Agricultores criticam governo sobre crise com navios do Irã

A Federação de Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) criticou a decisão da Petrobras de não fornecer combustível para navios iranianos que estão parados no porto de Paranaguá (PR) e disse que a medida traz "péssimas consequências para o setor agrícola do Brasil".

Navios Irã

"As sanções econômicas contra o Irã, estabelecidas pelos Estados Unidos e em alinhamento com os interesses do governo federal, não devem ser aplicadas em caso de transporte de alimentos, assim como de medicamentos e equipamentos médicos. O transporte de comida está previsto no que se encaixa como 'exceção humanitária'", disse

Os EUA ampliaram suas sanções contra o Irã neste ano, visando atingir o setor petrolífero do país. Na sexta (19), a Petrobras confirmou que não forneceu combustíveis para navios iranianos, carregados com milhos no porto paranaense, por temer represálias ao violar as regras do regime norte-americano.

Alinha com Washington, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, opinou pela suspensão da decisão liminar que obrigaria a Petrobras a fornecer combustível aos navios, conforme manifestação enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal), instância na qual o caso deve ser decidido.

Milho

Ao comentar o caso neste domingo (21), o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil está alinhado à política dos EUA de sanção econômica contra o país persa.

A FEAP argumentou que o Irã é o maior importador de milho brasileiro. Além do mais, continua a entidade, o país persa "é um dos principais compradores de produtos importantes" para o Paraná, como a soja e a carne bovina. "A paralisação dos navios também compromete a qualidade da carga de milho, que pode ser devolvido e trazer prejuízos para o setor", concluiu a FEAP.

“Não há razão para embargo de produto agrícola”, diz Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e atual presidente da Abramilho (Associação Brasileira de Produtores de Milho). Medindo palavras, Paolinelli afirma não saber se é prudente a entidade brigar com a Petrobras sobre o abastecimento do navio iraniano.

Assim como o representante da Abramilho, a Aprosoja-MT também se move com cautela. Antônio Galvan, produtor e presidente da associação, diz que a entidade ainda não acionou órgão de pressão, como a Frente Parlamentar de Agricultura na Câmara ou a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Ele afirma, porém, que os preços do milho começaram a cair no estado, o que atribuiu ao impasse. Segundo Galvan, a baixa chegou a R$ 2 a saca, cotada a cerca de R$ 23. No mesmo período, o dólar também caiu, o que afeta os preços do cereal.

Mato Grosso é o principal produtor de milho do país e já colheu quase 90% da safra deste ano, que deve se encerrar nas próximas semanas. As vendas também estão avançadas —quase 80% da safra do estado havia sido negociada até o começo do mês, ainda de acordo com o Imea.

Crise

O episódio da retenção de dois navios iranianos abriu uma nova crise interna no Itamaraty e já preocupa a cúpula das Forças Armadas.

Nem tanto pelo impasse em si, já que a maioria dos diplomatas e militares ouvidos concorda que a Petrobras corre risco de sofrer sanções dos EUA caso abasteça os cargueiros, mas pelo alinhamento automático à posição norte-americana.

Entre diplomatas, há a certeza de que a eventual escalada da crise no Golfo Pérsico, que desemboca em conflito entre EUA e o Irã, levará a um inédito apoio explícito do Brasil a Washington. Aqui entram generais da ativa, que temem qualquer iniciativa que possa acarretar riscos de segurança.

Dois deles, ouvidos pelo jornal Folha de S. Paulo, afirmam que o país pode entrar na rota de grupos que lutam contra o intervencionismo norte-americano no Oriente Médio, como o palestino Hamas ou o libanês Hizbullah.

Itamaraty

O voluntarismo de Bolsonaro e seu chanceler, Ernesto Araújo, já agastou militares da ativa e integrantes do governo em outras ocasiões. Com o agravamento da crise que quase levou a conflito com o governo constitucional da Venezuela, a cúpula colocou o Itamaraty sob sua tutela no começo do ano.

O esvaziamento do poder dos generais no governo, contudo, deu lugar ao maior protagonismo da ala dita “ideológica” — os fundamentalistas dos quais Araújo e o filho de Bolsonaro, Eduardo, indicado para ser embaixador em Washington, são expoentes, filiados ao pensamento do “escritor” Olavo de Carvalho.

O embaixador do Irã no Brasil, Seyed Ali Saghaeyan , foi ao Itamaraty para saber que providências estão sendo tomadas pelo governo brasileiro que ajudem a resolver o impasse envolvendo dois navios iranianos

A questão foi discutida com o secretário de negociações bilaterais no Oriente Médio, Europa e África do Ministério das Relações Exteriores, Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega.

Com informações dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo.