Brics dos Povos exige mudanças e denuncia golpe na América Latina

O documento final do seminário Brics dos Povos foi lançado no fim da tarde desta terça-feira (12) em Brasília. O texto é resultado das reflexões de dois dias de debate entre pesquisadores e integrantes de 60 organizações populares de nove países.

Jandira Feghali - Richard Silva/PCdoB na Câmara

"Nos reunimos no Brasil num momento internacional de acirramento da luta de classes. A crise estrutural capitalista, que produz contradições decisivas nas dimensões ambiental, política, social e econômica, se aprofunda", diz o documento. "Nesse momento da história, se reforça a importância da luta e da unidade internacional dos povos como ferramenta das mudanças estruturais da sociedade. Nos somamos à convocatória a todas as forças progressistas para construção da Jornada Internacional de Luta Anti Imperialista, que ocorrerá de 25 a 31 de maio de 2020".

Os participantes denunciam no texto a posição do governo brasileiro contra o fim do embargo a Cuba, o golpe contra Evo Morales na Bolívia, a perseguição à Venezuela e ao ex-presidente Lula, e a destruição ambiental crescente e os ataques aos direitos dos trabalhadores.

A ideia é que as reivindicações cheguem aos governantes que participam a partir desta quarta-feira (13) da Cúpula dos Brics, também em Brasília (DF).

Confira na íntegra:

"DECLARAÇÃO FINAL:

OS POVOS EXIGEM MUDANÇAS PARA TERMOS FUTURO!

Nos dias 11 e 12 de novembro de 2019, nos reunimos – militantes de organizações populares, sindicais e políticas de 60 organizações de nove países – no Seminário Internacional Brics dos Povos, para discutir a atual conjuntura política internacional e os desafios dos povos frente às ações imperialistas. Essa reunião antecede a 11ª Cúpula dos Presidentes do Brics, que ocorrerá nos dias 13 e 14 de novembro.

Nos reunimos no Brasil num momento internacional de acirramento da luta de classes. A crise estrutural capitalista, que produz contradições decisivas nas dimensões ambiental, política, social e econômica, se aprofunda. O capital financeiro impõe ao mundo uma nova etapa do neoliberalismo, onde a apropriação do Estado, dos fundos e serviços públicos se soma à privatização dos bens comuns como a água, a terra, a biodiversidade, o ar.

É nesse momento que o imperialismo age de forma mais contundente. A dinâmica geopolítica contemporânea se materializa na disputa pelos territórios em várias partes do mundo, principalmente no Oriente Médio, África e América Latina.

Essa nova fase se utiliza da manipulação de falsos valores, com caráter fundamentalista e conservador, por meios sofisticados de controle das mídias convencionais e digitais, num conjunto de táticas e formas chamada de “Guerras Híbridas”, para derrotar governos democráticos, se apropriar dos bens naturais, retirar direitos dos trabalhadores e derrubar a soberania das nações.

Além disso, o atual avanço tecnológico segue uma lógica de disputa interna entre as transnacionais para acumulação de riquezas, provocando uma mudança profunda na estrutura produtiva dos países e da divisão internacional do trabalho. A classe trabalhadora está excluída desse processo, atrasando o desenvolvimento pleno dos povos.

Diante disso, denunciamos:

1. O golpe de Estado na Bolívia, orquestrado pelos EUA com apoio dos governos do Brasil e da Argentina de Macri;

2. A posição do governo brasileiro contra o fim do embargo a Cuba, rompendo uma tradição histórica na Assembleia da ONU, se somando aos EUA e a Israel, únicos países a defender essa medida dentre os demais 190 votantes;

3. Os ataques imperialistas à Venezuela e desestabilização a várias democracias latino-amercianas;

4. Rechaçamos veementemente a destruição ambiental crescente e os ataques aos direitos dos trabalhadores;

5. O aumento dos investimentos na indústria militar subordinada ao império, que se expressa na reativação da 4a Frota, as mais de 300 bases militares no mundo, o que afeta diretamente a soberania dos países;

6. A perseguição política ao presidente Lula e, celebrando a sua liberdade após 580 dias de prisão injusta, nos comprometemos a lutar pela anulação de todos os processos jurídicos que buscam criminalizá-lo.

Nós, povos aqui reunidos, reivindicamos:

• A soberania e autodeterminação dos povos, a paz e novas relações entre seres humanos e natureza;

• A integração dos povos baseada na solidariedade internacional;

• Aprofundamento da democracia em nossos países e a defesa de projetos que tenham centralidade nos interesses da classe trabalhadora;

Nesse momento da história, se reforça a importância da luta e da unidade internacional dos povos como ferramenta das mudanças estruturais da sociedade.

Nos somamos à convocatória a todas as forças progressistas para construção da Jornada Internacional de Luta Anti-Imperialista, que ocorrerá de 25 a 31 de maio de 2020.

Brasília, 12 de novembro de 2019

INTERNACIONALIZAMOS A LUTA, INTERNACIONALIZEMOS A ESPERANÇA!

Assembleia Internacional dos Povos

Capítulo Brasil – Alba Movimentos

Instituto Tricontinental de Pesquisa Social

Frente Brasil Popular

Frente Povo Sem Medo"

O seminário foi encerrado com uma declaração do deputado Paulo Pimenta (PT), o mesmo que havia aberto os debates na segunda-feira pela manhã. "Que venham novos tempos de luta, resistência e vitórias", concluiu.