Palestina: Sangue e resistência

Por Jorge Cadima, de O Avante!

Palestina

Mais um fim-de-semana sangrento na Palestina. Dezenas de milhares de palestinos manifestaram-se, exigindo os seus inalienáveis direitos nacionais. Israel reprimiu, matando cinco manifestantes e ferindo mais de 200. Fontes do Ministério da Saúde palestino na Faixa de Gaza informam que pelo menos 24 manifestantes foram feridos a tiro na cabeça ou pescoço. São crimes de guerra deliberados. É assim há um ano, desde que no Dia da Terra (30 de março) de 2018 começou a Grande Marcha do Retorno. É assim há mais de sete décadas, desde a fundação do Estado Sionista sobre os escombros da Nakba (Catástrofe) de 1948.

O Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU nomeou uma Comissão de Inquérito independente para investigar a sangrenta repressão israelita contra a Grande Marcha do Retorno. Em 22 de março o CDH aprovou o seu Relatório, confirmando que entre 30 de março e o fim de 2018, foram mortos 189 palestinos, dos quais 183 a tiro, pelas “forças de segurança de Israel”. De entre os feridos, em número superior a 20 mil, mais de 6.100 foram atingidos a tiro. Segundo o Relatório, “vítimas que se encontravam a centenas de metros das forças israelitas e visivelmente empenhados em atividades civis foram alvejados […]. Jornalistas e pessoal médico claramente assinalados como tal foram atingidos a tiro, tal como crianças, mulheres e pessoas com incapacidades”. A Comissão fala em “violações do Direito Internacional” e pede que os responsáveis sejam enviados a tribunais internacionais e sancionados. Na votação do Relatório houve 8 votos contra e 15 abstenções, de governos de países que enchem a boca com palavras como “democracia” e “direitos humanos”: países da Otan e da UE e governos seus vassalos, chegados ao poder pela via do golpe, como na Ucrânia e no Brasil. O Ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, Jeremy Hunt, passou um cheque em branco a Israel. Desagradado por o CDH ter sempre a situação nos territórios palestinos ocupados nas suas Ordens de Trabalho, afirmou que o governo inglês “opôr-se-á a todas as iniciativas do Conselho de Direitos Humanos da ONU para debater abusos de direitos humanos na margem Ocidental ou Faixa de Gaza” (The Jewish Chronicle, thejc.com, 21.3.19).

Israel é um agente de guerra, morte e agressão no Oriente Médio. Foi sempre ponta de lança dos seus patronos imperialistas para a ingerência na região do planeta mais rica em recursos energéticos. Mas estamos perante uma viragem. O governo mais extremista da História de Israel tem luz verde de Trump para todos os seus crimes. Décadas de resoluções da ONU são rasgadas com impunidade pelos EUA (o “nosso aliado da Otan”, com quem “partilhamos valores”). É assim sobre Jerusalém, sobre o Irã, agora na tentativa de legitimar a ocupação por Israel, há mais de meio século, dos Montes Golã sírios. Nas eleições deste mês em Israel, os candidatos e partidos sionistas disputam entre si o lugar de maior “falcão”. Advogam abertamente a anexação formal da Margem Ocidental. Ameaçam o Irã. Podemos estar em vésperas de novas Nakbas.

Mas a resistência heroica dos povos do Oriente Médio, com destaque para a Palestina e Síria, é fonte de inspiração para os povos de todo o mundo. Aponta o caminho para alcançar a viragem na situação mundial, de que a Humanidade precisa tão urgentemente.