a manutenção e/ou ampliação de nossa força nos parlamentos estadual e federal exigirá uma concentração de esforços e uma grande coesão do Partido em torno destes objetivos, conforme já registrado em nosso Balanço de Atividades aprovado na XXIII Conferência Estadual: O êxito do projeto eleitoral em 2018 está intimamente relacionado com a união do coletivo partidário, dos prefeitos, vices, vereadores e das principais lideranças de massas”. Em outra reunião do pleno, em 30 de junho de 2018, nova resolução pontuava “A partir deste ano, com o início da implementação gradual da cláusula de barreira, a eleição de deputados federais e o aumento da votação nacional e nos estados para este cargo são decisivos para a continuidade da ação parlamentar do Partido e para o acesso a recursos destinados aos Fundos Partidário e Eleitoral, além de tempo de rádio e TV nas campanhas eleitorais”. E concluía: “Assim, sem descuidar dos demais objetivos traçados para a campanha deste ano, o coletivo partidário está chamado a se unir em torno da conquista de um maior número de votos e, consequentemente, um maior número de cadeiras para a Câmara Federal. Esta questão central e decisiva exigirá de nossos comitês municipais, de nossas principais lideranças (deputados, prefeitos, vereadores, gestores e dirigentes de entidades de massa) e de toda a nossa militância e amigos um intenso debate político e a definição de metas a serem atingidas em cada cidade e cada espaço de atuação e a união e mobilização cotidianas para que possamos garantir o êxito de nosso projeto no dia 7 de outubro”.
10. Apesar das resoluções e do trabalho desenvolvido, o desempenho do PCdoB ficou abaixo do esperado. O Partido que elegera um federal e dois estaduais em 2014, traçou como meta para esta disputa a eleição de três estaduais e a reeleição de seu deputado federal, buscando ainda a eleição de um segundo nome ou, na pior das hipóteses uma boa suplência. Para isso, no período que antecedeu a batalha, foi realizado um esforço para construir chapas próprias para federal e estadual. Durante o processo, foi ficando clara a dificuldade de construção de chapa própria para federal e daí o esforço se dirigiu para a tentativa de construir um bloquinho, coligação com partidos pequenos (PPL, PMN, PPS, PRTB, Patriota e PSC, entre outros) que acabou sendo inviabilizada em função dos interesses particulares de alguns candidatos destes partidos e da ação de lideranças do PDT e de outras legendas maiores ao buscarem um melhor posicionamento para suas candidaturas. Inviabilizada a chapa própria e o bloquinho, acabamos ficando na chapa que, na nossa avaliação, nos possibilitaria melhores condições de eleger nosso federal juntos com o PT, o PV, o PP, o PR e o PMN, o que foi confirmado no final da eleição.
11. Considerando o histórico de nossas votações nas seis últimas eleições para deputado federal (ver quadro a seguir), avaliávamos que numa situação favorável a Camilo para o governo do Ceará, o que foi confirmado, e a grande influência de Lula no estado, que até a véspera de seu impedimento como candidato aparecia nas pesquisas com quase 60% das intenções de voto, o nosso bloco poderia eleger de seis a sete deputados e nós, numa situação mais favorável que a de 2014, disputaríamos o voto de opinião com um reduzido número de candidatos mais à esquerda e poderíamos atingir o nosso objetivo.
Ano Votação Posição e % em relação à votação nacional do PCdoB
1994 91.909 2ª 16,33% (Inácio)
1998 142.402 1ª 16,38% (Inácio)
2002 329.150 1ª 16,73% (Inácio)
2006 184.662 4ª 9,32% (Chico Lopes, Inácio eleito Senador)
2010 230.094 5ª 8,27% (Chico Lopes e João Ananias)
2014 142.236 5ª 7,44% (Chico Lopes e Inácio na 3ª suplência)
2018 87.714 5ª 6,13% (Chico na 2ª e Inácio na 5ª suplência)
12. Não contávamos com a onda Bolsonaro no final do primeiro turno que acabou lhe proporcionando 34,38% dos votos em Fortaleza, reforçando o voto mais conservador justamente na capital onde sempre conquistamos grande número de votos para deputado federal. Outro fator que impactou o nosso resultado foi a concentração do eleitorado progressista na candidatura de Luizianne Lins (PT), que utilizou bem a imagem de Lula em sua campanha e conseguiu grande apoio da militância de esquerda na capital. Algumas candidaturas de partidos aliados de Camilo também contribuíram para a redução de nossa votação como a do ex-secretário estadual de educação Idilvan (PDT) e a do presidente do sindicato dos professores Anízio (PT), ambos em área tradicional de Chico Lopes que, é bom lembrar, teve vários problemas de saúde, inclusive sendo submetido a duas cirurgias, o que o afastou de suas atividades durante sessenta dias no período da pré-campanha e limitou a sua atuação durante toda a campanha. E, por último, porém não menos relevante, em especial para o partido que nos propomos ser, o pequeno compromisso de importantes lideranças de nossa legenda com o nosso projeto prioritário. Alguns apoiando candidatos a estadual do partido, mas votando em federais de outras legendas (Totonho Lopes, Denis Bezerra, Genecias Noronha, Cabo Sabino, Moses Rodrigues, Robério Monteiro, Adail Carneiro, Ana Paula, Odorico Monteiro e Raquel Marques, entre outros) e, o que é pior, em outros casos sem qualquer compromisso, seja com nossos federais ou estaduais. Comportamento que deve ser tratado coletivamente com as direções municipais, levando em conta a realidade de cada local, a defesa da unidade política e orgânica do partido e o fortalecimento de nosso projeto para as próximas disputas eleitorais em 2020 e 2022. Nos casos em que houve o apoio à candidatura de Bolsonaro é urgente a abertura de processo disciplinar para afastamento desses filiados do partido.
13. Questão que compareceu em nosso debate, principalmente quando foi ficando clara a dificuldade de formação de chapa própria, foi a que diz respeito ao número de candidatos a federal, se lançaríamos apenas um ou dois ou mais nomes. A concentração em um só nome poderia facilitar a eleição, por outro lado reduziria a votação da legenda tendo em vista a cláusula de barreira. Mesmo lançando mais de um candidato, houve uma nítida concentração tanto em termos de estrutura de partido como de recursos financeiros na campanha de Chico Lopes. Se Inácio não tivesse sido candidato Lopes teria sido eleito? É difícil de afirmar. Inácio obteve 24.657 votos. Faltaram 9.241 para Chico se eleger, ou seja, seria necessária uma transferência de, no mínimo, 37,48% dos votos de Inácio para que o objetivo fosse alcançado, o que configuraria uma transferência fora do comum. Já a candidatura de Silvinha, na cota de gênero, obteve 2.239 votos, dos quais 1.625 em Fortaleza, credenciando-se como liderança jovem e do movimento LGBT.
14. Na realidade, a nossa votação ficou bem abaixo não só de nossas expectativas como dos demais aliados e analistas políticos que colocavam sempre o nome de Lopes entre os prováveis eleitos. Entretanto, mesmo com esse desempenho inferior aos resultados históricos e abaixo das expectativas o que inviabilizou a manutenção de nossa vaga na Câmara dos Deputados, o Partido atingiu 1,91% dos votos válidos para deputado federal, quase o dobro do 1% exigido pela cláusula de barreira, obtendo o PCdoB do Ceará a quinta maior votação para deputado federal entre as 27 unidades da federação.
15. Com relação à eleição para a Assembleia Legislativa, apesar de não termos conseguido ampliar a nossa representação para três deputados como era nosso objetivo, também dificultado pela maré conservadora que nos atingiu principalmente em Fortaleza, mantivemos a nossa votação e a capacidade de eleger dois deputados com a nossa própria força (190.473 votos em 2018 contra 187.906 em 2014). É preciso registrar que no processo de construção da chapa tivemos dificuldades para indicar um maior número de candidatos, além da desistência de algumas lideranças importantes no interior. Ao final, fizemos uma aliança com o PTB, tentando viabilizar a eleição de nosso terceiro nome, o que acabou não ocorrendo. A reeleição de Augusta Brito e Carlos Felipe com votações bem superiores às que obtiveram na eleição anterior demonstrou o reconhecimento da população aos seus desempenhos como parlamentares e reforçou suas lideranças em suas respectivas regiões. George Valentim, Evaldo Lima e Lula Morais, por outro lado, tiveram votações abaixo da expectativa. Registre-se ainda, entre os dez mais bem votados, o desempenho dos candidatos Gabriel Santana, Jadson, Preto Zezé, Ana Angélica e Raquel Andrade, alguns deles filiados recentemente no Partido. Importante destacar que, independente da votação de cada um, o conjunto dos candidatos se dedicou e contribuiu para o resultado obtido.
16. Ao examinarmos o resultado final da votação (ver quadro abaixo) verificamos que em Fortaleza a votação para deputado federal reduziu em 32% e para estadual em 15%.No interior, a queda para federal foi de 43%, enquanto a votação para estadual cresceu 6%. Observamos ainda que na capital a votação para federal superou em 9% a dos estaduais, enquanto no interior, a votação dos federais foi 69% inferior àquela obtida pelos estaduais.
Votação total Fortaleza Interior Ceará
2014 20182014 2018 2014 2018
Deputado federal 59.382 40.444 82.854 47.270 142.23687.714
Deputado estadual 43.735 37.268 144.171152.778 187.906 190.473
17. Observando o desenvolvimento da campanha e o resultado final, constatamos debilidades e problemas antigos, não resolvidos, no funcionamento orgânico do Partido, tanto em Fortaleza como no interior do Ceará. Precisamos investir muito no funcionamento regular das direções e bases, reunindo quadros e militantes através da ação planejada “três por quatro”, conforme resolução de nosso 14º Congresso, visando acumular forças de forma equilibrada nas três esferas: da ação política de massas, da frente institucional e da luta de ideias; levando em conta as quatro dimensões da estruturação partidária: organização, finanças, comunicação e formação. Ou seja, a ação do partido não pode se limitar às campanhas eleitorais, girando em torno de algumas lideranças que se disponham a desempenhar um mandato parlamentar. O militante deve ter uma ação cotidiana, a partir da base do partido, voltada para junto de nosso povo trabalhador, ajudando-o a construir sua experiência de luta e ampliar a sua consciência de classe.
Novo quadro político, novas exigências
18. Como já descrito anteriormente, com a eleição de Bolsonaro as forças conservadoras se sentem legitimadas para aprofundar o projeto que já vinha sendo aplicado pelo desmoralizado governo Temer. Só que agora, pelo menos no início, poderão se apoiar na votação que obtiveram nas urnas. A grande questão é: conseguirão apoio suficiente para implantar agenda tão antinacional e antipopular? Estiveram unidos para derrotar o PT, vão continuar empunhando a bandeira da falsa moralidade e do combate à corrupção, além de vender a ideia de que o PT e as esquerdas seriam os responsáveis por todos os males do País; isso será suficiente para garantir a implementação de um projeto de tal natureza?São muitas as contradições, salientando-se aquelas entre o interesse nacional e o imperialismo, entre a indústria e o sistema financeiro, entre os democratas e os que defendem o autoritarismo, entre o capital e o trabalho e assim por diante. Cabe às forças democráticas e populares, além da resistência nas ruas, a construção de uma frente política ampla, sem pré-conceitos, sem exclusivismos e sem hegemonismos, que inclua todos aqueles que se disponham a defender o País, o Estado Democrático de Direito e as necessidades de nosso povo trabalhador.
19. No Ceará, embora existam os condicionantes da situação nacional, temos um governador que saiu extremamente fortalecido das urnas, ainda no primeiro turno e, no segundo turno, garantiu uma votação expressiva para Haddad e Manuela, vencendo em todos os municípios. Junto com os demais governadores do nordeste, pode ser um dos pilares da resistência ao projeto conservador e autoritário. Apostando nesta perspectiva política, torna-se ainda mais necessária a continuidade de nossa parceria política e administrativa com o governador, baseada na valorização e respeito mútuos, visando à construção de um segundo mandato mais avançado e mais comprometido com a luta por um Ceará mais desenvolvido economicamente, menos injusto do ponto de vista social e que contribua de fato com a resistência às medidas antinacionais, antipopulares e antidemocráticas do próximo governo federal.
Partido organizado e enraizado no seio do povo
20. Mais do que nunca o Brasil não pode prescindir de um partido como o nosso. Agora, para poder desempenhar um papel mais destacado no âmbito nacional, precisamos crescer no seio do povo e ampliar nossa influência política e de nossas ideias. Isto requer um partido com maior capacidade política e ideológica, mais comprometido com a luta do povo e mais coeso e unido em torno de suas direções, nos mais diversos níveis, e de seus projetos.
21. O resultado das eleições mostrou a necessidade de o Partido, em cada município avançar na incorporação e integração de nossos parlamentares e gestores na vida orgânica e na construção do partido em cada local. Ao avaliar a batalha em cada município, é preciso verificar o comportamento e comprometimento de cada dirigente e de cada militante, tomando as medidas cabíveis visando o fortalecimento da nossa estrutura. O ato de adesão e permanência no Partido é uma decisão pessoal e voluntária, mas que exige a concordância com o nosso programa e o cumprimento das normas de funcionamento partidário expressas em nosso Estatuto.
22. Assim, atenção especial precisa ser dada ao funcionamento orgânico que necessita atingir um novo patamar, em especial na capital e nos municípios estratégicos. As direções municipais precisam funcionar cotidianamente e dirigir o partido, ou seja, planejar e controlar a ação do coletivo através de suas organizações de base. Todo militante deve atuar em uma organização de base, relacionada com a sua atividade principal. É na base que o militante se forma como comunista. Participando de uma base o militante debate a política, planeja coletivamente a sua ação, assume suas responsabilidades perante os demais, estuda o marxismo e a realidade, contribui financeiramente e ajuda a divulgar as ideias do partido. O estudo do programa, do novo estatuto partidário e das resoluções do nosso 14º Congresso precisa ser realizado visando a sua assimilação e colocação em prática com urgência por parte de cada um dos quadros e militantes. Sem substituir o funcionamento coletivo e as reuniões presenciais, é necessário utilizar os modernos meios de comunicação como um instrumento a mais para facilitar a ação militante. Precisamos de militantes mais comprometidos, organizados e dispostos a enfrentar a dura luta de resistência que teremos pela frente.
23. A partir do funcionamento regular das direções e das bases, faz-se necessário, com urgência, reforçar a nossa ação sindical, o trabalho junto à juventude, às mulheres, no movimento comunitário, junto ao movimento LGBT, indígenas e quilombolas, entre outros. E, seja atuando através das entidades de massas ou diretamente através do Partido é preciso colocar no centro da atividade a defesa dos interesses econômicos, sociais e políticos de nossa gente, priorizando as bandeira que unem e mais interessam ao povo.
24. Ademais, combinando a ação cotidiana na defesa dos interesses nacionais e populares, é necessário, desde já, construir de forma coletiva os projetos eleitorais para 2020 e 2022, quando deveremos comemorar o nosso centenário com um partido mais forte do ponto de vista político, ideológico, orgânico e com maior influência nos mais diversos municípios, no Ceará e em todo o Brasil.
25. Por fim, como consequência do resultado eleitoral, destaca-se neste momento, a necessidade de superar a cláusula de barreira o que permitirá uma atuação com melhores condições materiais e maior visibilidade no Parlamento e nas próximas eleições. Isto já vem sendo tratado pela direção nacional e deve ser resolvido com a incorporação do PPL que obteve 385.197 votos em todo o país (0,39%), elegendo um deputado federal (Bahia) e quatro deputados estaduais (Amapá, Rio Grande do Norte, Tocantins e Paraná). O PPL, oriundo do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), dissidência do PCB, tem influência no movimento sindical através da CGTB, além de atuar no movimento de mulheres e de juventude, entre outros. Este processo de incorporação vai exigir um esforço coletivo para facilitar a integração dos novos companheiros em cada estado e em cada município implicando em mudanças nestes organismos dirigentes.
26. Viveremos dias agitados no próximo período que exigirão ainda mais de nosso partido. Um país em crise, comandado por um governo com uma agenda nitidamente antinacional, antipopular e antidemocrática e que procurará ao máximo obstaculizar a resistência do povo e, particularmente, a ação dos comunistas. Por outro lado, teremos em nosso estado um governo que poderá cumprir um importante papel na resistência democrática e, com o qual, nesta perspectiva, deveremos buscar uma maior relação política. Ao mesmo tempo, em função de problemas que se acumularam nos últimos tempos que fragilizaram a nossa estrutura orgânica e rebaixaram o nível político e ideológico de quadros e militantes, o que fica exposto também pelo resultado da recente batalha eleitoral, impõe-se a necessidade de um esforço adicional de fortalecimento político, orgânico e ideológico dos quadros e militantes, tendo como referência a avançada e moderna teoria marxista-leninista, ao mesmo tempo em que recebemos os novos camaradas oriundos do PPL, que precisam ser bem acolhidos e alocados nas mais diversas tarefas de estruturação partidária, participando em conjunto de todo este processo. São muitos os desafios do presente e do futuro próximo.
Mãos à obra camaradas!
Fortaleza, 8 de dezembro de 2018
Comitê Estadual do PCdoB do Ceará