Em carta ao povo, UNALGBT diz que será “oposição com proposição”

A União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (UNALGBT) divulgou em sua página do Facebook uma "carta ao povo brasileiro" na qual comenta o recente encontro de entidades do movimento LGBTI com a equipe de transição do futuro governo "para tratar de questões centrais e civilizatórias". Na carta, a entidade afirma que, assim como CUT e CTB, terá em relação ao governo Bolsonaro uma postura de "oposição com proposição"

"Não concordamos com a política de terra arrasada, nem do "pior, melhor". Sabemos que a conta mais pesada somos nós que pagamos no fim da história. O papel que cumpriremos durante a vigência do Governo do Sr. Jair Messias Bolsonaro é de oposição com proposição. Não nos acovardaremos nas denúncias e na resistência, ao passo que cobraremos do Governo, como representante do Estado Brasileiro, políticas para a preservação da vida e da dignidade de todas as pessoas, em especial as LGBTI", diz a carta da entidade.

Sobre a UNALGBT

A UNALGBT foi formalmente constituída em cerimônia realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo em 16 de outubro de 2015. Na ocasião, agregava lideranças entre a juventude, movimento negro e mulheres.

Dar visibilidade à luta LGBT é uma das bandeiras da entidade ao lado da criminalização da homofobia, luta pela conquista do nome social em todo o país e o combate ao Estatuto da Família. Como princípio norteador, a UNALGBT traz o debate para um novo modelo de sociedade.

“Embora sejamos uma entidade LGBT, a ideia é que a luta ultrapasse as questões de gênero e orientação sexual e se norteie pela transformação social. Queremos discutir democracia, justiça, cidadania. Lutamos por uma sociedade livre, igualitária, justa e menos preconceituosa. Não dá para pensar em uma sociedade em que as pessoas possam usar seu nome social, mas não tenham emprego, por exemplo”, explicou o presidente da UNALGBT, Andrey Lemos, na ocasião da criação da entidade.

Confira, abaixo, a íntegra da carta:

Carta da UNALGBT ao povo brasileiro

O ano eleitoral de 2018 foi marcado essencialmente pelos discursos de ódio às diferenças, avanço do conservadorismo nos direitos civis, o velho discurso hipócrita de combate à corrupção e perseguição à Esquerda e aos movimentos sociais. O resultado não surpreendeu, com a vitória do presidenciável que representa uma agenda retrógrada. É claramente inteligível que, a partir de 2019, o então governo federal aprofunde as desigualdades sociais, regionais, impondo a agenda ultraliberal e ultraconservadora, que visa a retirada dos direitos conquistados pela classe trabalhadora e pelas populações historicamente discriminadas do nosso país, como mulheres, negras e negros, indígenas e, sobretudo, nós da população LGBT e demais identidades.

A União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, participou no último 20, com dezenas de outras organizações dos movimentos LGBT brasileiros, acompanhadas do Conselho Nacional de Combate à Discriminação de LGBT – CNCD/LGBT, da reunião realizada com a futura Ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos, senhora Damares Alves.

A reunião, que contou com a presença da equipe de transição de governo, foi um encontro com o governo eleito representando legitimamente o Estado Brasileiro, para tratar de questões centrais e civilizatórias, que dizem respeito à proteção e dignidade das milhões de vidas LGBTI pelo país.

Baseados em uma firme pauta de reivindicações, de caráter público e amplamente divulgado, a Direção Executiva Nacional da UNALGBT, tomou a decisão de assinar o documento e manter-se operativa na defesa dos direitos da população LGBT e da emancipação da sociedade. Nada diferente do que temos construído nesses mais de 3 anos de fundação.

Em 2016, sem vacilações, denunciamos a iminência de um Golpe de Estado, participamos de todos os fóruns possíveis e imagináveis através da nossa militância e direção; andamos pelas pernas de milhares; nossa voz ecoou uníssona por todo o país ao gritar “Fora Temer”, pois se tratava de um governo ilegítimo colocado no poder através de um golpe parlamentar, institucional e midiático.

Denunciamos, também sem vacilação, a prisão política de Luiz Inácio Lula da Silva, o maior Presidente da história do nosso país, ainda hoje comparecendo na resistência que se faz diuturna e cotidianamente na cidade de Curitiba.

Como já tínhamos registrado, o sentimento fascista e agressivo, estava em uma crescente e tomando conta da opinião de muitas brasileiras e muitos brasileiros, potencializado no período da campanha eleitoral.

Reconhecemos, portanto, a soberania do voto popular, a decisão da maioria eleitoral do país e, por consequência, a legitimidade do presidente eleito. Este reconhecimento não implica na concordância com seus discursos, não implica em qualquer tipo de parceria entre a estrutura de Governo com a estrutura desta entidade da sociedade civil.

Não concordamos com a política de terra arrasada, nem do "[quanto] pior, melhor". Sabemos que a conta mais pesada somos nós que pagamos no fim da história. O papel que cumpriremos durante a vigência do Governo do Sr. Jair Messias Bolsonaro é de oposição com proposição. Não nos acovardaremos nas denúncias e na resistência, ao passo que cobraremos do Governo, como representante do Estado Brasileiro, políticas para a preservação da vida e da dignidade de todas as pessoas, em especial as LGBTI.

Seguiremos, portanto, a opinião da Central das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Brasil – CTB, da Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras – CUT e, de diversas outras entidades da luta sindical e social do nosso país.

Ninguém solta a mão de ninguém! Resistência!