Violência dobra o número de mortes no Complexo da Maré, diz relatório

Do total de 49 mortes, 34 ocorreram em decorrência da ação policial – número recorde.

Complexo da Maré

No ano passado, o Complexo da Maré – um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro, com 16 favelas e 140 mil habitantes – conviveu com 300 horas de operações policiais que resultaram em 49 mortes, um aumento de mais de 100% em relação ao ano anterior. Os dados são da 4ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, divulgado nesta sexta-feira.

Do total de mortes, 34 ocorreram em decorrência da ação policial – número recorde. Em 2016, quando o levantamento começou a ser realizado, foram 17 mortes cometidas por policiais. Foram realizadas 39 ações policiais no território. Em 2018, foram 16.

A Maré, em 2017, ganhou na Justiça uma ação civil pública, que estabelecia uma série de parâmetros para as intervenções policiais nas favelas do Complexo de forma a proteger os moradores.

“A partir de 2017, quando a gente ganha essa ação, a gente percebe uma queda nos dados. Em 2019, com a mudança do governo estadual e federal, a gente percebe um aumento expressivo em todos os dados”, afirma Lidiane Malanquini, coordenadora do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré. “A ação civil pública na sua integralidade nunca foi cumprida. Mas ela gerou um controle pelo sistema de justiça.”

A ação civil pública, em 2019, sofreu uma série de ataques, tanto da polícia quanto do governo estadual, ela afirma. “O que a gente vai perceber é que muitas vezes os policiais se sentem à vontade para rasgar as determinações da ação civil pública, porque tem uma permissão de quem os comanda”, disse Malanquini.

O momento mais crítico do complexo de favelas, em 2019, foi em junho, quando houve uma operação de três dias do BOPE e a justiça e a Ação Civil Pública foi anulada pela Justiça. Ela seria restabelecida dois meses depois, em agosto.

Fonte: Época