PCdoB ergue suas bandeiras de luta em homenagem a Elzita Santa Cruz

Faleceu hoje aos 105 anos dona Elzita Santa Cruz. Mãe do desaparecido político Fernando Santo Cruz lutou por cerca de 50 anos em busca do filho assassinado pela ditadura militar. Percorreu quartéis e prisões, enviou cartas a autoridades, procurou ajuda até da Anistia Internacional e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, motivou a construção do Movimento pela Anistia em Pernambuco. Sem sucesso. Morreu sem saber o paradeiro do filho.  

PCdoB ergue suas bandeiras de luta em homenagem a Elzita Santa Cruz - Alexandre Severo

Ao tomar conhecimento da morte de dona Elzita, dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) divulgaram notas de pesar nas quais ressaltam o espírito guerreiro, a bravura, a determinação e o desvelo como mãe e mulher desta também militante política.

“Aos 105 anos dona Elzita morreu sem ter o direito de enterrar o filho, desaparecido político da ditadura. Sua dor e a persistência na luta em defesa dos filhos, militantes como ela da causa da liberdade em um país vitimado pela covardia da ditadura, se tornaram o retrato de um país que precisa e merece ter o direito à verdade para recontar com propriedade sua história”, destacou a vice-governadora de Pernambuco e presidenta nacional do partido, Luciana Santos. (veja íntegra da nota abaixo).

Para o presidente do Comitê Estadual do partido em Pernambuco, Marcelino Granja, por sua luta incansável pelo reconhecimento da morte do filho e a localização do seu corpo, “sem conseguir seu intento”, dona Elzita Santa Cruz “se converteu num símbolo da resistência democrática, exemplo e inspiração para o nosso povo e para as novas gerações, hoje diante do desafio de defender o Estado de Direito ameaçado pela extrema direita governante”.

“Os comunistas pernambucanos se unem aos familiares e amigos de D. Elzita neste instante de dor e erguem suas bandeiras de luta em sua homenagem”, enfatiza o dirigente na nota. (Veja a íntegra da nota abaixo).

O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira, registrou em suas redes sociais: “Perdemos hoje a querida companheira de tantas lutas, Elzita Santa Cruz, mãe do nosso companheiro Fernando (sequestrado e morto pela ditadura militar). Ao longo da vida, mãe de militantes presos e perseguidos políticos, resistiu sempre — altiva e determinada”.

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), também se manifestou sobre a morte de dona Elzita. “É com pesar que recebi a notícia do falecimento de dona Elzita Santa Cruz. Quero prestar minha solidariedade à família e aos amigos dessa mulher guerreira, em especial ao seu filho Marcelo e ao seu neto Felipe Santa Cruz", disse o governador. Ainda segundo Câmara, a dedicação das causas de Dona Elzita continuará "inspirando".

Símbolo de luta

Ao comunicar o falecimento da mãe hoje pela manhã, um de seus sete filhos vivos, o ex-vereador de Olinda (PE) Marcelo Santa Cruz, citou Dom Hélder Câmara: “Para ter uma vida longa é preciso ter uma boa causa para lutar”. E dona Elzita teve uma grande e dolorosa causa para lutar. “Era uma guerreira e se tornou um símbolo de luta e determinação. Era uma pessoa lutadora, nunca parou de denunciar o sumiço do seu filho. Ao longo dos seus anos de batalha, ela se tornou mãe de todos os mortos e desaparecidos da época da ditadura militar. Lutou por uma boa causa, em defesa da paz", disse.

Fernando (foto acima) foi o primeiro a ser preso. Três anos depois foi a vez de Marcelo por sua atuação política, cujo exílio também amargou a vida de Dona Elzita. Ele foi enquadrado no decreto 447, da ditadura militar, e expulso da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Morou na Europa e retornou um ano e meio depois ao Brasil. Ele residiu no Rio por dez anos e só pode voltar a Olinda com a anistia. Dois anos depois, a filha mais velha, Rosalina, foi sequestrada por agentes da repressão no Rio de Janeiro em companhia do marido. Na época, ela militava na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares. 

Causas naturais

Segundo a família, dona Elzita morreu de causas naturais. Completaria 106 anos, no próximo dia 16 de outubro. Seu velório acontece nesta terça-feira, a partir das 16h, na Câmara Municipal de Olinda. A cerimônia de cremação será nesta quarta-feira (26), no cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife.

Dona Elzita nasceu em Água Preta, Zona da Mata de Pernambuco, passou a infância em Alagoas e a adolescência em Palmares também na Zona da Mata (Sul) do estado. Aos 21 anos, casou-se pela primeira vez. Seis meses depois ficou viúva. Cinco anos mais tarde, uniu-se ao médico sanitarista Lincoln Santa Cruz e mudou-se para Olinda (PE). Teve dez filhos, dos quais sete estão vivos, além de 28 netos e 24 bisnetos.

Leia a íntegra das notas divulgadas pelos dirigentes do PCdoB.

Luciana Santos: Elzita Santa Cruz, ícone de determinação e de luta*

Com tristeza recebo a notícia do falecimento de dona Elzita Santa Cruz. Uma mulher admirável, grande lutadora pelo direito à memória e à verdade em nosso país. Sua presença entre nós sempre foi motivo de alento e estímulo, um exemplo de determinação, de coragem e de fé em um futuro melhor e mais digno.

Aos 105 anos dona Elzita morreu sem ter o direito de enterrar o filho, desaparecido político da ditadura. E em nenhum dia de sua vida deixou de lutar e erguer sua voz por esse direito.

Sua dor e a persistência na luta em defesa dos filhos, militantes como ela da causa da liberdade em um país vitimado pela covardia da ditadura, se tornaram o retrato de um país que precisa e merece ter o direito à verdade para recontar com propriedade sua história. Sua bravura e desvelo como mãe e mulher ajudaram a construir o Movimento pela Anistia em Pernambuco e a tornaram um ícone de um direito que segue precisando ser plenamente conquistado no Brasil: o direito à verdade sobre os mortos e desaparecidos da Ditadura Militar.

Ao meu amigo Marcelo Santa Cruz, à Rosalina, e toda a família minha solidariedade e meu abraço fraterno.

Elzita Santa Cruz, Guerreira de Pernambuco e do Brasil, Presente!

Luciana Santos
Vice-Governadora de Pernambuco
Presidenta Nacional do PCdoB

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PCdoB ergue suas bandeiras de luta em homenagem a Elzita Santa Cruz

O Partido Comunista do Brasil-PCdoB, através de sua direção estadual, registra com pesar o falecimento, aos 105 anos, de Elzita Santa Cruz,mãe de presos e perseguidos políticos no regime militar, há décadas lutadora exemplar pela Liberdade e pela Democracia.

Elzita teve um filho, Fernando Santa Cruz sequestrado e morto pela ditadura. Desenvolveu por décadas verdadeira cruzada em busca do reconhecimento, pelas autoridades governamentais, da morte do filho e localização do seu corpo.

Jamais conseguiu seu intento. Mas se manteve altiva, corajosa e perseverante, lutando por toda a vida.

Assim, se converteu num símbolo da resistência democrática, exemplo e inspiração para o nosso povo e para as novas gerações, hoje diante do desafio de defender o Estado de Direito ameaçado pela extrema direita governante.

Os comunistas pernambucanos se unem aos familiares e amigos de D. Elzita neste instante de dor e erguem suas bandeiras de luta em sua homenagem.

Marcelino Granja
Presidente estadual do PCdoB

Do Recife, Audicéa Rodrigues.