Estrela em Davos, líder da Anisita faz críticas duras contra Bolsonaro

Kumi Naidoo está pessimista com o Brasil. Para o ativista sul-africano de 54 anos que dirige a Anistia Internacional, uma das organizações de defesa dos direitos humanos mais presentes e atuantes no mundo, os primeiros passos do governo de Jair Bolsonaro foram pouco animadores

Kumi Naidoo

Kumi Naidoo está pessimista com o Brasil. Para o ativista sul-africano de 54 anos que dirige a Anistia Internacional, uma das organizações de defesa dos direitos humanos mais presentes e atuantes no mundo, os primeiros passos do governo de Jair Bolsonaro foram pouco animadores, sobretudo no que diz respeito à liberdade de imprensa, sob risco em várias partes do mundo.

“Liberdade de associação, liberdade de reunião e liberdade de expressão são os três direitos mais fundamentais para que as pessoas possam exercer seus direitos democráticos”, afirma. “Estamos bem preocupados.”

Ainda assim, Naidoo, que começou seu ativismo combatendo o Apartheid e esteve à frente do Greenpeace por seis anos, diz que apreciaria uma chance de conversar com Bolsonaro e mostrar o porquê de suas preocupações.

Diz torcer para que ele não cumpra todas as promessas de campanha, “como 99% dos políticos no mundo fazem”, mas as semelhanças entre o brasileiro e o americano Donald Trump o levam a crer que esse cenário é menos provável.

Naidoo esteve em Davos nesta semana para participar do Fórum Econômico Mundial, onde tem sido uma das estrelas. É virtualmente impossível andar com ele pelos corredores do centro de convenções que abriga o evento sem parar a cada metro para que alguém o cumprimente, de ativistas a premiês.

Ele criticou o discurso raso e breve que Bolsonaro fez no Fórum. "Como afirmou em Davos o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de fato precisamos uns dos outros e o Brasil certamente precisa do apoio do mundo neste momento. Isso porque o povo brasileiro provavelmente enfrentará um futuro com mais repressão e menos direitos caso o presidente Bolsonaro consiga implementar a sua agenda anti-direitos humanos sem ser desafiado", comentou o líder da Anistia.

"Como já vimos, o compromisso proferido pelo presidente com o multilateralismo é contraditório com a sua determinação para a retirada do Brasil do Pacto Global para Migração da ONU e a ameaça de retirar o país do Acordo de Paris", completou.

Em entrevista para a Folha de S. Paulo, Naidoo afirmou estar bem preocupado com as atitudes autoritárias do governo Bolsonaro. "O que temos visto com líderes que usam o discurso de ódio para mobilizar simpatizantes é que, mesmo que o governo em si não faça nada, isso fortalece seguidores mais fanáticos para que façam. Crimes raciais aumentaram nos EUA e no Reino Unido pós ‘brexit’. Temos que ficar atentos", alertou.

Perguntado sobre as promessas de Bolsonaro de combater a corrupção, Naidoo comparou o mandatário brasileiro com o presidente dos Estados Unidos: "Trump disse que iria “drenar o pântano” e acabar com a corrupção [em Washington]. Bolsonaro também diz isso. Vamos ver o que ele faz com a corrupção, ainda é cedo para falar qualquer coisa positiva. Trump deixou o pântano pior", diz.

Clique aqui para ler a entrevista na íntegra no site da Folha