Novo “pibinho”: Paulo Guedes já prevê crescimento de apenas 1% em 2020

Segundo ministro, pandemia do coronavírus pode impactar mais gravemente a economia brasileira

No mesmo dia em que a equipe econômica revisou de 2,4% para 2,1% a sua projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para 2020, o ministro Paulo Guedes (Economia) admitiu que o “pibinho” pode ser ainda menor. Segundo ele, se a pandemia do coronavírus impactar mais gravemente a economia brasileira, a oscilação do PIB pode ser de apenas 1%.

Uma alta tão modesta quanto esta ficaria abaixo até mesmo do índice de 1,1% registrado em 2019. Será o quarto ano seguido de baixo crescimento após a recessão.

“Se [o coronavírus] for uma coisa mais grave [no Brasil], [o impacto no PIB] pode chegar a 0.3, 0.4 até 0.5 [ponto percentual]”, disse Paulo Guedes em reunião com congressistas na noite desta quarta-feira (11). “Se a pandemia tomar conta do Brasil e nós não fizermos as nossas reformas, pode chegar até 1%”, emendou o ministro, com uma nova justificativa para acelerar sua cartilha neoliberal.

Guedes foi ao Congresso depois de os parlamentares aprovarem uma despesa extra de R$ 20 bilhões ao ano para o governo. Na reunião, convocada de emergência a pedido do Palácio do Planalto, Guedes chantageou deputados e senadores, dizendo que a solução para a crise gerada pela pandemia é do Legislativo.

A reunião ocorreu um dia após o presidente Jair Bolsonaro ter dito, sobre a crise do coronavírus, que “muito do que falam é fantasia”. Mais cedo, o Congresso derrubou um veto de Bolsonaro à ampliação do BPC (benefício assistencial a idosos carentes e deficientes). Após a derrota, Guedes e Fernando Bezerra (MDB-PE), líder do governo no Senado, foram ao Palácio da Alvorada reunir-se com Bolsonaro.

Pouco depois, os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-RJ), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), convocaram líderes partidários para uma reunião de emergência, a portas fechadas. Também participaram Guedes, os ministros Jorge Oliveira (Secretaria-Geral), Luiz Henrique Mandetta (Saúde) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

A ida dos ministros ao Congresso foi lida por alguns líderes e parlamentares presentes na reunião de emergência como uma sinalização que o governo pode tentar reaver o total dos recursos do Orçamento que ficaram nas mãos do relator, Domingos Neto (PSD-CE). Parlamentares disseram à Folha que o cenário apresentado por Mandetta na reunião foi catastrófico.

“A exemplificação vívida do ministro Mandetta mostra a gravidade desta pandemia do ponto de vista da dimensão de saúde pública. O sistema pode entrar em colapso, em xeque, dependendo da velocidade de contágio. Os primeiros modelos sugerem que ela pode ser alta. É um quadro de extraordinária gravidade”, disse Paulo Guedes aos congressistas.

Guedes falou sobre os impactos imediatos já sentidos nos setores aéreo e de turismo. Segundo o ministro, o cenário pode se agravar e chegar a outras áreas de serviços conforme a duração da pandemia. “O impacto econômico vai depender muito de como os nossos agentes econômicos vão reagir. Suponhamos que nós todos vamos nos trancar em casa e vamos parar de nos movimentar. Vai acontecer uma queda forte no setor de serviços”, afirmou.

Rodrigo Maia cobrou de Guedes um quadro claro dos impactos econômicos previstos. O ministro ponderou com os deputados e senadores que não se pode precipitar algum tipo de plano sem entender onde haverá os maiores impactos.

Após o ministro, o presidente do BC, Campos Neto, fez um panorama da economia apontando para a possibilidade de um cenário de recessão caso a doença evolua. Declarado pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) nesta quarta, o coronavírus virou justificativa do governo para rever as condições do acordo que previa deixar em torno de R$ 15 bilhões desses R$ 30,8 bilhões sob controle do Congresso.

Parlamentares aceitaram o compromisso de destinar cerca de R$ 5 bilhões das emendas do relator, deputado Domingos Neto (PSD-CE), para o combate à doença, mas queriam manter no mínimo R$ 10 bilhões em seu poder. Uma alternativa discutida nesta noite foi a apresentação de uma medida provisória para garantir os recursos demandados pela Saúde para a crise sanitária.

“Consultores do Senado se manifestaram a favor de uma medida provisória emergencial porque ela libera os recursos imediatamente e não tem problema relacionado ao teto de gastos, porque é uma questão emergencial”, disse Alcolumbre.

Com informações da Folha de S.Paulo