Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa, critica comemoração do golpe

Para ele, as Forças Armadas devem participar da construção do país.

Aldo

O ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo (2015-2016) disse em entrevista à jornalista Maria Cristina Fernandes, colunista do Valor Econômico, que vê com preocupação a instabilidade política do país e o papel dos militares nesse momento que marca os 55 anos do golpe de 1964. Segundo ele, “é bom destacar que o golpe de 1964 foi principalmente um golpe civil, articulado por lideranças civis, empresariais, lideranças em parte até sindicais, pela igreja e construído na embaixada dos Estados Unidos”.

Aldo Rebelo falou também que os militares foram os últimos a entrar e também estão sendo os últimos a sair. “Receberam essa atribuição do presidente da República de comemorar esse golpe de 1964 e de trazer nas suas costas uma responsabilidade que, na construção (do golpe) não foi principalmente deles. Eu acho que vão pagar um preço por isso”, avaliou.

Para o ex-ministro da Defesa no governo da presidenta da República Dilma Rousseff, a defesa da tortura é inadmissível. Se o vice-presidente Hamilton Mourão e o presidente Bolsonaro homenagearam e homenageiam acusados de torturas, e a tortura em si, é preciso nesses momentos lembrar do general Osório, do general Gois Monteiro — que foi tudo no Exército, foi ministro da Defesa, foi comandante do Exército, que era o chefe do Estado-Maior na época, que foi condestável do Estado Novo, que foi comandante militar da Revolução de 1930 —, que repudiavam esse crime.

Aldo Rebelo comentou ainda a recepção entusiasmada de Mourão na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “É possível que já esteja em curso uma espécie de bolsonarismo sem Bolsonaro, uma espécie de bolsonarismo perfumado, de salão, mas com a mesma agenda. E o problema do Brasil é exatamente a agenda. Não são os personagens, ou os que lideram a agenda”, diagnosticou.

“Reforma” da Previdência

Ele avaliou que há uma disputa de poder, na qual a Operação Lava Jato cumpre também o seu papel. “Há uma espécie de disputa entre poderes e entre instituições. Dentro da própria Lava Jato, entre esse grupo de Curitiba e a procuradora-geral da República, entre essa Lava Jato e o Supremo, entre a Lava Jato e o Congresso”, afirmou. Para ele, isso não é a busca apenas de espaço de uma instituição. É uma disputa pelo poder, pelo protagonismo, “pelo destino que essas corporações resolveram assumir”. Segundo Aldo Rebelo, “independentemente dos méritos e das virtudes da Lava Jato no combate à corrupção”, ela resolveu disputar poder e “isso gera uma tensão institucional, que é prejudicial ao país”.

Para o ex-ministro, “as Forças Armadas precisam participar da construção do Brasil, mas da construção material, científica, tecnológica, da construção civilizatória, da construção dos valores nacionais, que vivem aí sendo atacados”, complementando que “virou moda atacar a memória do país”. “Essas instituições têm o papel de proteger esse passado, essa história, e de ajudar a construir o Brasil. Agora, o outro protagonismo é se tornar parte da disputa política, que não é uma coisa boa nem para o país nem para a coesão da sociedade e da nação em torno das suas instituições armadas”, afirmou.

O último ponto da entrevista foi a “reforma” da Previdência dos militares. “Talvez seja o caso de se fazer, na reforma da Previdência, mais um sacrifício, a renúncia a alguns direitos, como todos vão fazer, como o governo quer que faça, mas no momento seguinte é preciso que se rediscuta a remuneração dos militares, porque isso também gera uma evasão de talentos, de inteligências que não querem ir para as Forças Armadas”, diagnosticou, enfatizando que será necessário um pacto para que as duas coisas sejam feitas.