Brasil abaixo de tudo, Trump acima de todos

Subserviência. Se pudéssemos resumir em uma palavra a visita do presidente Bolsonaro aos Estados Unidos, seria subserviência. Com discursos vazios de ataques ao comunismo, Bolsonaro não defendeu os interesses nacionais, ao contrário, assinou acordos que beneficiam os EUA e nada trazem de vantagens para nosso país.

Por Wadson Ribeiro*

Entidade denuncia a submissão de Bolsonaro à Donal Trump I Foto: Alan Santos/PR/Agência Brasil

O Brasil, por suas dimensões territoriais, sua economia, sua população e potenciais diversos, sempre jogou um importante papel no jogo internacional das nações. Nossa diplomacia sempre trabalhou por um país autônomo, que respeitasse a autodeterminação dos povos, que colaborasse na intermediação de conflitos e na paz mundial. Os governos passados reforçaram nossa presença na América do Sul, na África, no Oriente Médio, na China e ajudaram na construção do Brics. Essa ampliação das nossas relações internacionais levou em conta a redução da dependência em relação aos EUA e ajudou na construção de um mundo multipolar.

O Brasil não abriu mão nos últimos anos do status de país em desenvolvimento no âmbito na Organização Mundial do Comércio, pois essa condição garante ao país certas vantagens para obtenção de créditos e tarifas comerciais menores. Países como a China e a Índia que crescem a taxas muito maiores que o Brasil, nunca abriram mão dessa condição. Para ter o apoio dos EUA para ingressar na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Bolsonaro se comprometeu a abrir mão de tal status, o que vai comprometer especialmente o agronegócio brasileiro. Países como a Turquia e Coreia do Sul ingressaram na OCDE sem perder o status de países em desenvolvimento na OMC. Essa medida do governo brasileiro é esperada há tempos pelos norte-americanos, que disputam com o Brasil a produção mundial de alimentos.

Outra medida que atenta contra a soberania nacional foi o acordo firmado para uso da base militar de Alcântara, no Maranhão. O governo brasileiro permitirá o uso da base pelos EUA com poucas possibilidades de intercâmbio tecnológico. Essa medida é outro duro ataque ao Projeto Espacial Brasileiro e à possibilidade de avanços científicos e tecnológicos para o país.

Como se não bastasse, na viagem foi anunciado o fim da exigência de vistos para a entrada de cidadãos norte-americanos, canadenses, australianos e japoneses no Brasil. Bolsonaro abriu nossas fronteiras sem que o mesmo ocorra em relação aos cidadãos brasileiros quando ingressam nestes países. É como se o cidadão brasileiro guardasse uma espécie de inferioridade.

Na área militar, Bolsonaro ofereceu ajuda ao presidente Donald Trump na sua intenção de invadir militarmente a Venezuela, fazendo do Brasil uma base militar para atuação estadunidense. De forma açodada, Bolsonaro conduz o Brasil para um conflito que somente interessa ao governo norte-americano, que só está preocupado em colocar a mão no abundante petróleo Venezuelano.

Além das inúmeras bizarrices dos seus primeiros três meses de governo, Bolsonaro demonstrou nessa viagem que o patriotismo demonstrado na campanha não durou cem dias. Ele era pura peça de ficção para entregar o Brasil aos interesse norte-americanos e aniquilar qualquer possibilidade de desenvolvimento nacional, de democracia e distribuição de renda. O Brasil pode até estar acima de tudo, mas Trump está acima de todos desse governo.