Três eventos pela soberania dos povos

 A Assoc. Cultural José Martí (ACJM-ES), o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta Pela Paz (CEBRAPAZ-ES), o Núcleo do Barão de Itararé no ES, o Comitê Capixaba pela Paz e Autodeterminação do Povo Venezuelano e o Núcleo Diversidade e Descolonização do Progr. de Pós-grad. em Letras, Mestr. e Dout.-UFES realizarão nos dias 12 e 13 de abril, a IIIª Convenção de Estadual de Solidariedade com Cuba, o IIº Encontro Estadual de Blogueiros e o Iº Encontro Capixaba pela Paz na Venezuela.

Encontros pela soberania

 Claudio Machado*

Os três eventos serão realizados concomitantemente, considerando a importância de unificar as iniciativas das diversas organizações populares que lutam pela democracia, em defesa da soberania dos povos, pela paz mundial e pela democratização dos meios de comunicação e fim de seu monopólio, como condição fundamental para a construção de sociedades livres e justas.

 Por isso mesmo, o tema central dos três eventos será: “a influência da mídia oligopolizada contra a luta pela emancipação dos povos e sua soberania, em particular os exemplos em curso vividos por Cuba, Brasil e Venezuela”. 

 Cuba vive a quase 60 anos sob permanente ataque imperialista. Um dos episódios mais marcantes dentre as inúmeras investidas imperialistas à pátria de José Martí, foi a tentativa de invasão do território cubano pela Baía dos Cochinos, quando, em Playa Girón ocorreu a histórica vitória da revolução invencível sobre o invasor.  Por volta de zero hora do dia 17 de abril de 1961 (Ano da Educação), começou, em Praia Girón e Praia larga, o desembarque de 1.500 mercenários pagos e treinados pela CIA na América Central (Guatemala e Nicarágua), com apoio marítimo, aéreo e lançamento de paraquedistas. Pelotões de observações do batalhão 399 das milícias nacionais revolucionárias e das milícias camponesas enfrentaram os agressores, deram o alarme e retardaram o avanço inimigo. O comandante em chefe, Fidel Castro Ruiz, ordenou a mobilização dos efetivos para a zona do conflito e transferiu-se para a área da invasão para dirigir pessoalmente o contra-ataque, na linha de frente das operações. Os alunos da Escola de Oficiais da Milícia e dos batalhões de milícia constituíram a força inicial de choque que derrotou em Pálpite os mercenários, forçando sua retirada e rendição.

A partir daí o infame bloqueio econômico, comercial e financeiro, que já havia iniciado em outubro de 1960, foi ampliado e aprofundado, criando gigantescas dificuldades para o desenvolvimento de Cuba, na tentativa de inviabilizar o processo revolucionário, com a esperança de que o povo cubano possa se revoltar contra seu governo, pelas duras condições de vida impostas pelos efeitos nefastos do bloqueio. A mídia empresarial estadunidense e mundial tratou de construir uma narrativa única sobre os episódios de agressão estadunidense à Cuba, mentindo e manipulando a verdade para dar às ações imperialistas dos Estados Unidos o caráter de ação humanitária, defesa da democracia e todas essas denominações hipócritas ao único e verdadeiro significado para esses falsos motivos que é a agressão espúria à soberania dos povos, sempre em favor dos interesses das grandes corporações capitalistas estadunidenses e europeias.

Também no Brasil acompanhamos a escalada da investida da mídia empresarial oligopolizada contra os governos populares e progressistas eleitos a partir de 2002, construindo narrativa única de ataques diários, mentindo ou distorcendo fatos, sempre com o objetivo de desqualificar ações governamentais de interesse popular (e de desinteresse das oligarquias nacionais), na tentativa de criar um senso comum negativo contra os governos de Lula e de Dilma e seus principais líderes. Presenciamos, ao longo dos 14 anos de governos progressistas, uma escalada de ataques da grande mídia, que se intensificou a partir da lava jato e atingiu seu auge durante o processo fraudulento do impeachment da presidenta Dilma e, em seguida, durante a farsa policialesca e jurídica da Lava Jato, iniciada em 2014 e que culminou com a prisão do ex-presidente Lula, cujo único objetivo foi impedir que pudesse concorrer novamente à presidência da república, afim de garantir a eleição de alguém comprometido com a pauta de interesses da elite econômica brasileira e mundial, em especial com os interesses das corporações petrolíferas e financeiras, ávidas pelo controle da Petrobrás e por quase 50% do orçamento da união vinculado à especulação com a dívida pública. Por isso mesmo, os direitos do povo, conquistados ao longo de décadas de duras lutas, são hoje atacados impiedosamente desde o golpe que afastou a presidenta Dilma, com o único objetivo de aliviar o orçamento público e garantir os ganhos estratosféricos com a especulação financeira sobre os títulos da dívida pública. Em grande medida isso explica os crescentes lucros dos bancos, mesmo em período de tão longa e profunda crise econômica. Esse objetivo foi alcançado com a vitória eleitoral da extrema direita, alçada ao governo federal por intermédio de um de seus representantes mais radicais, o ex-capitão Jair Messias Bolsonaro. Com isso, o Brasil caminha a passos largos para se tornar uma espécie de colônia do imperialismo estadunidense.

 Mas é para a Venezuela que os principais canhões da mídia empresarial mundial, inclusive a brasileira, estão voltados, num ataque incessante com mentiras e distorções, buscando legitimar para a opinião pública as agressões estadunidenses de todo tipo.

 Há 20 anos, desde a primeira vitória eleitoral de Hugo Chaves e do início do processo revolucionário bolivariano, que o grande capital internacional, por intermédio e sob a coordenação do governo estadunidense, empreende uma ofensiva ideológica, psicológica e política sobre a Venezuela, tentando desestabilizar e derrubar o governo daquele país. Além da permanente “blitz” da narrativa única imposta pelos grandes meios de comunicação, vários outros artifícios foram utilizados, até mesmo um golpe civil-militar de duração efêmera, que afastou Hugo Chaves por poucos dias, e logo foi rechaçado; o terrorismo das guarimbas; a sustentação de um fantoche, Juan Guaidó, que se autodeclarou presidente da Venezuela, sem nenhum voto; mais recentemente, no dia 07 de março, o episódio da sabotagem da usina hidrelétrica de Guri, que fornece 80% da energia consumida na Venezuela, e; finalmente a tentativa de aplicar a “solução final” do receituário de uma guerra híbrida, que é a ofensiva militar, propriamente dita, artifício que está sendo cogitado pelo governo estadunidense como única forma capaz de deter a revolução bolivariana, com o fracasso dos outros artifícios. Para os falcões imperialistas vale tudo para impor um governo fantoche, subserviente e a partir daí assumir o controle das maiores reservas de petróleo do mundo e as que estão mais próximas, muito próximas do território estadunidense.

 Estes três exemplos demonstram inequivocamente que os grandes meios de comunicação são um componente estratégico e determinante, dentro do conjunto de ações imperialistas que fazem parte do manual das Forças Especiais do Exército Estadunidense, que trabalha o conceito de “Uncoventional Warfare”, Guerra Não Convencional, em português, chamado também de guerra híbrida. É um modelo de intervenção imperialista que usa de muitas alternativas para desestabilização e derrubada de governos de esquerda ou simplesmente soberanos, mas que não se submetem aos interesses estadunidenses.

 Para abordar esse tema tão atual e a importância estratégica da luta pela democratização dos meios de comunicação como fator fundamental para a luta pela democracia, pela emancipação e soberania dos povos é que contaremos com a participação dos seguintes palestrantes:

 Antônio Mata Salas, Consul para assuntos de comunicação do Consulado de Cuba em São Paulo, que falará sobre a usina de mentiras e distorções da verdade praticada há seis décadas pela mídia mundial em especial a estadunidense, contra a revolução cubana.

 Altamiro Borges, jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa, Barão de Itararé, cuja abordagem tratará do papel exercido pela mídia empresarial brasileira na escalada golpista em cursos desde o primeiro governo Lula, que culminou com o impeachment fraudulento da presidenta Dilma.

 Edgar Alberto González Marín, Cônsul Geral da República Bolivariana da Venezuela no Rio de Janeiro, e M.C. Freddy Efraín Meregote Flores, Encarregado de Negócios da Embaixada da República Bolivariana da Venezuela na República Federativa do Brasil irão abordar sobre o atual estágio da escalada de agressões perpetradas pelo capitalismo mundial, em especial o estadunidense, na tentativa imperialista de derrubar o legítimo e legal governo bolivariano liderado por seu presidente Nicolas Maduro, eleito em eleições democráticas e amplamente fiscalizadas por organizações e lideranças mundiais.

 Luis Eustáquio Soares, pesquisador do CNPq, PQ e professor Associado junto ao Departamento de Letras e ao Programa de Mestrado e Doutorado em Letras, PPGL da UFES, membro da coordenação estadual do CEBRAPAZ, que tratará do tema sob o enfoque do modelo de realização do ultra imperialismo estadunidense;

 Marina dos Santos, Assistente Social e Mestranda em Desenvolvimento Territorial. É membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, MST e da Via Campesina do Brasil, duas organizações populares brasileira dentre as mais solidárias com a luta do povo venezuelano pela sua soberania.

 Teremos também o lançamento de dois livros cujos conteúdos – cada um a seu modo, cada um com sua abordagem – trazem grande contribuição e reforço para a luta pela emancipação dos povos: 

 O ultra imperialismo americano e a antropofagia matriarcal da literatura brasileira: o triunfo do realismo em Pagu, Oswald e José Agripino de Paula (da biopolítica demagógica à biopolítica democrática), de Luis Eustáquio Soares. “O ultra imperialismo americano se distingue do sistema colonial europeu (e também do período Inter imperialista da disputa do planeta) por ter realizado mundialmente esse projeto de transformação da cultura em um modo de produção material, criador de estilos de vida. A indústria cultural do ultra imperialismo americano se instalou no cotidiano dos povos e, na atualidade, com as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, NTIC, conseguiu desenvolver ‘um poderoso sentimento alternativo do próprio processo humano constitutivo’’’. Luis Eustáquio Soares é pesquisador do CNPq, PQ. Se dedica exclusivamente às atividades de docência e pesquisa na Universidade Federal do Espírito Santo, atuando como Professor Associado IV junto ao Departamento de Letras e ao Programa de Mestrado e Doutorado em Letras, PPGL. É também membro da coordenação do núcleo capixaba do Cebrapaz e do Comitê de Estadual de Solidariedade com a Venezuela. Suas atividades e produção intelectual dão ênfase à Literatura Brasileira e da América Latina, enfocando principalmente os seguintes campos interconectados: literatura e realismo, literatura e psicanálise, literatura e filosofia, Literatura e Sociologia, Literatura e revolução, Literatura e abstração financeira, alteridades significantes e alteridades pós-significantes, desdifereciação entre a cultura e a economia, modelo de realização do imperialismo europeu, modelo de realização do ultra imperialismo americano, imperialismo mundial integrado.

 Enseñanza de lengua española en una práctica sociocultural a través de canciones – Español Caribeño, de Gláucia Lima. O livro, resultante de tese de doutorado da autora, tem prólogo e revisão do Espanhol Caribenho, de filólogos e linguistas de Cuba. Obra que, além de revelar coerentemente os fundamentos teóricos (filosóficos, pedagógicos, didáticos) da utilização da canção no ensino de espanhol como língua estrangeira (E/LE), nos oferece as bases teóricas e as orientações necessárias para a aplicação de uma metodologia baseada na realização de atividades práticas de comunicação no âmbito educativo aplicável em qualquer idioma. Porém ainda mais, um valor fundamental nesta metodologia está em suas potencialidades para contribuir o desenvolvimento da criatividade em estudantes e professores. Gláucia Lima, residente em Fortaleza, Ceará, é mestre e doutora na língua cervantina; Especialista em Planejamento Estratégico, professora de espanhol e auditora fiscal. Vice-presidente da Casa de Amizade Brasil / Cuba – Associação José Martí, no Ceará, é Coordenadora do FMFi – Fórum de Mulheres no Fisco, organização social que tem em seu ideal, a igualdade de gêneros. A escritora é também Presidente do InsTI – Instituto Tonny Ítalo, Organização criada após o assassinato do filho de mesmo nome, onde são realizados projetos voluntários, sociais e comunitários. Mantém o blog: Ser ¡Voz!