Paulo Kliass destaca luta dos servidores contra o desmonte do Estado

O economista destacou a greve dos petroleiros como forma de resistência dos servidores contra a privatização e o desmonte do estado brasileiro.

(Fotos Luis Macedo/Agência Câmara)

Doutor em economia e membro de carreira em gestão governamental do governo federal, Paulo Kliass afirmou que a luta contra a privatização faz parte de um conjunto maior que envolve também batalhas imediatas como a mobilização para barra no Congresso o Plano Mais Brasil, composto por três emendas à Constituição que atacam os servidores, acabam com concursos e fundos públicos.

Na palestra “Privatizações e Desnacionalização da Economia Brasileira”, Paulo Kliass disse nesta quarta-feira (12), no Seminário: Reforma Administrativa, Desmonte do Estado como Projeto, que a greve dos petroleiros é um exemplo a ser seguido pelas demais categorias.

“Eles estão em greve há muito tempo e a gente precisa justamente manifestar solidariedade porque nesse período em que a gente consegue uma vitória é mais um passinho no sentido de reverter esse processo de desmonte”, disse ele, sob aplauso de servidores presentes no Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados.

O economista fez uma abordagem histórica para chegar ao momento atual que ele denominou de “pesadelo” e um retrocesso de cinco décadas, referindo-se ao atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que na década de 1970 era assessor do general Augusto Pinochet em plena ditadura chilena.

Membro dos Chicago Boys, como eram chamados os discípulos de Milton Friedman, Paulo Guedes defendia na época conceitos de estado como “prejudicial” e “inimigo” do desenvolvimento econômico. “A ideia de que as forças livres dos mercados, da oferta e da demanda, solucionariam os problemas”, lembrou.

Essa ideologia ganha dimensões planetárias na década de 1980 com a vitória de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, e Margaret Thatcher, na Inglaterra.

A partir daí o Banco Mundial (BM), Fundo Monetário Internacional (FMI) e demais organismo multilaterais chegam a uma definição em torno do “Consenso de Washington” que estabelece metas para os países como liberação geral das atividades e do comércio internacional; privatização; desregulamentação das economias; e o estado mínimo.

Brasil

Nesse período, o economista lembrou que o Brasil vivia um momento diferente com a luta contra a ditadura e mais tarde desenhava na Assembleia Nacional Constituinte um estado de bem-estar social.

“Mas já em 1988 começam as tentativas de desconstrução desse modelo com o governo Collor um “deja vu” de Guedes”, disse, avaliando que o processo só não avançou por causa do impeachment.

Já nos governos Fernando Henrique Cardoso houve a venda de empresas estratégicas do setor telecomunicações, energia elétrica e a Vale do Rio Doce.

Privatização

Após esse resgate, o economista explicou que a privatização que está em curso não se trata de uma simples transferência de uma empresa pública para o setor privado, pois envolve a desnacionalização e financeirização.

Citou como exemplo o caso da Embraer, que foi construída como projeto de país. A empresa, que virou referência no mundo pelo domínio de alta tecnologia, foi transferida para o setor privado.

“Agora ela sai do setor público, que deixa de ter ingerência sobre sua estratégia, para ser vendida para uma das duas grandes do mundo, que é a Boeing. E que agora está correndo o risco de quebrar. Então você destrói através da desnacionalização uma empresa essencial para o desenvolvimento tecnológico”, criticou.

Quanta à financeirização, ele alertou que grandes fundos internacionais já estão comprando no Brasil empresas nas áreas de educação, saúde, previdência, saneamento, pré-sal, rodovias, portos e ponto como a de Salvador e Itaparica.

Falácias

O economista também criticou os principais argumentos usados para convencer a sociedade de que é preciso privatizar. São eles: buscar recursos para a crise fiscal e maior eficiência do setor privado.

“O argumento não se sustenta, pois, vender ativos em momento de crise é a pior opção que se pode fazer. Por exemplo, em 1977 a Vale foi vendida por R$ 3,3 bilhões. Apenas em cinco anos depois (1998-2002), o lucro acumulado foi de R$ 12 bilhões”, explicou.

Depois do rompimento da barragem de Brumadinho, Kliass diz que não se pode chamar isso de eficiência, referindo-se a Vale.

“As campeãs de reclamação junto aos serviços do consumidor são as empresas de telefonia”, lembrou.

Por fim, defendeu o maior envolvimento da sociedade e dos movimentos sociais para barrar as privatizações. Lembrou que em 2019 a venda de empresas renderam ao governo R$ 105 bilhões, sendo a meta para este ano de R$ 150 bilhões. “A lista é longa e diversificada”.

Autor