O drama da falta de água em Santo André

A população de Santo André, considerada a quinta mais populosa cidade do Estado de São Paulo com quase 800 mil habitantes, vem sofrendo terrível falta de abastecimento de água desde o começo da segunda quinzena de janeiro. A maioria dos bairros sofre a interrupção do abastecimento durante o dia e só no fim da noite a água retorna.

Por Marcelo Buraco*

semasa é nosso

Porém, nos bairros mais afastados e populosos, o corte no abastecimento tem chegado a 48 horas e no último final de semana, quase a totalidade da cidade ficou 72 horas sem água nas casas. Sem água nem pra beber, as pessoas tiveram que recorrer aos supermercados que no domingo estavam de prateleiras de água vazias. Nas redes sociais as pessoas relatavam que estavam escovando os dentes com água mineral, e comércios de bairros, principalmente restaurantes baixaram as portas e colocaram cartazes alegando a falta de água. A crise de abastecimento na cidade já se compara a situação enfrentada de 2014 a 2015 com a grande crise hídrica no Estado de SP.

A cidade é abastecida pela Sabesp, mas o controle da qualidade da água nos reservatórios, o tratamento final e a cobrança pelo abastecimento é da Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), uma autarquia municipal responsável pela fiscalização e gerenciamento das amplas áreas de mananciais existentes no município e região. A represa Billings que fornece grande parte da água pro Estado está dentro dos limites da cidade. A Semasa é uma empresa pública lucrativa e que garante a qualidade da água considerada uma das melhores do país.

Existe uma dívida da Semasa com a Sabesp que se arrasta desde o ano de 2000, quando o prefeito da época, Celso Daniel, não aceitando o valor exorbitante do metro cúbico de água cobrado pela Sabesp repassava pra companhia o valor da média nacional pelo metro cúbico de água. A dívida hoje chega a R$ 1,5 Bilhão. A partir de 2014 a justiça obrigou o Prefeito Carlos Grana pagar o valor da diferença cobrado pela Sabesp em juízo, mas não ordenou o pagamento da dívida total.

O atual Prefeito Paulo Serra que tomou posse a partir de 2016, propôs liquidar a dívida entregando a autarquia municipal para a Sabesp, mas enfrentou resistência dos setores organizados da cidade. Isto porque entregar a Semasa seria passar para as mãos do mercado e de acionistas o controle e fiscalização da água que é um bem público, o que acarretaria em piora na qualidade e aumento substancial nas contas, entregando pro mercado privado o lucro e patrimônio público. A Semasa tem um patrimônio avaliado em mais de 3 bilhões de reais.

Devido à resistência, o atual Prefeito não tocou mais no assunto. E com a recuperação do nível dos reservatórios no Estado, chegou a dizer que havia sido superado a crise de abastecimento de água enfrentada no biênio 2014/15.

Eis que a população Andreense se depara novamente com os constantes cortes no abastecimento sem aviso prévio. E rumores da entrega do Semasa pra Sabesp começam a ser ventilados novamente por parte da administração como forma de solucionar a crise. Aquela velha tática de depreciar a empresa pública pra entrega-la na bacia das almas pro mercado.

A pressão da população que enfrenta a dramática situação da falta de água e as denúncias na imprensa, fez com que o Prefeito tivesse que dar explicações. Ele alega que o problema não é grave, que 95% da cidade está abastecida constantemente e que a Sabesp tem enviado uma vazão de água correspondente a necessidade da população da cidade. Mas a realidade é bem diferente das explicações e a população, que até então vinha se manifestando pelas redes sociais, passa a se organizar cobrando do executivo e legislativo da cidade maiores explicações e solução para o problema.

Na última terça feira, 05 de fevereiro, uma grande manifestação ocupou a sessão da Câmara de Vereadores, e outra manifestação está sendo organizada para a próxima quinta-feira, 07 de fevereiro, a partir das 15h, na Câmara de Vereadores, pelo 'Movimento O Semasa é Nosso’, organizado por lideranças de movimentos sociais e funcionários do Semasa.

Leia o manifesto do movimento:

O PANO DE FUNDO DA FALTA D’ÁGUA EM SANTO ANDRÉ

O Movimento O SEMASA É NOSSO, formado por cidadãos e funcionários do SEMASA, vem a público denunciar a frequente falta d'água em Santo André neste início de ano, e manifestar seu apoio à população andreense exigindo que os responsáveis esclareçam o motivo do descumprimento da lei que garante acesso à água.

Governos, principalmente estaduais e municipais, devem ter a prestação deste serviço com qualidade e eficiência como prioridade. Defendemos que a utilização deste bem natural e seu fornecimento à sociedade não seja considerado mercadoria. Por isso, ao invés de gerar lucro a empresários, ela deve estar a disposição do povo. Nossas vidas dependem dela. Somos contra o sucateamento dos serviços públicos da área de saneamento, e fechar a torneira para Santo André tem como objetivo criar junto ao povo um clima favorável à entrega destes serviços à Sabesp.

A população andreense tem direito a informação e o poder público o dever de transparência. Assim, exigimos que os governos esclareçam a real situação e o que tem motivado efetivamente a constante falta d'água em Santo André, informando quais municípios estão sendo afetados; qual volume de água que está sendo fornecido pela Sabesp e se esse volume é suficiente para a demanda andreense. A população não pode ser "surpreendida" por outra crise hídrica como a ocorrida em 2014/2016, e nem pelos caprichos de quem tem o poder de fechar a torneira. Água é um bem público e essencial à vida.

Conclamamos a população de Santo André a lutar pelo direito fundamental à água. Lutar por políticas públicas e serviços públicos de qualidade e contra seu sucateamento e desmonte. Lutar pelo acesso à água é lutar por uma sociedade justa, democrática e solidária.

Venha participar de ato público contra a falta d’água em Santo André, e contra a privatização do SEMASA ou sua entrega à SABESP.

Movimento O SEMASA É NOSSO

SERVIÇO:
Ato Contra a Falta d'Água em Santo André e a Privatização
Dia 7 de Fevereiro
16h00 – Tribuna Livre da Câmara Municipal
17h30 – Ato no Paço Municipal

Manifesto: O PANO DE FUNDO DA FALTA D’ÁGUA EM SANTO ANDRÉ