Colômbia: Basta de assassinatos de lideranças sociais 

 Neste 26 de julho, em capitais e regiões de Colômbia e em mais de 90 cidades de todo o mundo, será realizada uma jornada internacional contra o assassinato de lideranças sociais e exigindo a implementação do Acordo de Paz de 2016 subscrito entre as FARC e o Estado colombiano.

Por Pietro Alarcón*

Colômbia lideres sociais

Na verdade, o agravamento da situação de direitos humanos exige uma resposta contundente da comunidade internacional. A paz é uma conquista popular, que fere as pretensões de guerra e militarização das grandes corporações de armas e representa erguer bandeiras e reivindicações que significam profundas transformações na estrutura econômico-social. Por isso, o cumprimento dos acordos atinge a setores que desde a própria composição histórica do país são favorecidos por um encadeamento de privilégios e a restrição da democracia.

Lembremos que já desde o final do governo de Juan Manuel Santos, muito embora tenha sido este o presidente que assinou os acordos, as pressões das forças mais reacionárias, tanto da máquina industrial militar com sede nos Estados Unidos, que sustentam o governo de Trump, bem como as estruturas paramilitares de extrema direita na própria Colômbia, manifestavam seu descontentamento com o fim da guerra expondo abertamente que “se entregou o país às guerrilhas” e que não cumpririam com questões como a devolução das terras às famílias deslocadas e vítimas da violência nos campos. Ao final do governo, no território colombiano continuaram as 9 bases militares norte-americanas e, ainda, o país ingressou na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), gerando uma situação de maior insegurança política e social na região de América Latina e o Caribe.

Na sequência, o governo de Ivan Duque, empossado em agosto de 2018, dirige sua ação política, projetos e encaminhamentos jurídicos a não concretizar os Acordos de Paz. O cerceamento orçamentário à Jurisdição Especial para a Paz (JEP) e as opiniões emitidas pelo presidente Duque são escancaradamente destinadas a retirar a força de uma magistratura dirigida a castigar os crimes contra a humanidade, na sua imensa maioria cometidos por agentes da força pública, no que é considerado uma infeliz forma de sabotar as tentativas de acabar com a impunidade e resgatar a memória e o direito à verdade.

Por outro lado, em lugar de promover a substituição de cultivos de folha de coca, como consta nos acordos, Duque promove a perigosa erradicação forçada, utilizando glifosato e colocando em perigo o meio ambiente e a vida das comunidades.

A esse quadro negativo, se soma o congelamento dos diálogos com a guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN), a ausência de garantias para a oposição e o assassinato sistemático de lideranças sociais, defensores dos direitos humanos e ex-combatentes. Hoje, são mais de 800 as vítimas desta onda de crimes num período de dois anos.

O governo de Duque pretende mostrar que se preocupa com a sorte das lideranças, contudo, faz vista grossa ao paramilitarismo enquanto continuam as execuções extrajudiciais e a reorganização dos grupos criminais. Não há como não lembrar e, sobretudo, como não exigir que não se retorne aos tempos em que se sabotou o processo de paz na década de 1980. Como é sabido, naquela época a União Patriótica, força política surgida do acordo de paz, foi vítima do extermínio das suas lideranças e representantes com a mais atroz das violências.

A repressão ao movimento social aumenta as tensões e coloca na mira a todos os defensores dos Acordos. Há uma grave ameaça contra a paz, contra a vida e a segurança da sociedade colombiana e, com isso, da América Latina e o Caribe em seu conjunto.

Frente a isso, a opinião pública nacional e internacional e a própria ONU tem manifestado sua preocupação. Sem embargo a crítica situação exige uma resposta urgente e contundente. Nesse sentido, tem se gerado na comunidade internacional, com maior determinação, uma corrente de opinião e luta encabeçada pelo Movimento “Defendamos a Paz” e que no Brasil encontrou eco no “Coletivo Rueda a Palavra Paz” para a organização da jornada do dia 26 de julho no Brasil.

Em São Paulo, os atos serão nesta sexta feira, no vão do MASP, na Avenida Paulista, a partir das 18:00 horas, gritando com coragem por uma Colômbia e uma América Latina e Caribe de paz e segurança.