O capitão em seu labirinto, por Tadeu Alencar

Em artigo, o líder do PSB na Câmara acusa Bolsonaro de fazer pregação fundamentalista que ataca a liberdade de expressão e a pluralidade de opinião

(Foto: Nilson Bastian)

No Carnaval do ano passado o presidente Jair Bolsonaro divulgou um vídeo em seu Twitter, com cenas bizarras do carnaval. Via-se ali já uma mostra de como passaria a se relacionar com o seu pretenso eleitorado. A estratégia era clara: inflamar os nichos mais radicais dos que lhe apoiam, por acreditar que essa radicalização é o que o levou ao poder e que é ela que manterá a chama acesa.

Por isso a sua pregação fundamentalista que ataca a liberdade de expressão, a pluralidade de opinião, a imprensa, a diversidade, a cultura e os artistas, os ambientalistas, os partidos políticos, os sindicatos, a sociedade civil, Chefes de Estado e até as Nações Unidas, estimulando mal disfarçada hostilidade ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. Decerto que com isso agrada ao seu guia espiritual, Olavo de Carvalho, e aos seus seguidores, mantendo a guerra ideológica, sem tréguas, empreendida pelos filhos, por representantes do Governo, e pelo séquito de fanáticos ativados pelos arroubos do Mito-Capitão, em seu tortuoso labirinto. Mas é certo também que navega em uma nau enlouquecida, onde não embarcarão a maioria dos que com justa indignação, nele votaram, ávidos por mudanças, e não por essa cantilena conspiratória, que compromete até os poucos acertos do governo.

Encontrava-me desfrutando o ócio pernambucano quando o País é mais uma vez surpreendido pela atitude presidencial: divulgar um vídeo que convoca uma manifestação cujos alvos são o Congresso e o Supremo. Ninguém discute o direito de qualquer indivíduo pensar e se manifestar da forma como bem entender, mas todos estão subordinados à Constituição. E o presidente da República deve ser o seu fiel defensor. As mazelas do parlamento, que são muitas, devem ser enfrentadas, mas não trancando as suas portas. As reações foram imediatas e plurais. Sintetizou-a bem o decano do Supremo Tribunal Federal, Ministro Celso de Mello, com a sua proverbial sabedoria, que vaticinou: “demonstra uma visão indigna de quem não está à altura do altíssimo cargo que exerce”. E concluiu: “não pode tudo, pois lhe é vedada, sob pena de incidir em crime de responsabilidade, transgredir a supremacia político-jurídica da Constituição”.

Como Líder do Partido Socialista Brasileiro na Câmara dos Deputados, manifestei-me por nota: ‘o presidente brinca com fogo; os democratas de todos os colores não devemos permiti-lo, sob pena de grave omissão histórica’. Defender a Democracia é dever de todos e devemos fazê-lo agora, e, mais que agora, sempre. “Conhecemos o caminho maldito”, bem o disse o Senhor Diretas, Ulysses Guimarães.

O autor é deputado federal e líder do PSB na Câmara
Artigo publicado originalmente no Jornal do Commercio de Pernambuco no dia 28 de fevereiro de 2020