A tecnologia no centro da ofensiva dos EUA contra a China

Já está claro que a guerra comercial travada por Trump há mais de dois anos não tem nada de puramente comercial, analisa Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da Quantitas Asset, no site InfoMoney. O objetivo não pode ser apenas reduzir o déficit de US$ 200 bilhões a US$ 300 bilhões entre os dois países, diz ele.

China

"Os objetivos são maiores e têm relação com a importância que a China vem obtendo ano a ano no mercado de inteligência artificial, robótica e todo aquele cenário Blade Runner que volta e meia a gente se depara em vídeos institucionais ou relatos de viajantes para a China ou Vale do Silício", escreve ele. "E é por isso que a Huawei está no centro da disputa", complementa.

E no meio disso, afirma, está o setor de tecnologia. E aí o emaranhado e as interdependências dos países são maiores ainda.

Por um lado, a China possui a maior e principal empresa de 5G, a Huawei. As duas únicas competidoras mundiais seriam as nórdicas Nokia e Ericsson. Caso os EUA tomem medidas extremas a ponto de asfixiar a empresa, estima-se que o impacto que teria sobre os preços da tecnologia 5G seria gigantesco. Portanto, os EUA possuem uma certa dependência da Huawei, avalia.

Por outro lado, para a China desenvolver tecnologia, faz-se necessário um setor de semicondutores, cujo maior ofertante global, de longe, são os EUA. Portanto, a China tem duas alternativas: ser um ótimo cliente dos semicondutores americanos ou demorar alguns anos para talvez desenvolver o próprio. Até lá, a China terá ficado para trás.

E o labirinto continua, prossegue o articulista. Para o setor tecnológico americano, há um insumo necessário chamado de “terras raras”. Cerca de 80% da produção dessas terras raras vem da China.

É isso mesmo. Há uma situação de quase monopólio e quase monopsônio [estrutura de mercado caracterizada por haver um único comprador para o produto de vários vendedores] de um lado a outro que torna quase inviável imaginar que os dois países vão romper de vez. Há muita coisa em jogo. E tampouco há um interesse que isso aconteça.