Deputados reagem à ameaça de Bolsonaro de fechar Ancine

Por considerar projetos aprovados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) absurdos, Bolsonaro cogitou fechar a agência e já ordenou mudanças como a transferência do Conselho Superior do Cinema, que formula a política do audiovisual do país, do Ministério da Cidadania para a Casa Civil.

Por Iram Alfaia

Bruna Surfistinha - Divulgação

"Agora pouco, o Osmar Terra (ministro da Cidadania) e eu fomos para um canto e nos acertamos. Não posso admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha. Não dá. Ele apresentou propostas sobre a Ancine, para trazer para Brasilia. Não somos contra essa ou aquela opção, mas o ativismo não podemos permitir em respeito às famílias. É uma coisa que mudou com a chegada do governo", disse Bolsonaro numa transmissão ao vivo pelo Faceboock nesta quinta-feira.

A líder da Minoria na Câmara dos Deputados, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), diz que fechar a Ancine é acabar com um poderoso instrumento de valorização da identidade nacional brasileira.

“O audiovisual nacional é importante gerador de renda e emprego. Em 2017, foram lançados no Brasil 160 longas-metragens, que venderam quase 20 milhões de ingressos (…) Ir a uma sala de cinema e reconhecer na tela sua realidade, seu sotaque, seu chão é um patrimônio viabilizado pela existência da Ancine”, escreveu no Twitter.

O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), destacou que o cinema nacional teve um semestre marcante, com duas vitórias em Cannes, incluindo o Prêmio do Júri.

“Tantas histórias que precisam ser contadas! Mas Bolsonaro quer amarrar a produção audiovisual, extinguindo a Ancine ou levando-a para dentro do Palácio do Planalto. Não à censura!”, protestou.

“Os alvos principais de todo regime autoritário são a educação e a cultura. Com Bolsonaro não é diferente, por isso a extinção do Ministério da Cultura, os cortes nas universidades e os ataques à Ancine. O pensamento crítico é o inimigo número um dos autocratas”, disse o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

Na coluna Painel da Folha de S.Paulo, os produtores que trabalharam em “Bruna Surfistinha” ficaram indignados. Lembraram que o filme gerou centenas de empregos, e que a série, gravada após o filme, foi uma das mais vistas na América Latina. “Bruna Surfistinha teve mais de 2 milhões de espectadores, a segunda maior bilheteria de 2011”.