Queiroz, o homem-bomba do clã Bolsonaro, é encontrado em São Paulo 

Sem dar sinais de seu paradeiro desde o dia 12 de janeiro, quando postou um vídeo na internet após uma cirurgia, Fabrício Queiroz foi visto na última segunda-feira (26) na recepção do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Segundo a revista Veja, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) mora hoje no Morumbi, na zona sul paulistana, para facilitar seus deslocamentos para o hospital, onde faz tratamento contra um câncer de cólon.

Queiroz

Alvo de polêmica após o Coaf identificar movimentações financeiras suspeitas de funcionários da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), Queiroz, até então, tinha sua moradia desconhecida. Sua ausência chegou a movimentar as redes sociais com a pergunta “Cadê o Queiroz?”.

De acordo com a Veja, que cita uma pessoa próxima a Queiroz, a cirurgia não resolveu seu problema de saúde e a doença foi agravada. A reportagem flagrou o homem-bomba da família Bolsonaro chegando ao hospital, se dirigindo ao setor de marcação de consultas e exames, e tomando café no final da tarde no centro de oncologia do Einstein, sem familiares nem acompanhantes. Nas fotos, Queiroz aparece mais magro.

Apesar das investigações que miram negócios suspeitos, Queiroz não é procurado nem esperado para depor às autoridades. Procurado pela revista, ele não quis dar declarações. Flávio Bolsonaro afirmou que “cabe a ele explicar. Eu também quero saber onde está o Queiroz”. Já a assessoria do hospital Albert Einstein disse que não comentará a reportagem.

Em maio, O Globo mostrou que o ex-motorista do senador Flávio pagou em espécie R$ 64,58 mil por uma cirurgia no mesmo hospital. Queiroz foi internado na unidade em janeiro para a retirada do tumor. O pagamento foi feito em 14 de fevereiro. Desde que o assessor de Flávio recebeu alta do hospital, nunca se soube o valor das despesas pagas pelo procedimento médico.

O Globo também procurou por Queiroz em um de seus endereços, numa casa em um local simples, num beco no bairro da Taquara, na Zona Oeste do Rio. À revista Veja, um de seus amigos, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), afirmou ter trocado mensagens com Queiroz há alguns meses. “Ele escreveu que ainda estava baqueado”, conta.

Depois que veio à tona a informação de que o Coaf apontou movimentações financeiras suspeitas de R$ 1,2 milhão pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro, revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo, Queiroz deu entrevista para o SBT, na qual afirmou que tais movimentos eram “fruto da compra e venda de veículos usados”. Na entrevista, que aconteceu em São Paulo dias antes de ser operado no Albert Einstein, Queiroz se definiu como “um cara de negócios” e que comprava e revendia carros.

O Coaf afirmou em relatório que tais transações eram “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” de Queiroz, que foi assessor do gabinete de Flávio até outubro de 2018, com salário de R$ 8.517. Uma das transações listadas é um cheque de R$ 24 mil destinado à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, mulher de Jair Bolsonaro. Flávio Bolsonaro é o filho mais velho do presidente eleito.

Bolsonaro confirmou o repasse a Michelle, mas disse que, diferentemente do que foi indicado pelo relatório do Coaf, anexado ao inquérito da Operação Furna da Onça , não foram R$ 24 mil, e sim R$ 40 mil, referentes ao pagamento de um dívida pessoal. “Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil”, disse em dezembro do ano passado quando afirmou ter cortado o contato com Queiroz até que ele se explicasse para o Ministério Público.

Em nota, na época, o Ministério Público Federal (MPF) informou que o relatório do Coaf fazia parte da investigação, mas não citava o nome de nenhum funcionário da Alerj que fizesse parte da lista. O relatório, segundo o jornal, também cita movimentações de dinheiro em espécie. No período de um ano analisado (janeiro de 2016 a janeiro de 2017), o Coaf identificou R$ 320 mil em saques feitos por Fabrício José Carlos de Queiroz, dos quais R$ 159 mil foram sacados numa agência dentro do prédio da Alerj.

Ao todo, o Coaf rastreou R$ 200 milhões em transações financeiras envolvendo 22 funcionários da Alerj. A análise foi feita a pedido dos procuradores que investigam o esquema de corrupção envolvendo deputados e servidores da Assembleia. No início de novembro, sete deputados estaduais foram presos sob suspeita de receberem propina de receberem propina de empresários de ônibus para votarem a favor de temas de interesse do setor e integrarem a base do governo de Sérgio Cabral. Outros três parlamentares que já estavam presos foram alvos de novos mandados de prisão.

Flávio Bolsonaro

Em julho, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, determinou a suspensão de todos os processos judiciais em que dados bancários de investigados tenham sido compartilhados por órgãos de controle sem autorização prévia do Poder Judiciário, como o Coaf. A decisão foi dada em resposta a um pedido de Flávio Bolsonaro.

Flávio, assim como Queiroz, é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) no inquérito que apura o suposto desvio de dinheiro em seu antigo gabinete na Alerj. O desvio, segundo as investigações, ocorreria a partir da arrecadação ilícita de parte dos salários de servidores lotados no gabinete do então deputado estadual. Flávio Bolsonaro nega seu envolvimento no caso.

A suposta arrecadação teria sido detectada em relatórios do Conselho de Administração de Atividades Financeiras (Coaf). A defesa de Flávio argumentou ao STF que a investigação conduzida pelo MPRJ teria irregularidades porque o repasse de dados do Coaf ao MPRJ não teria sido intermediado pela Justiça.