De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A especialista em relações internacionais, cientista política e socióloga Ana Prestes destaca as principais notícias do Brasil e do mundo.

Trump escapou do impeachment

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, embarcou nesta quarta-feira (5) para os EUA, onde participará do lançamento oficial da Aliança pela Liberdade Religiosa. O movimento que diz ter como objetivo “combater a perseguição de cristãos no mundo” é liderado por quatro dos mais conservadores governos da atualidade, do Brasil, EUA, Hungria e Polônia. Por falar em pacto conservador e ultranacionalista, o Brasil sedia até o dia de hoje (6), uma “Reunião Ministerial de Varsóvia para Promover um Futuro de Paz e Segurança no Oriente Médio”, que trata-se do Processo de Varsóvia, iniciado há alguns anos e que exclui das conversações países como Irã e Palestina.

Como já era esperado, o Senado dos EUA declarou Trump inocente das acusações que pesavam sobre ele de que o presidente abusou de seu poder para segurar uma ajuda militar à Ucrânia em troca de investigações contra adversários políticos, no caso o ex-vice presidente Joe Biden e seu filho por negócios no país de Zelensy. Dos 100 senadores, 52 votaram com ele. O republicano Mitt Romney foi o único do partido de Trump que votou pelo impeachment. Um dia antes, Trump havia feito o anual discurso sobre o Estado da União. Enquanto ele falava, a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi rasgava o discurso do presidente. O discurso foi na prática o lançamento de sua nova candidatura à presidência. Ele focou seu discurso na retomada econômica e redução do desemprego no país, segundo ele possíveis com um processo de desregulamentação (direitos trabalhistas). Se gabou também de impor tarifas à China, que “rouba empregos” do país. De ter relançando um novo Nafta, o TMEX. Anunciou que até 2021 o muro da fronteira com o México terá mais de 800 quilômetros. Com a presença do autoproclamado Juan Guaidó, da Venezuela, o presidente americano disse que “a tirania do governo Maduro será esmagada”. Fez chantagem com o Irã, dizendo que as sanções americanas estão fazendo a economia iraniana ir mal, mas depende de Teerã “deixar o orgulho ou a burrice e pedir ajuda”. Trump ainda defendeu sua proposta de acordo entre Israel e Palestina para “trazer mudanças para milhões de jovens” (o acordo é rechaçado pela Palestina e a Liga Árabe).

Enquanto Trump usava o discurso do Estado da União e a própria reversão do processo de impeachment para fazer campanha antecipada, os democratas tentavam se desvencilhar de um problema técnico com as prévias de Iowa do final de semana passado, que fez os resultados serem retardados. O partido usou um aplicativo nunca antes testado para promover a votação, gerando total inconsistência dos dados. Com quase a totalidade dos votos contados, o que se sabe hoje (6) é que Pete Buttigieg e Bernie Sanders estão praticamente empatados. Os dois candidatos são quase antagonistas em vários aspectos, inclusive o etário. Sanders, senador, está com 78 e Buttigieg, ex-prefeito, com 38. Sanders se diz socialista e Bittigieg representa a ala mais moderada dos Democratas e faz o papel “independente” ou “anti-políticos” que conhecemos bem no Brasil.

Na Bolívia, o candidato Carlos Mesa da chapa Comunidad Ciudadana tem reclamado muito da desigualdade de condições nas eleições, em especial pelo privilégio de Jeanine Añez, a autoproclamada, de se pronunciar ao mesmo tempo como candidata e presidenta de fato.

Na Argentina, após ter seu projeto de renegociação da dívida aprovado na Câmara dos Deputados, o presidente Alberto Fernández viajou para a Europa para angariar apoios, se reuniu longamente com o Papa, com a premiê alemã Angela Merkel e ontem estava em Paris, na França, reunido como Macron. Em uma palestra que deu no Instituto de Ciências Políticas de Paris, Fernández disse que no dia 12 de fevereiro seu ministro da economia irá ao Congresso “explicar todo o necessário para que todos entendam a necessidade de fazer a dívida sustentável, o que quer dizer dar tempo para a Argentina para que possa voltar a crescer e fazer os pagamentos devidos”. Segundo ele, “o plano é voltar a colocar em funcionamento a economia argentina”. Enquanto Fernández viajava, o senado da Argentina aprovou por unanimidade o Plano de Ajuste da Dívida que já havia sido aprovado na Câmara. Apesar da unanimidade, os debates foram acalorados entre os parlamentares do Cambiemos, da administração macrista e os da Frente para Todos, vencedora das eleições presidenciais.

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, falou ontem na TV estatal ao vivo para o país para denunciar as sanções econômicas impostas pelos EUA, ele também atacou o “Acordo do Século” anunciado por Trump para entregar Jerusalém para Israel e anexar ainda mais territórios palestinos como o Vale do Jordão.

O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, fez um pronunciamento ontem para denunciar a instalação de ogivas nucleares em submarinos por parte da Marinha dos EUA.

A Organização Mundial de Metereologia fez um novo alerta de crise climática indicando que concentrações de CO2 vão atingir um recorde em 2020.

A contração econômica global provocada pela epidemia de corona vírus na China pode afetar a economia brasileira. A China é o principal parceiro comercial do Brasil e a segunda economia do mundo.

Cresceu a tensão na região da Palestina, após os anúncios do “Plano do Século” de Trump para a região. Nos últimos dias houve ataques terrestes e aéreos israelenses na Faixa de Gaza. Dois jovens palestinos foram mortos, um de 17 em Hebron e outro de 19 em Jenin, por forças israelenses.

Está convocado para 26 de abril o plebiscito constitucional chileno. A população será perguntada se aprova ou não a substituição da Constituição de Pinochet de 1980. As pesquisas de opinião tem dado cerca de 70% de chance de vitória para o rechaço a atual constituição. Enquanto isso, Piñera alcança índices históricos de impopularidade de um presidente no período democrático. Somente 6% dos chilenos aprovam sua administração. As pesquisa também apontam para um descredito geral nas instituições, sendo que 6% confiam no Ministério Público, 5% no Governo, 3% no Congresso e 2% nos partidos (fonte: CEP – Entro de Estudos Públicos).

Enquanto escrevo as notas, abro o mapa de acompanhamento da evolução das infecções por corona vírus e vejo que neste momento já são 28.344 caso confirmados, sendo 28.085 na China, 565 mortes, sendo quase a totalidade na China, apenas uma nas Filipinas e outra em Hong Kong, considerado território autônomo, e 1329 recuperações. Nenhum país latino-americano consta na lista de países com casos confirmados, assim como nenhum país africano. A epidemia pode fazer com que o Congresso Nacional do Povo, que se reúne por 10 dias consecutivos em Pequim em março, com a presença de 3 mil delegados, seja adiado. Um cruzeiro com 3.700 pessoas a bordo segue em quarentena no Japão e já são 20 as pessoas a bordo que deram positivo para o vírus. Aqueles que estão doentes serão levados para atendimento médico na cidade de Kanagawa, os demais seguirão em quarentena a bordo. Cerca de 675 milhões de dólares serão destinados para as operações internacionais de combate à doença entre fevereiro e abril, segundo a OMS. Em Hong Kong, profissionais de saúde entraram em greve desde segunda (3) para pressionar o governo a tomar medidas mais drásticas quanto ao corona virus. Os grevistas defendem fechamento da fronteira com a China. A greve pode ser instrumento de manutenção da tensão entre o território autônomo, mas chinês, e o Governo central da China, visto que com a epidemia os protestos de rua foram cancelados. De modo geral, a epidemia tem sido usada de forma oportunista para aumentar a hostilidade à China em outras partes do mundo.

Uma última nota importante sobre o corona vírus é que um medicamento cubano, o Interferon alpha (IFNrec), está sendo usado na China para tratamento dos pacientes.

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Um comentario para "De Olho no Mundo, por Ana Prestes"

  1. Gidasio Silva disse:

    Os textos de Ana Prestes são muito significativos e traz diferentes informações sobre a situação internacional.
    Como são vários os assuntos tratados, sugiro que em seu interior seja colocado pelo menos subtítulos em cada parte para facilitar a separação das informações contidas.

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