Em novo livro, Cida Pedrosa faz uma jornada para dentro de si mesma

Nada melhor do que o autor para falar de sua obra. Assim, acontece com Cida Pedrosa, advogada, poetisa, dirigente comunista e gestora pública, que lança nesta sexta-feira (18) seu mais recente livro ‘Solo para Vialejo’, e logo abaixo dá um emocionante testemunho sobre o livro e seus motivos para escrevê-lo. O lançamento da publicação se junta às comemorações dos 40 anos de produção literária e do aniversário da escriba pernambucana.   

Cida Pedrosa lança livro em que faz uma jornada para dentro de si mesma - Divulgação

Tudo acontecerá a partir das 18h, na Venda Bom Jesus, na Praça do Arsenal, no Recife Antigo. No programa, jam session, com Breno Lira, e leitura com Mariane Bigio e Susana Morais. Leia abaixo o depoimento de Cida.

Do mar ao Sertão

“Eu publiquei pela primeira vez em 1979 quando estudava no Colégio 2001, no jornalzinho do colégio chamado Momento Poético. Nessa mesma edição do jornal foram publicados textos meus, de Cícero Belmar e Eduardo Martins, que também seguiram a carreira. Os primeiros seguiram a carreira. Raimundo de Moraes também seguiu a carreira. E aí, este ano, eu completo 40 anos de poesia. E o que é o meu livro? É um poema único, um poema longo, onde eu saio como se fosse uma jornada para dentro de mim mesma e também para fora. Do mar para o Sertão, aonde eu vou contando um pouco da geografia local. Após o Planalto da Borborema, que fica depois de Caruaru, vou citando as principais cidades, Salgueiro, Serra Talhada, cercanias como São José do Egito, Catimbau, até Bodocó”.

Blues x lamento sertanejo

“E o que eu vou dizendo nessa jornada? Vou dizendo da presença negra nessa jornada e dizendo que os negros e as negras seguiram os caminhos dos Tapuias, ou seja, dos índios. A partir da presença branca e da opressão branca os negros iam fugindo e iam fazendo parte da paisagem do Sertão. E esses negros e negras são os que terminaram fazendo também a música junto com os índios. Claro, com a miscigenação branca, mas muito índio e negro, que é essa música do xote, muito a ver com o blues, e esse lamento sertanejo que também tem muito a ver com o blues. Vou fazer esse comparativo das minhas referências musicais – eu amo blues -, desses negros também oprimidos nos Estados Unidos, que também fizeram blues, e dos negros oprimidos que fazem os cânticos sertanejos. Estou falando disso”.

Música e opressão

“E tudo isso tem um motivo. Eu adoro gaita, que é o vialejo. Eu ganhei um vialejo do meu pai quando era pequena e nunca aprendi a tocar. Meu pai tocava gaita e tocava bem bonito. Lampião tocava gaita também. Muitos no Sertão tocam gaita, que tem muito a ver também com essa coisa dos negros que foram para o Oeste americano, para o Mississipi, que também tocavam gaita. E eu só falando disso, dessa ausência minha, dessa falta de não ter aprendido a tocar. Então, eu vou falando essas reminiscências, essas memórias, que passam pela igreja, pelo som da missa, pelo canto branco opressor”.

Poema épico-lírico

Segundo a Cepe – Companhia Editora de Pernambuco, que edita a obra, “Solo para Vialejo” é um poema épico-lírico sobre uma viagem em busca da própria identidade. Em 128 páginas, um longo poema épico-lírico se inicia versando sobre um percurso que segue do litoral para o Sertão. A obra chama a atenção pelas repetições, sugerindo a urgência e desespero da voz poética em ser compreendida e, ao mesmo tempo, as distorções e agrupamentos das palavras expressando a dificuldade de dizer aquilo que se quer com exatidão, mas sempre difícil, sempre escorregadio,
sempre inexato”.

Do Recife, Audicéa Rodrigues.