“Aras é um oportunista, um vendedor de tônico capilar”, diz Aragão

O subprocurador-geral Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para o comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), é um “vendedor de tônico capilar”, que “trabalha por interesses próprios e fala o que seu cliente quer ouvir”. A afirmação é do jurista e ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

Augusto Aras - Foto: Marcos Brandão/Agência Senado

Em busca de apoio no Senado para ser conduzido ao cargo, Aras tem se reunido com as bancadas partidárias. Aragão contou aos jornalistas Marilú Cabañas e Glauco Faria que o subprocurador-geral “come pelas beiradas para chegar em quem interessa”, o que, na visão do ex-ministro é claro sinal de “oportunismo”. “Para os senadores da bancada do PT, ele dizia que a Lava Jato precisa de um freio, que não se submeteria ao Bolsonaro. Porém, aos bolsonaristas, ele vem com discurso moralista. Uma pessoa dessa não é confiável, mas é a cara do governo Bolsonaro: uma pessoa sem qualidade”, afirmou.

Aras iniciou na segunda-feira (9) uma maratona no Senado para angariar votos. Ele será sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) e precisa do apoio de pelo menos 41 dos 81 senadores para ser confirmado procurador-geral da República.

Por outro lado, Aragão lamentou que Raquel Dodge não tenha sido reconduzida por Bolsonaro, apesar de identificar fraquezas no perfil da ainda PGR. “Foi lamentável Bolsonaro não a ter reconduzido, mas ela se colocar não foi bom, pois esse não é um governo a quem possamos nos oferecer”, avaliou.

Notícia-crime contra Moro

As bancadas do PT na Câmara e no Senado protocolaram, nesta quinta-feira (12), no Supremo Tribunal Federal, uma notícia-crime contra os procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro, pelo episódio que envolveu a interceptação ilegal e divulgação de um diálogo telefônico entre a ex-presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.

No último domingo (8), uma reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, com informações obtidas por meio de fonte anônima pelo The Intercept Brasil, mostraram que conversas gravadas de Lula, que contrariavam a hipótese de obstrução de Justiça adotada pelo então juiz Sergio Moro para divulgar os grampos, permaneceram em sigilo de Justiça.

Eugênio Aragão afirmou o que tem sido revelado são fatos “extremamente graves”. Na avaliação dele, o fato de Moro escolher o que teria publicidade ou não foi uma forma de comprometer a governabilidade de Dilma. “Isso é uma conduta seletiva e orientada para derrubar o governo de Dilma, impedindo Lula de ser chefe da Casa Civil e articular uma frente contra o impeachment. Foi uma atuação política, incompatível com a função jurisdicional”, criticou.

Ele também lamentou que Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deixou de investigar Moro. “Mesmo ele pedindo exoneração, nada impede que se investigue seus atos, enquanto juiz. Então, houve uma omissão do CNJ e da PGR, portanto não havia outra maneira sem ser apresentar a notícia-crime”, disse.

Ainda sobre a Lava Jato, o jurista comentou sobre a possibilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) discutir, em plenário, a anulação do caso do ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, Aldemir Bendine. A anulação da sentença, decidida por três dos quatro ministros presentes na sessão da Segunda Turma, no último dia 27, baseou-se no argumento de que houve quebra do princípio do contraditório.

“Se prevalecer a decisão dada no caso de Bendine, o Lula será beneficiado pela anulação das sentenças, em relação ao sítio e aos terrenos, porque deixaram os delatores falarem juntos com a defesa de Lula. É o mesmo vício”, afirmou Aragão.

Witzel

Quase um ano e meio depois do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (Psol) e seu motorista, Anderson Gomes, a Anistia Internacional cobrou novamente o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), a garantir esforços pela elucidação do crime, descobrindo seus mandantes e objetivos.

Entretanto, Aragão chama a situação do Rio de Janeiro de “dramática”, já que o governador, segundo ele, é um defensor da morte alheia. O ex-ministro lembra da comemoração de Witzel após a execução de um sequestrador, no sequestro do ônibus na Ponte Rio-Niterói ocorrido no último dia 20.

“(O Rio de Janeiro) Tem um governo que fez das execuções sumárias uma prática política do Estado. Isso chega a configurar crime contra a humanidade. Witzel é o primeiro candidato à Corte Internacional de Justiça se o STJ não tomar nenhuma providência com urgência, pois ele ultrapassou todos os limites. A comemoração dele, após a execução, mostra o caráter dele, que é um assassino”, repudiou.

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