A Escola pede Paz: Reflexões sobre a educação pública e a violência

O momento político atual, onde o Brasil é um terreno fértil ao ódio, a insegurança e a falta de credibilidade constata um período sombrio para a democracia brasileira. O governo Bolsonaro, entrando no seu quarto mês de atuação, é a prova da desestabilidade da dificuldade do presidente sair da postura de um candidato para a condição de um líder.   Por Lais do Vale*

pedro gorki e lais do vale

Com uma eleição assentada na perseguição, disseminação de notícias falsas e discurso anticorrupção, o governo em pouco tempo se mostrou fraco, desalinhado e incapaz de realizar articulações para aprovação de seus projetos, a exemplo da Reforma da Previdência, um de seus maiores anseios, que ainda não foi aprovada pela falta de credibilidade.

Bolsonaro não passa seriedade, governa quase que estritamente pelas suas redes sociais, especificamente o twitter, no qual dá declarações totalmente infantis e sem argumento, além de provocações a outros políticos e movimentos sociais. Para além disso, é incapaz de tomar decisões e mantê-las, é um eterno ‘’volta-atrás’’, não passando austeridade em suas posições e decisões acerca do país.

Em pouco tempo, já passamos por grandes polêmicas, desde as laranjas de sua família, fim do Ministério do Trabalho, caso Queiróz, defesa do porte de armas, declarações de Paulo Guedes, até o encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deixando explícito sua vontade de tornar o Brasil totalmente dependente do capital internacional e ao entreguismo norte-americano.

No estado de São Paulo, governado por João Dória, declaradamente fã e seguidor das ideias do presidente, eleito com o slogan ‘’BolsoDória’’, faz reformas do Palácio do Bandeirantes custando R$ 2 milhões de reais, enquanto passamos por alta crise de segurança e saúde mental dentro da educação. Um governo que trouxe 7 ex-ministros de governo Temer para trabalhar na rede estadual, deixa nítido seu projeto político. O governador declara seu total apoio a Reforma da Previdência, realizou cortes nas secretarias do estado, foi condenado a pagar R$ 782,3 mil por remoção de grafites enquanto prefeito de São Paulo, e atualmente voltou atrás na decisão de corte na rede de pólos do projeto Guri.

Enquanto isso no município de São Paulo, há resistência contra o corte de verbas para as escolas municipais e creches feito por Bruno Covas e a esperança de barrar as reformas de nível municipal, como o Projeto de lei 621/2016, intitulada como SAMPAPREV.

E o que tudo isso impacta na educação pública?

Em tudo. Nosso cenário educacional é caótico. A maneira como o governo administra o Ministério da Educação é assustadora, Ricardo Vélez Rodriguez, acredita que a política educacional mais coesa foi durante o período de ditadura militar. Defende o projeto de lei ‘’Escola sem partido’’ com unhas e dentes, já em declaração, disse que o projeto é uma ‘’providência fundamental’’ para a educação. Além de declarações polêmicas acerca do papel das universidades públicas brasileiras e o sobre o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no qual, atualmente, passa por crise e incerteza sobre sua aplicação.

Vélez deixa claro sua defesa de ideias conservadoras e uma crítica feroz ao que define como “marxismo cultural”. Para ele, a ideologização alinhada à esquerda está presente em “instituições de Educação Básica e Superior”. No âmbito estadual, o governo Dória mantêm a defesa da redução da maioridade penal e deixa 2,5 milhões de estudantes sem professor em sala de aula. Depois do caso do massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano/SP o governo entrou em um dilema de como lidar com os casos de ameaças e violência nas escolas públicas paulistas.

É claro que o caso em Suzano não pode ser visto isoladamente, a violência nas escolas estaduais de São Paulo é algo que chama atenção de qualquer cidadão comum, segundo pesquisas, a cada 15 horas uma arma é achada em instituições de ensino, são 2.351 casos de posse ou encontro de armas e objetos perigosos entre 2014 e 2017. Após o caso do Raul Brasil, ocorreram denúncias em massa de ameaças.

Especialistas explicam um fenômeno chamado efeito "contágio", quando a divulgação massiva de informações sobre o crime e os autores pela imprensa ou pelos cidadãos nas redes sociais inspira outros jovens a buscar a mesma notoriedade. Tivemos por aqui, por exemplo, casos em Barueri, onde um estudante foi levado da sua escola preso pela polícia civil depois de denúncia e ameaças de ataque. em Santo André, onde o Grêmio Estudantil registrou suposta brincadeira de estudantes que iriam ‘’matar todo mundo’’ dentro da escola, e o recente caso em uma escola da Zona Leste de São Paulo onde estudantes estouraram uma bomba dentro da instituição escolar.

O governo do estado não sabe lidar com isso. Ao mesmo passo que dezenas de estudantes foram levados presos de suas escolas por denúncias de ameaças, sabemos que este não é o caminho legal, nem viável, para este tipo de situação, apenas causa um sentimento de falsa segurança social. Medidas preventivas também foram tomadas, como uma linha de telefone direta entre as escolas e a base de operações da Polícia Militar (PM) e a aplicação da vigilância solidária nos bairros, decisões da Secretaria de Segurança Pública do estado. Também foi citado, em audiência pública realizada pela OAB SP dia 28/03 (quinta-feira), a inclusão de psicólogos no núcleo de apoio pedagógico escolar, composto por psicopedagogos e assistentes sociais.

Qual a saída para isso tudo?

É o que a sociedade pergunta, os pais, estudantes e comunidade que vivem inseguras e com receio de voltar às suas atividades cotidianas, vivemos no país onde o presidente defende o porte de armas como projeto de segurança da população, mas sabemos que isso foge da realidade do povo brasileiro. A especialista em linguagem e adolescentes, psicóloga Amanda Mont'Alvão, explica que essa cultura de armas se associa a fantasias criadas pelos jovens de conseguir a atenção da sociedade pela produção de ameaças de atos violentos.

Depois de Suzano, abre-se intensos debates sobre a segurança dentro das escolas, há quem diga que armar os professores e funcionários resolveria o problema, ou que um policial militar dentro da escola evitaria casos semelhantes.

Não devemos cultuar nem perpetuar a cultura do ódio, violência contra violência não é a saída que o povo merece. É necessário pensar a longo prazo, como a educação sendo um instrumento de transformação social, precisa-se pensar em saúde da juventude brasileira, a exemplo, projeto de psicólogos fixos em nossas escolas, para atender os estudantes e os próprios professores das instituições.

Porém, a paz nas escolas perpassa por questões mais abrangentes que isso. Paz é garantir uma instituição de ensino democrática, com eleições diretas para diretor, é fomentar o debate sobre livre organização estudantil, é garantir o cumprimento dos direitos estudantis, como os financiamentos da educação, compreendendo que uma educação pública de qualidade evita e previne um casos psicológicos. A escola precisa ser um ambiente não só de aprendizado acadêmico, mas de formação de um ser social, um espaço livre e agradável para convivência.

Quando pedimos paz, pedimos investimento, pedimos seriedade com a situação precária das escolas estaduais paulistas, pedimos rede de saúde nas nossas instituições, pedimos debate sobre os assuntos que permeiam e assombram a juventude. A educação não é mercadoria e um objeto a ser tratado de maneira simplista.

A escola, a juventude e os estudantes pedem paz!