Oposição ao bolsonarismo precisa estar coesa nas eleições, diz Luciana

Em conversa transmitida pelo Youtube com o cientista político, sociólogo e pesquisador Alberto Carlos Almeida, a presidenta do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, faz um alerta à esquerda.

Luciana Santos: "O deputado Eduardo Bolsonaro precisa ser chamado à responsabilidade e a Câmara dos Deputados pautar sua saída da presidência da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional" / Foto: Álvaro Portugal-PCdoB na Câmara

“Precisamos nos posicionar bem, ter vitórias expressivas (nas eleições de 2020). E, para isso temos que ter juízo, visão de desprendimento para compreender que a falta de unidade pode nos levar à derrota”, disse, reafirmando aquilo que tem sido o tom seus discursos: a defesa de uma frente ampla contra o bolsonarismo.

“Temos que nos colocar na disputa de maneira a vencer os bolsonaristas no Brasil como um todo. E acho que devemos marchar juntos na direção de quem reunir melhores condições de fazer isso. Tudo vai depender da análise que a gente fizer no momento certo. Mas temos que ter essa compreensão, porque sozinhos, isolados – mesmo o PT, que é maior – não poderemos cumprir a missão do momento, que é resistir e alterar essa situação”, defendeu Luciana.

De acordo com ela, a eleição presidencial precisa servir de lição. “Faltou isso no ano passado, quando não conseguimos nos unir nem no segundo turno. Agora precisamos garantir que um pensamento mais à altura dos desafios brasileiros, que preserve interesses nacionais, a democracia, o conceito de bem-estar social, vença as eleições. E, para isso, precisamos de estratégia, capacidade política de nos entendermos, espírito de unidade. De modo que entremos coesos na disputa, com estratégia unificada, que possibilite que nosso campo ganhe cidades importantes”, reforçou.

Entre os temas do bate-papo com Alberto Almeida, também estiveram os retrocessos do governo Bolsonaro, os impactos da Vaza Jato, os desafios do desenvolvimento nacional, a ascensão de Flávio Dino como liderança nacional e os projetos do PCdoB.

Vaza Jato

Na avaliação de Luciana, as conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil sobre a Lava Jato “demonstram cabalmente” a parcialidade da operação, tão denunciada pelo PCdoB e por outras forças. Segundo ela, as ações da força-tarefa foram um dos pilares fundamentais para a extrema-direita vencer as eleições e tiveram desde o princípio o objetivo de impedir o êxito das forças mais avançadas, em especial, a candidatura do ex-presidente Lula.

“Todos sabem o quanto a Lava Jato rebateu na luta política, o que não poderia acontecer. Como pode um juiz combinar com a acusação quem deve ser ouvido, como deve ser, em que momento, quem deve ser investigado e quem não deve? Um claro conluio que decidia inclusive como e quando divulgar na imprensa. É uma coisa de um certo escracho até. Qualquer operação de combate à corrupção não pode ser contaminada pela luta política”, criticou.

Luciana chamou atenção também para os aspectos econômicos por trás da Lava Jato. “Queremos combater a corrupção, mas preservando as empresas nacionais. Parecia até que para além do combate à corrupção, havia o intuito de que aquele mercado fosse explorado por determinados interesses econômicos. A informação dada por alguns procuradores do país aos acionistas da Petrobras americanos, contra o interesse da Petrobras, não cabe em uma operação de combate à corrupção”, disse.

Segundo ela, é “inconteste que, em qualquer lugar do mundo, já teríamos um afastamento do ministro Sérgio Moro para explicar como eles manipularam e direcionaram tanto as informações para um determinado objetivo político”.

Indagada sobre a prisão do ex-presidente Lula, ela reiterou que o que defende é o mínimo de respeito à democracia. “Hoje uma das mais revolucionárias ideias é a defesa do Estado Democrático de Direito. Não queremos que ninguém fique livre de julgamento. Apenas queremos que seja um julgamento justo, com todo o direito de defesa, presunção da inocência, coisas básicas”.

Ela declarou que, embora haja uma luta política aberta, que contamina todos os poderes no Brasil, ainda tem esperanças de que prevaleçam os garantistas, aqueles que preservam a constitucionalidade, independentemente de posição política.

“Existem momentos da nossa história em que algumas bandeiras unem parcelas importantes dos atores e das forças vivas da população brasileira. Hoje, o que mais une, independente de matizes políticas e ideológicas, é a defesa da democracia. Hoje, não há unanimidade no Supremo Tribunal Federal nem sobre a prisão após condenação em segunda instância, nem sobre a atuação de Sérgio Moro. Precisamos fazer o debate de ideias e ir informando. Homens e mulheres menos apegados à radicalização já percebem que houve o uso indevido da lei para um projeto de poder e pessoal”.

Flávio Dino

Sobre o papel de destaque que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), vem ganhando no cenário nacional, Luciana insistiu que é cedo para debater o quadro eleitoral de 2022. “Temos muitas tarefas, resistir à agenda ultraliberal na economia, resistir à pauta retrógrada nos costumes e ao autoritarismo na política”.

A presidenta do PCdoB se referiu à fala de Bolsonaro, segundo a qual, “dos governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão”. De acordo com Luciana, a expressão é só mais uma faceta do preconceito que o presidente carrega e de sua falta de compreensão sobre o tamanho do Brasil e significado e potencial da região Nordeste.

Ela destacou o preparo e a habilidade política e administrativa do ex-juiz federal. “Ele se afirma não só pela capacidade retórica e de conteúdo, mas pela atitude. Enfrenta como um leão a governabilidade e a inclusão social no Maranhão, e isso incomoda. Flávio Dino, como Manuela d’Ávila, é uma figura para nós muito cara. Ambos são a expressão do socialismo contemporâneo, da nossa capacidade de renovação”, apontou.