Morre Gilson Menezes, o metalúrgico que se tornou o 1º prefeito do PT

Gilson faleceu nesta madrugada, vítima de insuficiência renal

O líder metalúrgico e ex-prefeito de Diadema (SP) Gilson Menezes morreu neste domingo (23), aos 70 anos, vítima de insuficiência renal. Desde o final de 2019, Gilson estava em São Bento do Sul, no interior de Santa Catarina, onde esperou, em vão, por um transplante de rins. No último dia 12, com a piora de seu quadro clínico, ele foi internado na UTI de um hospital da cidade. Foi lá que Gilson faleceu nesta madrugada, à 0h30.

Baiano de nascimento, natural do sertão, Gilson se mudou aos 11 anos, em 1960, para Diadema, na região metropolitana de São Paulo. Era adolescente quando começou a trabalhar como operário ferramenteiro nas fábricas do ABC. Da Petri, passou para a Mercedes-Benz e, em 1973, para a Scania, destacando-se como um dos líderes nas históricas greves de 1978 e 1979. Nesse período, era conhecido como “Gilson da Scania”.

Fundador do PT em 1980, Gilson se tornou, dois anos depois, o primeiro membro do partido a chegar ao Poder Executivo. Nas eleições municipais de 1982, ele foi eleito prefeito de Diadema com 23.310 votos – na época, não havia segundo turno. Manuca, também, do PT, se elegeu para a Prefeitura de Santa Quitéria (MA) no mesmo ano – mas o fato de Diadema ser uma cidade industrial, em desenvolvimento, deu visibilidade ao feito eleitoral de Gilson.

“Foi uma campanha difícil, sem condições estruturais”, afirmou Gilson, em 2010, numa entrevista à Folha de S.Paulo. “Não tínhamos nada. Vendíamos camisetas e broches do partido, fazíamos reuniões e mutirões com todos os candidatos a vereador. Foi uma campanha muito gostosa, com muita união e muita garra.”

Segundo Gilson, nem mesmo Paulo Afonso da Silva, candidato a vice-prefeito, acreditava na possibilidade de vitória. Depois da vitória e da posse, sua gestão (1983-1988), mesmo com orçamento precário, deixou legados, como o primeiro pronto-socorro municipal de Diadema.

Em 1988, Gilson deixou o PT por discordar dos critérios que levaram à escolha do candidato petista à sua sucessão. Já filiado ao PSB, elegeu-se, em 1990 e 1994, deputado estadual. No ano de 1996, voltou a ser eleito prefeito em Diadema. A imensa dívida da cidade, no entanto, inviabilizou grandes ações. A gestão foi marcada por gestos individuais de Gilson, como uma greve de fome contra a “perseguição” a Diadema. Não conseguiu a reeleição em 2000, quando perdeu para José de Filippi Júnior (PT).

Gilson passou, então, por partidos como PMDB, PSC e PL, também permanecendo, por alguns anos, no PCdoB. Em 2006, foi indicado pelos comunistas a primeiro suplente de Eduardo Suplicy (PT), que disputava a reeleição ao Senado. Mas uma manobra do PT fez com que Gilson fosse inscrito apenas na segunda suplência, e não na primeira. Eleito, Suplicy assumiu seu terceiro e último mandato no Senado.

Em 2008, de volta ao PSB, Gilson se candidatou a vice-prefeito de Diadema, na chapa encabeçada por Mário Reali (PT). Foram eleitos no primeiro turno. Quatro anos depois, porém, perderam a reeleição para a chapa encabeçada por Lauro Michels (PV).

A última eleição disputada por Gilson foi o pleito municipal de 2016, quando foi candidato, sem sucesso, a vereador de Diadema pelo PDT. No auge da judicialização da política, Gilson chegou a ter os bens bloqueados por suspeitas – nunca comprovadas – de irregularidades durante seu segundo mandato como prefeito.

“Teve uma empresa que fez uma campanha e doou para a prefeitura 4 mil livros – eu apenas recebi esses livros. Eu não contratei a empresa. E fui condenado por isso: livros para a população”, esclareceu Gilson, em entrevista à revista Veja. “Se tiver alguma coisa errada aí, foi a empresa e quem doou o dinheiro. Eu não. No entanto, estou com meus bens bloqueados por causa disso. Eu nunca roubei um centavo da prefeitura.”

Em 2017, aos 68 anos, Gilson Menezes anunciou sua aposentadoria política. Viveu, desde então, em Santa Cruz da Conceição (SP). Com sua morte, a Prefeitura de Diadema decretou luto oficial de três dias, “em respeito à memória e a todos os serviços prestados por Gilson Menezes”.

Luiz Marinho, presidente estadual do PT-SP, lembrou, em nota, a participação de Gilson na greve da Scania, “que iniciou o processo de transformação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC no maior sindicato do país. Como prefeito, ele transformou a cidade de Diadema com obras sociais e de urbanização”.

O corpo de Gilson será velado na Câmara dos Vereadores de Diadema a partir das 16 horas. O enterro está previsto para esta segunda-feira (24), às 10 horas, no Cemitério Municipal.

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