Alice Portugal convida ministro da educação a pedir demissão do cargo

A mais nova polêmica promovida pelo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, segundo a qual ele anuncia que pretende alterar os livros didáticos para ignorar que houve golpe em 1964 e ditadura no Brasil, causou perplexidade no Congresso nesta quinta-feira (4).

O obscurantismo se aloja no Ministério da Educação - Reprodução da internet

“O ministro Vélez não oferece qualquer segurança para a educação no nosso país. É preciso que ele se demita. Temos um cronômetro dos desastres desta gestão. Desde o dia 2 de janeiro, ele tem tomado medidas descabidas e agora toma a decisão de mudar a natureza da história nos livros didáticos brasileiros”, disse a parlamentar, que classificou como absurda mais uma das ideias do ministro.

Segundo ela, ao invés de se especializar em devaneios, o ministro deveria garantir a gestão do MEC, que está acéfala e que não dialoga com as redes estadual e municipal no país. “Em prol da educação, ele deveria sair imediatamente do comando da pasta”, diz.

“Já temos um grande clássico que é "O triste fim de Policarpo Quaresma", mas em breve alguém provavelmente escreverá "O triste fim dos ministros do Bolsonaro" para narrar o quão pequeno perto do Brasil esses sujeitos são”, reagiu o líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (RS).

Em entrevista ao O Globo, o professor de História da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), Carlos Fico, um dos principais pesquisadores sobre o período no Brasil, o ministro tenta negar o inegável. “É um insulto à inteligência e uma afirmação da ignorância. É tentar negar o que é inegável”, diz ele.

Ele lembra que o ministro distorce a história para defender o indefensável. O primeiro fato foi a declaração do Congresso da cadeira vaga de presidente da República, o que não obedecia à Constituição da época. Tanto que em 2013, o Congresso anulou a sessão que afastou João Goulart.

O segundo fato se refere a eleição indireta de Castelo Branco, primeiro presidente militar, que foi feita após a cassação de congressistas.

“O golpe de 1964 foi um golpe violento que teve um derrotado: a sociedade brasileira. Apesar de marcos como a ´Marcha da Família com Deus pela Liberdade´ e o apoio de diversos setores, como a Igreja e a imprensa, que depois se tornaram críticas à ditadura, não existiu um clamor pela derrubada de Goulart”, lembrou.

O pesquisador lembrou que momentos antes do golpe setores conservadores encomendaram uma pesquisa que apontava a vitória de João Goulart nas eleições de 1965 e, na semana anterior ao golpe, o seu governo tinha 70% de aprovação. A pesquisa, que foi escondida, só foi revelada pela Universidade de Campinas (Unicamp) em 2013.