Celso Amorim: imagem do Brasil perante o mundo é muito negativa

O ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, comentou à Rádio Brasil Atual sobre o "desastre" da presença do presidente brasileiro Jair Bolsonaro na reunião do G20. Já em entrevista à BBC News, Amorim critica o recente acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Para ele, o acordo foi firmado "no pior momento possível", no período de "grande fragilidade negociadora", e teme que isso gere condições mais favoráveis para o bloco europeu do que para os países sul-americanos. 

Reunião no G20 - Foto: Clauber Cleber Caetano]/PR

Para o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, o desastre do governo brasileiro no G20 marca o contraste entre a atual imagem do Brasil no cenário internacional e o papel de destaque alcançado em período recente.

“Antes todo mundo queria aparecer do lado do Lula. Agora é o contrário. Parece haver um esforço de líderes mundiais para não aparecerem ao lado do presidente do Brasil nessas reuniões”, disse o diplomata em entrevista à jornalista Marilu Cabañas para o Jornal Brasil Atual nesta sexta-feira (28), lembrando que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva foi um dos principais articuladores do G-20, que viria a substituir o antigo G-7 como principal foro de decisões internacionais entre os grandes países.

Ele diz que o respeito do Brasil às normas internacionais, posto em xeque com Bolsonaro, começaram muito antes do governo do PT, do qual participou. “Começou com Collor, continuou no governo Itamar, e até no governo Fernando Henrique Cardoso.” A contradição, segundo Amorim, é que o atual governo finge utilizar conceito de soberania para violar normas internacionais, e ao mesmo tempo viola a nossa soberania, ao entregar o patrimônio brasileiro a estrangeiros, como no caso da venda da Embraer para os norte-americanos da Boeing, ou ainda a entrega do pré-sal às petrolíferas estrangeiras.

Segundo ele, em nenhuma outra época o Brasil teve uma imagem internacional tão ruim como agora, talvez comparável apenas ao período da ditadura, quando as denúncias de tortura, morte e desaparecimento de opositores manchavam a imagem do país. O ex-chanceler afirma que o governo brasileiro só não é excluído dos encontros internacionais, tornando-se um “pária”, devido às suas dimensões territoriais, populacionais e econômicas.

Amorim diz que essa percepção negativa traz prejuízos para as empresas brasileiras com negócios no exterior. Ele teme também que o enfraquecimento do Brasil no cenário internacional leve a fazer concessões excessivas em negociações comerciais e diplomáticas com outros países. No caso do Mercosul, soma-se ainda a fraqueza econômica da Argentina, que voltou a recorrer ao FMI, o que fragiliza ainda mais o poder de negociação do bloco.

"UE fechou acordo depressa demais"

Em entrevista, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim falou sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Para ele, o contrato foi firmado "no pior momento possível". 

"Em momento de grande fragilidade negociadora", disse Amorim, temendo que isso gere condições mais favoráveis para o bloco europeu do que para os países sul-americanos. "Acho que por isso a União Europeia teve pressa. Porque sabe que estamos em uma situação muito frágil. E quando se está em uma situação frágil, se negocia qualquer coisa. Isso me deixa preocupado. Eu temo que tenham sido feitas concessões excessivas", disse à BBC News Brasil.

"O momento é o pior possível em termos da capacidade negociadora do Mercosul, porque os dois principais negociadores, Brasil e Argentina, estão fragilizados política e economicamente", diz Amorim.

Para Amorim, o alinhamento do Brasil aos Estados Unidos do presidente Donald Trump também deve ter contribuído para que os europeus se apressassem a firmar um acordo. "Com toda a adesão do Brasil (aos EUA), talvez tenham visto nisso uma oportunidade de agir logo, como quem diz, 'vamos pegar agora o que dá, e depois a gente discute o resto'", considera Amorim.

O ex-ministro foi entrevistado pela Rádio Brasil Atual. Ouça a íntegra abaixo: