Estudo desmonta farsa bolsonarista sobre dívida da Petrobras

Em nota, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP) informa que dívidas da Petrobrás refletem reservas do pré-sal e não serão resolvidas com venda de ativos.

Petrobras

A análise está no documento “O endividamento da Petrobrás e as empresas internacionais”, desenvolvida pelo INEEP. De acordo com o estudo, petrolíferas que fizeram grandes descobertas, entre 2009 e 2017, apresentaram uma trajetória de expansão do seu endividamento.

O Instituto, criado em 2018 com o objetivo de fomentar pesquisas acadêmicas e fornecer assessoria para assuntos relacionados à agenda do setor de petróleo, gás e biocombustíveis no Brasil e no mundo, desmente versões bolsonaristas sobre endidamento da empresa.

A análise do Instituto mostra que endividamento da companhia brasileira seguiu ritmo alto em função das megadescobertas de óleo e gás do pré-sal – as maiores realizadas no mundo nos últimos 20 anos – e que a redução das dívidas somente se dará com mais investimentos, não com a venda de ativos.

A nota diz que na última semana, a Petrobrás divulgou que registrou lucro líquido de R$ 40,1 bilhões em 2019, o maior de sua história. “Tal resultado foi obtido sobretudo com a entrada em caixa de recursos oriundos da venda de importantes ativos, como a TAG (Transportadora Associada de Gás S.A.) e a BR Distribuidora”, afirma.

Maior descoberta

Entretanto, prossegue, o argumento da empresa de que a venda de ativos é necessária para reduzir seu endividamento desconsidera os desafios de curto prazo para exploração do pré-sal e as características da indústria de petróleo no longo prazo, marcadas pela alta volatilidade de preço e pela sinergia entre as diferentes atividades setoriais.

“Seja na comparação com outras petroleiras do mundo que descobriram grandes reservas de óleo e gás nos últimos anos, seja em relação ao ganho de reservas de óleo e gás da Petrobrás a partir do pré-sal, descoberto em 2006”, detalha.

“A diretoria da Petrobrás argumenta que um dos principais fatores para o atual processo de desmonte da companhia é seu alto nível de endividamento. De fato, a Petrobrás detém a maior dívida entre as companhias de petróleo. No entanto, o endividamento não foi algo exclusivo da empresa. Outras petrolíferas que fizeram grandes descobertas nos últimos anos, como a ExxonMobil e a BP, também se endividaram e terão de se endividar ainda mais para executar seus projetos exploratórios”, explica Rodrigo Leão, pesquisador do INEEP.

O documento ainda ressalta que o pré-sal brasileiro foi a maior descoberta global de petróleo e gás natural das duas últimas décadas. Desde 2008, considerando apenas seis áreas – Franco, Libra, Iara, Sapinhoá, Carcará e Júpiter, todas na Bacia de Santos –, o volume estimado in place é de 74,7 bilhões de barris de óleo equivalente (BOE), que soma os volumes de óleo e gás. Já a segunda maior descoberta de óleo e gás no mundo, as áreas de Barda Rash e Shakan, no Iraque, tem volumes estimados em 27,8 bilhões de BOE in place.

Dívida e receita

O volume do pré-sal exigiu que a Petrobrás levantasse recursos para explorar seu potencial. Isso se confirma pelo fato de a companhia brasileira ter sido a que mais investiu entre 2009 e 2013, em comparação com BP, ExxonMobil, Equinor e Total. E em 2013, a empresa foi a que mais perfurou poços de exploração e produção na comparação com as outras – 558 no total.

“É importante lembrar que a dívida de hoje gerará receita e caixa para a empresa no longo prazo, por conta da produção do pré-sal, e este, por sua vez, poderá reduzir o endividamento original da Petrobrás. O petróleo é uma atividade de altíssimo risco, que exige decisões de curto prazo, cujas ‘recompensas’ se darão num horizonte temporal muito mais longo”, explica Leão.

Outra análise do INEEP sobre o resultado financeiro da Petrobrás em 2019 pode ser acessada aqui.