China exige desculpa de Eduardo Bolsonaro por atacar Partido Comunista
Embaixada da China no Brasil acusou filho do presidente de ter contraído “vírus mental” e replicado insinuações de Trump
Publicado 19/03/2020 10:37
A Embaixada da China no Brasil publicou uma série de mensagens nas redes sociais nesta quarta-feira (18) em repúdio às fake news e aos comentários criminosos feitos pelo deputado Eduardo Bolsonaro sobre o novo coronavírus. Sem provas, o filho do presidente Jair Bolsonaro responsabilizou o país asiático – e, mais diretamente, o Partido Comunista da China – pela pandemia.
Na mensagem, o perfil oficial da Embaixada chinesa fez uma alusão às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e à viagem da comitiva liderada pelo presidente Jair Bolsonaro à Flórida. Trump – que vem chamando o novo coronavírus de “vírus chinês” – tem adotado postura crítica ao presidente da China, Xi Jinping, após uma troca de acusações sobre quem teria iniciado a pandemia.
“As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental que está infectando a amizade entre os nossos povos”, escreveu a Embaixada chinesa.
“Lamentavelmente você é uma pessoa sem visão internacional, nem senso comum, sem conhecer a China, nem o mundo. Aconselhamos que não corra para ser o porta-voz dos EUA no Brasil, sob a pena de tropeçar feio”, acrescentou a representação diplomática, que marcou na publicação o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.
Também em uma rede social, Eduardo Bolsonaro tinha publicado uma mensagem na qual dizia que “Quem assistiu (à série) Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”.
A Embaixada também replicou uma série de mensagens atribuídas ao embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, contra as palavras de Eduardo Bolsonaro. O diplomata afirmou que exigiu que o deputado “retire imediatamente” as palavras e “peça desculpas ao povo chinês” pela difamação.
“As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial”, escreveu. “Além disso, vão ferir a relação amistosa China-Brasil. Precisa assumir todas as suas consequências”, completou o embaixador.
De pronto, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pediu desculpas à China na madrugada desta quinta-feira (19) pela nova torpeza bolsonarista. “Em nome da Câmara dos Deputados, peço desculpas à China e ao embaixador @WanmingYang pelas palavras irrefletidas do Deputado Eduardo Bolsonaro”, escreveu Maia em uma rede social.
“A atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia. Em nome de meus colegas, reitero os laços de fraternidade entre nossos dois países. Torço para que, em breve, possamos sair da atual crise ainda mais fortes”, agregou Maia.
A venda de produtos brasileiros para a China, Hong Kong e Macau somaram US$ 4,724 bilhões em fevereiro, alta de 20,9% na comparação com o mesmo mês de 2019, informou o Ministério da Economia em 2 de março. No ano passado, o Brasil teve um superávit de US$ 27,6 bilhões no comércio com a China, quando exportou US$ 62,7 bilhões ao país, que é o maior comprador de soja e minério de ferro.
O país asiático controlou internamente a pandemia de coronavírus, e não reportou nenhum caso de transmissão local nesta quinta-feira (hora local). O país tem buscado usar a pandemia e o controle interno dela no país como uma poderosa arma de soft power, oferecendo auxílio técnico e financeiro a diversos países.
Da Redação, com agências