Há 80 anos iniciou-se a 2ª guerra, a maior tragédia da humanidade

Em 1º de setembro de 1939 teria começado a maior guerra da humanidade, a Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha de Adolf Hitler invadiu a Polônia. Na verdade, ela começou antes, com a agressão do Japão à China.

Por Osvaldo Bertolino

Stálin, Roosevelt, Churchil, Hitler

Discursando em uma gigantesca manifestação da campanha do Partido Comunista do Brasil (então com a sigla PCB) pela Assembleia Nacional Constituinte — que seria instalada em 1946 -, em 21 de agosto de 1945, em frente à estátua de Rio Branco, na Esplanada do Castelo, o histórico dirigente comunista Maurício Grabois afirmou que aquele comício era, antes de tudo, uma festa de todos os povos livres, amantes da paz e da liberdade, dos comunistas do mundo inteiro que contribuíram decisivamente para o esmagamento militar do nazi-nipo-fascismo.

Leia Também:

Segunda Guerra Mundial: Há 74 anos, os ventos da democracia venceram

Grabois saudou os soldados que lutaram em todos os fronts, em especial o Exército Vermelho, “e, para glória nossa, os bravos rapazes da Força Expedicionária Brasileira, heróis de Monte Castelo”. “Mas esta festa, que é do povo e do proletariado, significa que pesa sobre nossos ombros de comunistas novas e maiores responsabilidades. Porque, na verdade, o nazi-nipo-fascismo foi esmagado militarmente, mas é preciso que nós liquidemos, para sempre, o fascismo, moral e politicamente”, conclamou.

E prosseguiu: “Para isso, no período de desenvolvimento pacífico que se abre diante de nós, temos que unir, concentrar todas as nossas forças a fim de que não se abatam sobre os povos, em todo o mundo, novas catástrofes como as que foram desencadeadas pelas forças do obscurantismo e da opressão.”

Política de Munique

No Japão, descrito por Maurício Grabois como “o último baluarte do fascismo”, os derradeiros lances da guerra mostraram o peso das armas soviéticas. “Na verdade, a contribuição da URSS foi decisiva: em onze dias, o Japão caiu de joelhos diante das forças aliadas. Isto é, aliás, significativo, principalmente para nós, porque o Japão foi o primeiro a iniciar esta guerra contra os povos livres do mundo, atacando de surpresa e monstruosamente o povo chinês, desarmado e pacífico. Esta guerra, portanto, não começou em 1939: começou muito antes, até que se transformou, sob o ponto de vista das democracias, numa guerra patriótica, de libertação e independência de todos os povos amantes da paz e da liberdade”, afirmou.

Segundo Maurício Grabois, desde o início do conflito os comunistas estiveram ao lado do povo chinês e de todos os povos. A voz dos comunistas, em todo o mundo, constituiu uma tremenda advertência. “Com efeito, os apetites do imperialismo nipônico não foram enfrentados e novas catástrofes se abateram sobre o mundo. Hitler e Mussolini, como era natural, iniciaram sua infame obra de divisão dos povos para com a quinta-coluna e seus exércitos escravizá-los. Contra o divisionismo do nazi-fascismo, os comunistas em todo o mundo levantaram ainda mais alto a bandeira da unidade dos povos, das democracias. Os comunistas enfrentaram o perigo, sacrificaram suas vidas em todo o mundo, em luta de morte contra Hitler e seus asseclas”, enfatizou.

No Brasil, disse Maurício Grabois, ainda estavam na lembrança de todos o heroísmo e o patriotismo com que os comunistas enfrentaram o nazi-integralismo. “Mas, infelizmente, nossa voz não foi ouvida. Os traidores quebrantavam o ânimo de todos os verdadeiros democratas. Litvinov (Maxim Maximovich Litvinov, ministro das Relações Exteriores soviético), na Liga das Nações, batalhava pela paz indivisível, pela união de todos os antifascistas contra Hitler. Mas, como sabemos, veio a política do capitulacionismo, de concessões, a política de Munique, que entregou, através de Chamberlain (primeiro-ministro britânico) e Daladier (primeiro-ministro da França), as democracias aos seus piores inimigos, aos seus algozes. Apesar de todas as provocações, os comunistas não traíram a causa da liberdade: lutaram contra Hitler e seus sequazes”, afirmou.

Quando os nazistas atacaram a URSS, lembrou Maurício Grabois, os povos soviéticos, sob a liderança dos comunistas, sabiam e souberam enfrentar e derrotar o hitlerismo. “Deram um exemplo de como se luta realmente pela liberdade. A guerra, a essa altura, se transformou numa guerra patriótica, pela independência e libertação dos povos”, destacou.

Organização da FEB

O Partido Comunista do Brasil se empenhou com tenacidade na luta anti-fascista e propôs a organização da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutaria em Nápoles, Itália. Com essa finalidade, o Partido abriu duas frentes de trabalho — reforçou a União Nacional dos Estudantes (UNE) e relançou a Liga da Defesa Nacional, entidade fundada em 1916 no Rio de Janeiro pelos intelectuais Olavo Bilac, Pedro Lessa e Miguel Calmon, sob a presidência de Rui Barbosa.

No dia 28 de novembro de 1943, o governo decidiu organizar a FEB. “Fomos os primeiros a reivindicar a participação militar do Brasil e o fizemos de maneira consequente”, segundo o histórico dirigente comunista João Amazonas. As Comissões de Ajuda, criadas às centenas em todo o território nacional, angariaram donativos, realizaram conferências e promoveram comícios populares. Todo esse trabalho foi coroado com a organização da FEB.

O desembarque do primeiro escalão da FEB em Nápoles, Itália, em 17 de julho de 1944, coroou o trabalho abnegado daqueles brasileiros que olhavam para o futuro e imaginavam o país livre da ditadura do Estado Novo e das ameaças nazi-fascistas. O Partido Comunista do Brasil mobilizou forças e organizou grandes ações em favor desse objetivo. E, após o término da guerra, enfrentaria seus efeitos.

No dia 9 de outubro de 1946, Maurício Grabois, já como líder da bancada do Partido Comunista do Brasil na Câmara dos Deputados, ocupou a tribuna para denunciar o perigo que a guerra ainda representava. Ele reagiu, indignado, às palavras de Gilberto Freyre (UDN-PE) que, “em nome da consciência universal cristã”, protestou contra a pena de morte imposta aos criminosos nazista julgados em Nuremberg. Grabois disse: “A clemência para com esses bandidos nazistas em Nuremberg poderá significar, para o futuro, a morte de milhões de homens livres.”

O líder da bancada comunista também denunciou a proibição da entrada de judeus no Brasil pelo governo do general Dutra. “Ainda ressoa o eco das bombas da última conflagração e os mesmos preconceitos, as mesmas perseguições, ainda persistem no cenário mundial”, disse Grabois. “Hoje, após a derrota do nazi-fascismo, vemos se levantar as tentativas dos imperialistas norte-americanos e seus aliados para reacender a fogueira ateada por Hitler”, afirmou.

Nascimento da “Guerra Fria”

A guerra mostrou ser um negócio lucrativo. Durante os anos da Primeira Guerra Mundial, estima-se que os monopólios americanos obtiveram um lucro líquido de US$ 38 bilhões. Durante a Segunda Guerra Mundial, o lucro líquido foi de US$ 53 bilhões. Logo, uma violenta tempestade se formaria debaixo da calma aparente do pós-Segunda Guerra Mundial. Enormes áreas coloniais e semicoloniais do globo, agitadas com as novas esperanças de liberdade pelo exemplo da vigorosa vitória das forças democráticas, estavam despertando e ameaçando subverter a pesada estrutura do imperialismo. A revolução socialista cintilaria na China e começava a irromper na Coreia.

Eram acontecimentos anunciados como o fim dos tempos, obras de uma “conspiração moscovita”. O mundo capitalista, que se debatia nas garras da crise antes do início da Segunda Guerra Mundial enquanto a União Soviética embarcava em uma era de progresso, armava-se febrilmente para impedir o avanço do socialismo. O mito-propaganda da “ameaça comunista” trazia de volta o rame-rame dos velhos chavões que inundaram o mundo pelas ações do nazi-fascismo no entreguerras. Era o surgimento da nova face do anticomunismo, a “Guerra Fria”.