Condenado, Frota protagoniza espetáculo grotesco em diplomação

A suntuosa Sala São Paulo, no centro da capital paulista, costuma receber grandes espetáculos de música clássica e outros eventos culturais da cidade. Mas nesta terça-feira (18) o espaço serviu de palco para um espetáculo grotesco protagonizado pelo ex-ator e deputado federal eleito pelo PSL, Alexandre Frota.

Alexandre Frota - Reprodução

Frota e todos os demais deputados federais, estaduais, senadores e outras autoridades eleitos em outubro foram diplomados pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) para seus respectivos cargos. A diplomação de um sujeito com o perfil de Alexandre Frota para uma cadeira na Câmara dos Deputados já é, em si, um espetáculo deprimente, mas o deputado eleito acrescentou à cena pitadas de violência e completa falta de decoro.

Segundo testemunharam várias pessoas que estavam na Sala São Paulo no momento, Frota agrediu o militante do movimento negro, Jesus dos Santos, pelo simples motivo deste ter subido no palco onde os parlamentares eleitos estavam recebendo seus diplomas.

Jesus, que faz parte do mandato coletivo do PSOL, subiu no palco junto com Monica Seixas, que encabeçou a chamada “bancada ativista”, e foi empurrado por Alexandre Frota quando começaram os gritos de Lula Livre na plateia. A confusão se generalizou e houve empurra-empurra no palco.

Frota ainda chamou Santos de "bandido". "Para mim, ele é um bandido. Eu não gostei [da forma como ele entrou no palco]. Isso aqui é uma festa dos que foram eleitos, não para bandido, militante de esquerda ficar usando da nossa festa para promover os movimentos deles." Indagado se o comportamento de confronto físico e verbal adotado por ele condizia com um ritual como a solenidade de diplomação de eleitos, Frota respondeu: "Quero que o ritual do cargo de deputado vá para a casa do caralho", encerrou.

Nas redes sociais, Frota se gabou da atitude. “Ta pra nascer alguém do Psol que vai me calar, tentaram criar na festa mas tiveram que correr. Comigo não”, tuitou. Na sequência, voltou ao assunto. “Esses coletivos se acham no direito de criar problemas, antes as pessoas ficavam caladas. Agora será bem diferente”.

Bancada ativista aponta ato de racismo

Em nota, a bancada ativista comentou o episódio: “Nosso coletivo foi impedido de subir ao palco para receber o diploma que garante nossa posse como mandato (coletivo) de deputada estadual e fechar o ciclo eleitoral. Ao ser chamada pelo nome para receber o diploma, Monica se aproximou da escada lateral do palco e estendeu a mão às suas 8 colegas co-deputadas, para receber o diploma exatamente como construímos e vencemos a campanha eleitoral com o apoio de 149.844 pessoas”, diz o texto.

A nota afirma que quando foram impedidas, “Jesus dos Santos, militante do movimento negro, do movimento cultural das periferias e co-Deputado pela Bancada Ativista, subiu ao palco. Um ato de coragem para manter nossa coerência e respeito pelo projeto coletivo pelo qual fomos eleitas. Foi empurrado e agredido, inclusive com injúrias raciais”.

Na nota, a bancada ativista ressalta que “ao longo do evento assessores e familiares foram autorizados seletivamente para receber diplomas por ou com seus deputados, fotografar e filmar. Jesus dos Santos foi impedido e violentamente retirado, sem terem sido levados em consideração os pedidos de Monica”.

Condenado por difamação e injúria

A verborragia e agressividade de Alexandre Frota contra militantes e lideranças da esquerda já são conhecidas. Mas no episódio desta terça-feira ele provavelmente teve um motivo a mais para se irritar com integrantes do PSOL. Pouco antes da diplomação, foi divulgado amplamente pela imprensa que a Justiça Federal em Osasco (SP) condenou o ex-ator a dois anos de prisão (convertidos em prestação de serviços) e a pagar multa de mais de R$ 295 mil por ter atribuído publicamente uma fala falsa sobre pedofilia ao deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ).

A pena de prisão de dois anos e 26 dias foi convertida para serviço comunitário, que consiste em picar papel de segunda a sexta-feira, cinco horas por dia em sede da justiça federal em Cotia, cidade onde ele reside atualmente. Frota ainda terá os finais de semana limitados, tendo de permanecer em casa de albergado ou outro estabelecimento similar aos sábados e domingos pelo período de cinco horas diárias.

Em 2017, em busca de espaço midiático, Frota postou em sua página na internet uma foto do deputado Jean Wyllys atribuindo-lhe a seguinte fala: “A pedofilia é uma prática normal em diversas espécies de animal (sic), anormal é o seu preconceito”.

A juíza Adriana Freisleben de Zanetti, da 2ª Vara Federal de Osasco, que condenou Frota, confirmou em sua sentena que ficou provado no processo que o deputado do PSOL jamais declarou tal frase.

“A frase foi criada com a finalidade de difamar Jean Wyllys, causando na comunidade cibernética o sentimento de repúdio por empatia emocional com as vítimas de pedofilia”, escreveu a magistrada em sua sentença.

A juíza afirmou ainda que Frota, “ao exercer seu direito à livre manifestação do pensamento, claramente excedeu os limites constitucionais, porquanto atentou diretamente contra a honra e imagem do deputado federal Jean Wyllys”.

Como a decisão é da primeira instância, cabe recurso. Mas já se trata de uma vitória e uma tendência, tardia mas bem-vinda, de que a Justiça começa a tratar com o devido rigor os casos de “fake news” e campanhas difamatórias.