De Olho no Mundo, por Ana Prestes
A cientista política e especialista em relações internacionais, Ana Maria Prestes, analisa os acontecimentos que se sobressaem no cenário internacional. Nesta quinta-feira (22), ela destaca as queimadas na Amazônia como tema internacional da semana.
Publicado 22/08/2019 18:30
Nesta quarta-feira (21), a hashtag #PrayForAmazonas estava entre os assuntos mais comentados do mundo no Twitter. Primeiro veio o debate sobre os dados do desmatamento, a demissão do presidente do INPE, os recuos financeiros da Alemanha e Noruega, e agora o tema é o das queimadas. O presidente Bolsonaro se apressou em colocar a culpa em ONGs. Segundo ele, “pode ter ação criminosa desses ongueiros para chamara atenção contra minha pessoa”. Uma das ONGs que retrucou as afirmações, a WWF, disse que o poder público não pode criar debates esteréis, sem base na realidade. Outras ONGs se referiram a dados do INPE para afirmar que entre 2010 e 2018 apenas 2,7% das ONGs receberam recursos federais e destes, apenas 5% foram para a região Norte.
O presidente também deu uma cutucada nos governadores da região norte: “tem estados aí, não quero citar, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater o incêndio. Está gostando disso daí”. Um dos governadores revidou. Waldez Goes, do Amapá, disse que “transferir responsabilidades não vai acabar com as queimadas”.
Enquanto autoridades debatem, a situação é bastante grave e os focos do incêndio podem ser vistos do espaço. Segundo o INPE, só este ano já foram registrado 72.843 focos de incêndio. Um número recorde e que marca o aumento de 80% em relação ao ano passado. Ao longo da semana, a fumaça alcançou o céu de São Paulo, causando imagens que chocaram o mundo. Segundo o ecologista Thomas Lovejoy, “é, sem dúvida alguma, uma das duas únicas ocasiões em que houve incêndios como estes”. Jornais e órgãos de imprensa como o New York Times, Le Monde, Al Jazeera, BBC e vários outros tem noticiado a situação.
Bolívia e Paraguai também apresentam muitos focos de incêndio neste momento. Na tríplice fronteira entre Bolívia, Paraguai e Brasil, foram queimados 21 mil hectares da reserva Três Gigantes. Na Bolívia, na região e Santa Cruz, os incêndios já queimaram cerca de 470 mil hectares de florestas e plantações e o exército foi convocado para a contenção. Na segunda (19), o presidente Evo Morales sobrevoou a região para monitorar as tentativas de controle do fogo. Assim como no Brasil, nesta época a temporada de seca e ventos coincide com a preparação da terra para o plantio e muitos realizam os “chaqueos” – queima da terra para novos plantios e reposicionamento do gado. Os incêndios também se transformaram em tema de controvérsia política no país que está em franco processo de disputa eleitoral. As eleições presidenciais na Bolívia serão no dia 20 de outubro.
Na Argentina, nesta quarta (21) quase a totalidade dos governadores das províncias se reuniram e lançaram uma carta contra as novas medidas tributárias do governo e que podem afetar na arrecadação das administrações. Segundo eles, ficaram sabendo das medidas pela imprensa. Enquanto isso, o novo Ministro da Economia se encontrava com representantes da Frente para Todos, vitoriosa nas primárias obrigatórias (PASO) do início do ano para discutir a urgente estabilização econômica do país. O tema “Argentina” também foi alvo de comentários ontem do presidente Bolsonaro. Ele disse na abertura do Congresso do Aço Brasil que o empresariado brasileiro deve ajudar a impedir o retorno da “velha esquerda” no país vizinho e “alertou” o quanto o candidato Fernández pode atrapalhar o acordo Mercosul e União Europeia. Segundo uma pesquisa de intenções de voto divulgada esta semana, realizada pelo “Federico Gonzales y Associados” aponta a Frente para Todos de Fernández com 53,8% e o Juntos por el Cambio de Macri com 32,9%, uma vantagem de 20 pontos.
Ainda sobre Argentina, quem esteve ontem com Macri em Buenos Aires foi FHC. O ex presidente brasileiro, que está na Argentina para um seminário, anunciou em seu twitter que tentaria encontros com Macri e Fernández. FHC aproveitou pra dar uma alfinetada em Bolsonaro: “A Argentina escolherá entre os dois. Ela será sempre nossa vizinha. Devemos ter boas relações e não transformar nossas opções em fator de atrito entre nações irmãs”.
Em dificuldade para prover as soluções econômicas e práticas do Brexit, o primeiro ministro Boris Johnson anunciou que a partir de 1º de setembro seu governo não enviará mais representantes para as reuniões da União Europeia. O premiê disse que não há porque participar de discussões sobre o futuro do bloco, uma vez que o Reino Unido não estará mais nele. Johnson se reuniu com Merkel ontem (21) e agora se reunirá com Macron. Com Merkel o debate girou sobre o principal impasse do Brexit: a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. Merkel pautou também tráfico aéreo e cutucou ao dizer que ao saírem da UE, britânicos não podem esperar ter os mesmos benefícios dos cidadãos dos países membros. Merkel e Johnson anunciaram um prazo de 30 dias para encontrar uma solução. Lembrando que o prazo final do Brexit está fixado em 31 de outubro.
No Sudão, foi criado um Conselho Soberano esta semana que dirigirá o país por três anos e fará uma transição para um governo civil. O conselho tem 11 membros, é fruto de um acordo entre militares e oposição, e foi anunciado pelo Conselho Militar de Transição que assumiu o poder após a queda de Omar al-Bashir.
A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou o texto do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) firmado entre Brasil e EUA, agora o texto vai para a Comissão de Ciência e Tecnologia e Comissão de Constituição e Justiça. Foram apresentados votos em separado com ressalvas ao acordo, entre eles um apresentado pelo PSB e outro por PCdoB/PDT.
Trump adiou sua ida à Dinamarca, que estava marcada para os próximos dias, após a polêmica sobre sua proposta de compra da Groenlândia.
Começa daqui dois dias, em Biarritz, na França, a cúpula do G7. O encontro ocorre sem a presença da Rússia, impedida de participar do encontro desde 2014, devido ao conflito com a Ucrânia e a incorporação da Crimeia ao seu território.
Toda imprensa internacional repercute as notícias de que Maduro e Trump reconhecem contatos e conversas entre seus representantes.
Uma notícia triste da semana é que o Presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, anunciou que está tratando um tumor no pulmão e por isso precisou ser internado e deve diminuir substantivamente o ritmo do trabalho. Daqui, torcemos por sua recuperação.