Empresa fabricava carros de luxo falsos no Brasil

Pai e filho acusados de oferecer os carros pela internet por menos de 70.000 dólares – uma fração de seu preço real.

Por Dom Phillips, no The Guardian

Carros falsos

Depois de receber a denúncia, não demorou para os investigadores descobrirem, em Itajaí, Santa Catarina, o que descreveram como uma “fábrica clandestina de carros de luxo”, que produzia falsas Ferraris e Lamborghinis.

A fábrica, Autos Fibra, os anunciava no Instagram e num canal do YouTube.

Na segunda-feira (15) a polícia invadiu, em Itajaí (SC), uma garagem onde encontrou oito veículos – dois “Ferraris” e seis “Lamborghinis” – em vários estados de produção, disse o investigador Angelo Fragelli. "Alguns estavam meio prontos, alguns estavam apenas no começo", disse.

Fotos e um vídeo divulgado pela polícia mostraram os veículos, juntamente com capotas e assentos, com logotipos da Ferrari e da Lamborghini.

Carros esportivos de luxo que custariam em torno de 320.000 a 640.000 libras esterlinas (400.000 a 800.000 dólares, respectivamete 1.6 milhão de reais e 2,4 mihôes de reais), se fossem genuínos, estavam sendo vendidos entre 38.000 a 53.000 libras esterlinas (47.000 a 66.000 dólares, respectivamente 118 mil rais e 264 mil reais), disse a polícia. Mas enquanto os exteriores pareciam convincentes – pelo menos para um olho destreinado – os motores vieram de outros veículos, incluindo um Mitsubishi Eclipse, um Alfa Romeo e um Chevrolet Omega.

"Os motores eram muito menos poderosos", disse Fragelli. “O acabamento dependia do que o cliente poderia pagar”.

Nenhuma prisão foi feita, mas a polícia disse que iria acusar um homem de 53 anos e seu filho, de 29, por crimes contra a propriedade intelectual.

"É um crime contra a propriedade intelectual por causa do uso dos logotipos e desenhos industriais", disse Fragelli.

Os carros foram documentados como "protótipos", disse ele. "Mas há indícios de fraude porque você não pode registrar um carro de protótipo caseiro com um logotipo de carro registrado".

A denúncia foi feita por um escritório de advocacia de São Paulo, contratado pela Lamborghini após alertar a Autos Fibra contra as réplicas. Bruno Ariboni Brandi, advogado da Ariboni, Fabbri & Schmidt, disse que sua empresa já trabalhou em casos semelhantes antes. Em fevereiro, a polícia invadiu uma oficina semelhante perto de São Paulo, mas Brandi disse que a fábrica de Itajaí é considerada o maior do Brasil.

"Esta é uma empresa que tem sido investigada há algum tempo", disse. “Também temos informações de clientes insatisfeitos … Os carros são de baixa qualidade. Mesmo usando material de boa qualidade, o acabamento interior não é o mesmo dos originais.”

Por email, um porta-voz da Lamborghini disse que a empresa não pretendia processar, mas queria evitar o "uso ilegal de direitos" e destacou "o risco para os clientes e o público em geral" representado por réplicas sem "recursos básicos de segurança". A Autos Fibra ainda mantém uma conta no Instagram e um canal no YouTube. Por telefone, um dos homens acusados ​​recusou-se a responder às perguntas e se referiu a um vídeo postado no YouTube na terça-feira (16), no do qual dois homens atacam mídias “sensacionalistas” e “podres” que queriam “denegrir” sua empresa.

“Nós não fechamos. Estamos trabalhando normalmente. Há carros sendo feitos para os clientes e nosso compromisso é terminá-los”, disse o mais velho dos dois homens, explicando que a empresa estava em operação há 25 anos.

Disse que a empresa produz “carros artesanais” legalmente sob a regulamentação brasileira e que a investigação mostraria que os veículos apreendidos não correspondem “100%” aos projetos industriais e, portanto, não seriam apresentados como réplicas.

Brandi, o advogado, contesta. "A lei da propriedade industrial proíbe o uso de desenhos industriais e logotipos", disse.