De Olho no Mundo, por Ana Prestes

Os assuntos destaques das notas desta quarta-feira (4) da especialista em relações internacionais, Ana Prestes são: as eleições nos EUA, particularmente as prévias do Partido Democrata. O ato revanchista do governo Trump que estipulou uma semana para que jornalistas chineses deixem o país norte-americano. Entre outros assuntos. Confira:

Donald Trump no Salão Oval, na Casa Branca - Foto: Reuters/Kevin Lamarque

Biden venceu a superterça das prévias do Partido Democrata desta terça-feira (3). O voto da população negra fez a diferença, assim como a falta de massiva participação da juventude, esperada por Sanders. É preciso ter em conta também a avalanche conservadora contra Sanders nas redes nas últimas semanas. Apesar de Sanders ter ganhado na Califórnia (projeção – pois apuração ainda está em curso), que foi o Estado com o maior número de votantes ontem, Biden venceu em 9 dos 14 Estados que participaram da votação. No computo geral dos votos, quando entrarem os da Califórnia Sanders pode aparecer numericamente na frente (por conta das primárias anteriores), mas não o necessário para ter carimbado o passaporte do favoritismo que agora é do ex-vice de Obama. Biden venceu em Alabama, Arkansas, Carolina do Norte, Massachussets, Minnesota, Oklahoma, Tenesse, Texas e Virgínia. Sanders venceu no Colorado, Vermont e Utah. Falta finalizar Califórnia e Maine. Chamou atenção Biden vencer em Massachussets, por exemplo, terra de Elizabeth Warren, mais alinhada com Sanders. A Convenção Nacional Democrata será entre 13 e 16 de julho com 3979 delegados eleitos e 771 superdelegados que não são eleitos (parlamentares, prefeitos, governadores).

Alegando reciprocidade, Trump anunciou que a China terá que cortar jornalistas de suas agências instaladas nos EUA. São elas a Xinhua, a tv CGTN, a China Rádio Internacional e o jornal China Daily. Hoje eles empregam 160 chineses nos EUA e terão até 13 de março para mandar 60 para casa. O ato revanchista vem de meses de discórdia e também da expulsão de três jornalistas norte-americanos da China responsáveis por escrever o artigo: “China, o verdadeiro doente da Ásia” que questionava a conduta do governo chinês em relação ao coronavírus.

Notícia econômica importante de ontem foi o corte de 0,5% de sua taxa de juros pelo Banco Central dos EUA. É a primeira vez que se faz um corte emergencial desde o início da crise econômica mundial de 2008 e fala-se que a crise do coronavírus, que vem impactando na economia mundial desde janeiro, é a responsável pelo corte. Os maiores setores atingidos pela crise são o turismo e a indústria, até aqui. Para o Brasil, no entanto, já há sinais de impacto no setor agroexportador.

Por falar em crise e coronavírus, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Toquio 2020 podem ser adiados para o final de 2020, como uma medida para ajudar a barrar a propagação do vírus. A ideia foi pronunciada pela Ministra responsável pelos jogos no Japão, Seiko Hashimoto. Originalmente os jogos estão marcados para ocorrer entre 24 de julho e 9 de agosto. O COI tem poderes para cancelar os jogos sem consultar o Japão. Grandes eventos estão sendo adiados ou cancelados mundo afora, desde Feiras de Livros a congressos de gigantes como Google, Facebook e o Mobile World Congress, de telefonia celular. Enquanto escrevo, vejo que hoje são 93.453 casos confirmados de infecção por Covid19 e 3198 mortes em todo o mundo. A China concentra cerca de 80 mil casos e vem seguida da Coreia do Sul com 5621, Itália com 2502 e Irã com 2336.

Macron quer uma Reforma da Previdência por decreto na França. Segundo o primeiro ministro do país, Édouard Philippe, “o governo vai aplicar o artigo 49.3 da Constituição que permite encerrar o debate parlamentar de um projeto de lei e aprova-lo sem votação caso não haja moção de censura”. O primeiro ministro teve autorização do Conselho de Ministros, reunido no sábado (29), para levar a manobra a cabo pegando a oposição de surpresa e elevando o nível de contestação ao projeto que já contava com mais de 40 mil emendas apresentadas no parlamento. O governo chama as 40 mil emendas de estratégia de obstrução da minoria. Para ser apresentada, uma moção de censura precisa de 58 assinaturas de parlamentares, 24 horas após o anúncio da aplicação do artigo constitucional 49.3. Ao menos duas moções haviam sido apresentadas ontem (3), uma pela oposição de esquerda a Macron e outra pela oposição de direita. Dos 289 votos necessários, a direita obteve 148 e a esquerda 91, portanto o governo Macron derrotou as duas.

Novos protestos estão sacudindo o Chile. Novamente a Praça Dignidade em Santiago é palco da violência dos carabineiros ou “pacos” como os chilenos os chamam contra manifestantes. Até agora 283 já foram detidos. Durante a madrugada houve também confrontos na periferia da capital e pelo menos 15 estações do metrô amanheceram hoje fechadas.

A Nicarágua perdeu no último dia 2, o poeta, padre e atuante na Revolução Sandinista, Ernesto Cardenal. Foi ministro da Cultura entre 1979-1987 e várias vezes indicado ao Prêmio Nobel de Literatura. O pader foi renegado pelos Papas João Paulo II e Bento XVI da Igreja Católica, mas o Papa Francisco o reabilitou em 2019, quando já estava doente. Ele deixou a FSLN em 1994, por divergências com Daniel Ortega hoje presidente. O governo nicaraguense decretou luto oficial por três dias.

A imprensa internacional menciona hoje com destaque a crise política em Guiné-Bissau. Desde o final de semana o país vive uma série de eventos conflitantes com a renúncia do Presidente da Assembleia Nacional e Presidente Interino do país, Cipriano Cassamá após os militares do país terem invadido o palácio presidencial, a Assembleia Nacional, a Televisão e a Rádio nacional em um clássico golpe militar. O golpe é atribuído a Umaro Sissoco Embaló que se autodeclarou Presidente do país no dia 27 de fevereiro e demitiu o primeiro ministro Aristides Gomes, nomeando em seu lugar Nuno Nubian. O país passou por eleições em 29 de dezembro passado e a Comissão Nacional Eleitoral anunciou a vitória de Sissoco, de oposição, por 53,55% dos votos contra Domingos Simões. No entanto o Supremo Tribunal de Justiça não reconheceu o resultado e alegou “falhas grosseiras” na apuração, recomendando nova apuração, que nunca ocorreu e o país ficou em um limbo político desde então.

Uma eleição pouco comentada por aqui foi a da Eslováquia no último sábado (29) que teve como grande vencedora uma coligação da direita conservadora constituída pelos partidos Pessoas Comuns e Candidatos Independentes (conservador), Nova Maioria (conservador e eurocético), União Cristã (direita católica) e Mudança pela Base – União Democrática (liberal). A chamada principal da campanha desse pool da direita foi a luta contra a corrupção, em especial tendo como alvo Robert Fico que foi o Primeiro Ministro do país entre 2012 e 2018 pelo partido Social Democrata e renunciou em 2018 por suspeita de estar implicado no assassinato de um jornalista que investigava casos de corrupção em seu governo.

O Vaticano abriu os arquivos do Papa Pio 12 (1930 – 1958) acusado de conivência com o Holocausto.

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