Renato Rabelo homenageia Aldo Arantes por seus 80 anos de vida

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Aldo Arantes

Aldo Arantes,

Camarada de longo percurso e estimado amigo

Conheci Aldo Arantes nos idos da década de 1960, do século passado, já na Ação Popular. Até hoje, agora no final da segunda década do século XXI, mantivemos os mesmos grandes ideais, seguimos o mesmo caminho, lutamos ombro a ombro, militamos no mesmo Partido que persiste em alcançar a perspectiva de suplantar o sistema capitalista e construir uma nova sociedade, no avançar da história, de conquistas civilizatórias, o socialismo, e o próprio futuro compartilh,ado para a humanidade. Assim sou personagem formado e participe do mesmo tempo – dos mais densos da história política do país – em que Aldo Arantes foi destacado agente desse período e, do qual, estivemos juntos em vários episódios de imensas dificuldades, revezes e êxitos.

Aldo e eu compartilhamos da saga de uma geração da qual tenho sentido orgulho de seus lutadores e lutadoras, inúmeros deixando seu estudo, sua carreira profissional, até sua família para generosamente e convictos se dedicarem integralmente na busca de saídas, de seus sonhos da grande causa progressista e civilizatória. Aldo é originário e sujeito dessa época, de revoluções, de importantes transformações no mundo e grandes acontecimentos políticos em nosso país, muito bem narrados, por ele, em sua obra: “Alma em Fogo” – iniciativa corajosa e ousada. Aí ele nos concede um legado considerável de trabalho memorial e ensaístico. Vêm a lume aspectos reveladores e significativos de período recente de nossa história. É uma referência que deita luzes para compreensão de acontecimentos importantes a partir da década de 1960, do século XX, e permite extrair lições que possam orientar a luta contemporânea.

Aldo Arantes é um destacado líder político de visão revolucionária, grande quadro partidário, respeitado nos setores progressistas e democráticos da sociedade, com imensa militância política por mais de seis décadas. Ademais, o que muito me impressiona na avantajada experiência desse camarada exemplar é a sua gigante desenvoltura em persistir na luta com inteira abnegação, reinventar sua ação e em momentos agudos, pensar, abrir e conduzir saídas. Nunca presenciei de Aldo, mesmo em momentos mais trágicos que estivemos juntos, ele se lamentar ou considerar-se impotente para superar os difíceis obstáculos que se apresentaram. Aldo Arantes tem a marca constante da ousadia e a da busca incessante do caminho e da perspectiva de nosso grande ideal, de democracia, de soberania do país, de internacionalismo emancipador dos trabalhadores e dos povos, do socialismo e do comunismo.

Resultante de uma realidade brasileira de incessante “sístole e diástole”, de fechaduras e aberturas democráticas, a trajetória de Aldo é a expressão da persistência própria em organizar e reorganizar continuamente sua vida, em função das exigências do nível da luta política e social, nunca deixando de ser devotado participe da luta democrática e popular em qualquer estágio. A sua ação política avançada e de seu compromisso com a luta emancipadora dos trabalhadores e das camadas populares tem um extenso curso: desde antes do golpe militar de 1964 e durante o regime militar, sendo o maior tempo de vida clandestina, perseguido político, sofrendo três anos de prisão política; voltando à liberdade, projeta-se como parlamentar e como constituinte de 1987/88; empenha-se como destacado combatente político, que busca novos caminhos para sua contribuição no novo tempo, a partir da vitória de Luís Inácio Lula da Silva à presidência da República, dedicando-se ao estudo e distinguindo-se na ação da questão ambiental e do desenvolvimento sustentável; contribui na questão chave do debate da alternativa acerca do socialismo contemporâneo, e mais especificamente no tema do aprofundamento da democracia, como caminho para atingir a transição ao socialismo.

Renato Rabelo, Haroldo Lima, Duarte Pereira e Aldo Arantes são fundadores da Ação Popular

Dos numerosos feitos da rica trajetória de Aldo Arantes, donde foi importante sujeito de vários acontecimentos, vincados em nossa história recente, o que situo como destaque: como presidente da UNE (1961/62), ainda muito jovem, conduziu um mandato célebre, em momento politico dramático, na crise da legalidade. Ele foi para linha de frente a fim de participar e resistir ao golpe, junto com Leonel Brizola, o grande comandante da resistência em defesa da legalidade, sendo Aldo destacada voz mobilizadora da juventude; da vasta mobilização como presidente da UNE e da sua luta por transformações significativas no âmbito universitário, liderança proeminente da Juventude Universitária Católica e de todo movimento estudantil brasileiro. Essa movimentação revolvente do status quo é que vai contribuir para as condições que permitiram o surgimento de Ação Popular (AP), a qual teve um papel político significativo e intenso, com forte influencia entre estudantes, intelectuais, operários e camponeses, num período de grande relevo da vida politica em nosso país e na luta decidida contra a ditadura militar.

AP passou por transformações seguidas, em meio a intenso debate teórico, politico-ideológico, por mais de cinco anos. Esse processo resultou do maior conhecimento do marxismo e das maiores experiências revolucionarias do século passado: a revolução Soviética e a revolução Chinesa. Tal movimento redundou na mudança da concepção da AP e da sua prática, na aproximação teórica e ideológica com o PCdoB, intensificando-se com a deflagração da resistência armada no Araguaia e se concluindo com sua incorporação ao PCdoB, em 1973. Aldo Arantes teve participação protagonista em todo esse movimento de profunda mudança, da esquerda católica para a base teórica marxista-leninista e unificação ao PCdoB.

Nesse período, é marcante na minha experiência, junto com Aldo e Haroldo Lima, na condução da expressiva maioria da AP para integração ao Partido Comunista do Brasil, em um momento dramático para existência desse Partido. Tenho hoje, a mais redobrada convicção, que essa opção e decisão históricas, foram providenciais naquele momento, no contexto da sua trajetória, na luta recorrente pela sua continuidade na longa trajetória do Partido Comunista, que dentro de poucos anos completará um centenário de existência.

Aldo Arantes, sempre, de coração em chamas. A partir do declínio do ciclo político aberto por Lula desde 2003, no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff e, sobretudo, no curso do seu processo de impeachment, Aldo se dedica à arregimentação da luta democrática e de defesa da Constituição de 1988. Nesse sentido, no âmbito da OAB e da CNBB realiza importante trabalho, inicia ampla relação com a intelectualidade jurídica democrática. Se devota com afinco à luta pela construção de uma frente ampla democrática, em um momento de grande investida das forças conservadoras. E dá passos significativos, mais ainda, no pós-golpe parlamentar de 2016, em uma nova situação, na qual as medidas de exceção crescem no âmbito do Estado de direito, e na condenação sem provas do ex-presidente Lula e na sua prisão arbitrária.

Aldo Arantes e Renato Rabelo, junto com o jurista Afrânio Jardim, em debate sobre a defesa da democracia

Empenha-se assim em fortalecer as organizações progressistas e democráticas entre advogados, juízes e juristas, como exemplos: Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ), Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC), Sindicatos de advogados e outros. E neste momento de vitória eleitoral da nova direita, de perfil autoritário e fundamentalista, que vai se estabelecer a partir de 1º de janeiro de 2019, recobra uma programação de ampla ação pela causa democrática e de defesa dos preceitos constitucionais de 1988. Tem uma agenda já sintonizada com a formação, mais uma vez, em nossa história, da resistência em defesa da democracia e da liberdade politica, do Estado democrático de direito, da soberania da Nação e dos direitos trabalhistas e populares.

No posfácio, dessa ligeira narrativa, a trajetória de Aldo Arantes nos inspira no momento atual. O futuro de luzes que carregamos em nossos sonhos foi dizimado pela ditadura estabelecida em 1964; a longa resistência advinda barrou o regime ditatorial, fez renascer parte desses sonhos durante pouco mais de uma década; em trinta anos e pouco, desde a dissolução do Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves, novamente nosso sonho é truncado, voltamos à luta de resistência pela restauração plena da democracia e dos direitos do povo, pela efetiva soberania da nossa grande Nação.

Clamamos! O futuro pelo qual dedicamos nossas vidas, situado no lugar certo do avanço da história, prevalecerá!

Longa vida a Aldo Arantes, no seu pós-oitenta anos de fértil existência!