De Olho no Mundo, por Ana Prestes

A especialista em relações internacionais, Ana Prestes, destaca em suas notas desta terça-feira (17) a ausência do presidente brasileiro Jair Bolsonaro na reunião por vídeo conferência do Prosul que trataria da pandemia de coronavírus. Ana critica também a posição do presidente mexicano diante da epidemia mundial. Destaca ainda a mudança de posicionamento do presidente dos EUA, Donald Trump em relação ao tema.

Presidente da Argentina, Alberto Fernández, e ministros participando da vídeo conferência. Foto: Esteban COLLAZO / AFP

Os presidentes de nove países da América do Sul que se organizam na Fórum para o Progresso e Desenvolvimento da América do Sul fizeram ontem uma reunião através de vídeo conferência para tratar do tema da epidemia por Coronavírus na região. Bolsonaro foi o único presidente que não participou, mas participaram Araújo e Mandetta. A Venezuela foi excluída do encontro por não pertencer à plataforma Prosul. Os países acordaram manter canal aberto de comunicação, compartilhar informações, adotar medidas de proteção nas fronteiras, facilitar o retorno dos nacionais de cada país, comprar conjuntamente equipamentos e materiais de saúde, aumentar a capacidade de diagnósticos e cooperar através de organismos financeiros multilaterais.

E Donald Trump mudou completamente o tom sobre o coronavírus. Nos EUA se fala que finalmente o presidente levou a pandemia a sério. Ele fez uma transmissão ao vivo ontem (16) com sua equipe na Casa Branca para tratar o tema. No pronunciamento ele chamou por uma unidade nacional e ficou gaguejando “it´s bad… it´s bad” (está ruim, está ruim). Falando a língua dos especialistas na epidemia, ele falou em “achatar a curva” da contaminação e impedir o esgotamento do sistema de saúde. Chamou também para a responsabilidade individual: “cada um de nós tem um papel crítico a jogar para parar a difusão e transmissão do vírus”.

Mas enquanto faz o dever de casa, Trump apronta das suas nos bastidores. Imprensa alemã nos últimos dias divulgou que o presidente americano vem insistindo com laboratórios alemães um acesso exclusivo à vacina contra o coronavírus. Trump estaria tentando, com elevados incentivos econômicos garantir para os EUA o direito exclusivo de uma potencial vacina que está sendo elaborada pela empresa CureVac, com sede em Tubinga na Alemanha. A história foi divulgada no final de semana pelo jornal alemão Die Welt. Nas últimas horas a empresa CureVac soltou uma nota de que não havia recebido nenhuma proposta para levar as pesquisas para os EUA e dar exclusividade ao país das descobertas.

E o coronavírus chegou também na sede da OMS (Organização Mundial da Saúde) em Genebra, na Suíça. Dois funcionários testaram positivo e centenas de outros foram mandados pra casa para trabalharem remotamente. As famosas conferências de imprensa foram suspensas e serão feitas por videoconferências. Desde janeiro a OMS vem atuando 24 horas por dia para monitorar a crise e estabelecer estratégias de combate ao vírus, coordenando ações internacionais e busca de vacinas e medicamentos. (infos de Jamil Chade).

Além de Bolsonaro aqui no Brasil, outro líder que vem sendo muito criticado ao lidar com o Coronavírus é o primeiro ministro britânico Boris Johnson. A tática de seu governo tem deixado os especialistas atônitos. Enquanto toda a Europa tenta tomar medidas para limitar os contatos pessoais, o Reino Unido manteve as escolas funcionando com a finalidade de gerar um “grau de imunidade de grupo para que mais pessoas sejam imunes à doença”. É o que eles em chamado do debate sobre a “herd immunity”. A ministra da saúde do país, Nadine Dorries, que se encontra ela mesmo isolada por estar infectada com o vírus, tentou explicar a política de seu governo com um vídeo do youtube em que um homem mostra com um balde e uma garrafa pet que é possível “regular” o número de infecções mesmo deixando as escolas funcionando. Vídeo

Outro governante que surpreendeu negativamente no quesito dar exemplo pessoal no combate ao coronavirus foi López Obrador do México. Em sua já tradicional conferência de imprensa matinal ele tem dito que as pessoas não podem deixar de se abraçar e foi fotografado em eventos tocando as mãos de crianças e dizendo que precisa manter o espírito da população em alta. Especialistas da UNAM (universidade nacional do México) tem alertado que é grande o risco de que as autoridades acreditem ter sob controle a epidemia por Covid19 e não tenham feito nada ainda com relação às cidades fronteiriças, em especial Tijuana, fronteira com os EUA, país que já tem alto número de casos. A California tem hoje 237 casos de infectados, com quatro mortes. Hoje foi revelado que um alto funcionário do Banco Central Mexicano testou positivo para o covid19. Na semana passada ele esteve em reunião com AMLO, o ministro da economia e vários banqueiros. O México tem 82 casos hoje.

Um dos efeitos econômicos mais temidos do coronavírus está ocorrendo. Grandes montadoras de carros começam a fechar suas fábricas na Europa. Na Itália, a Fiat vai fechar 16 unidades até o final de março. Ferrari e Lamborghini já estão fechadas. Na Espanha, Renault, Ford, Nissan e Seat (VW) já fecharam. Na França, doze fábricas da Renault pararam. A francesa PSA (Peugeot, Citroen e outras) vai fechar todas as fábricas na Europa. A Volkswagen fechará sua maior fábrica na Alemanha. A aviação vai pelo mesmo caminho. Não há peças e quando há estão presas em caminhões nas fronteiras. (Infos da FSP).

A sempre pequenina e bloqueada ilha de Cuba continua dando lições ao mundo. No dia de ontem (16) o governo do país, através de seu ministro de Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, aceitou que um cruzeiro britânico MS Braemar atracasse. O cruzeiro tem a bordo pessoas infectadas com Covid19. Segundo o chanceler, a medida é uma resposta à uma emergência de saúde e não fazê-lo poderia oferecer risco de vida às pessoas adoecidas. Os passageiros, em sua maioria britânicos, posteriormente serão trasladados de volta ao Reino Unido por via aérea. O navio vem tentando atracar em outros países desde o dia 13 de março. São 682 passageiros e 381 membros da tripulação, na maioria britânicos, mas há também canadenses, australianos, belgas, colombianos, irlandeses, italianos, japoneses, holandeses, neozelandeses, noruegueses e suecos. (Info Cubadebate).

Enquanto o mundo se digladia contra o coronavírus em Israel a política segue quente na tentativa de formar governo após a terceira eleição seguida sem que nenhum partido tenha conseguido formar maioria. Ontem o presidente do país, Reuven Rivlin, deu ao líder do partido Azul e Branco, Benny Gantz, a tarefa de compor um novo governo para Israel. Ele terá 28 dias para formar uma aliança no Knesset (parlamento israelense). Se conseguir fechará um ciclo de 10 anos de Netanyahu no poder. Enquanto isso, a suprema corte do país rejeitou pedido de impedimento de Netanyahu para formar governo alegando que o presidente já deu a Gantz o mandato para fazê-lo.

No Chile os manifestantes que seguem nas ruas contra o governo Piñera dizem que a epidemia do coronavírus caiu do céu para ajudar o presidente. O Chile hoje tem 70 casos registrados. Abre-se no país o que estão chamando de uma biopolítica, em que Piñera reforçará as repressões com o álibi de estar combatendo o vírus. Situação complexa.

A instabilidade econômica mundial fez os analistas brasileiros dizerem ontem (16) que a Bolsa brasileira chegou a despencar 39,28% em um período inferior a dois meses.