Os jovens investidores que foram da euforia ao prejuízo na bolsa

O baque da Covid-19 veio lembrar a volatilidade da renda variável.

Muitos jovens estavam arriscando suas economias pela primeira vez,

Após um período de euforia entre o fim de 2018 e o início deste ano, a bolsa brasileira (B3) está derretendo em meio à pandemia do novo coronavírus, o Covid-19. Somente neste mês, a bolsa já acionou seis vezes o “circuit breaker”, mecanismo que suspende as negociações quando as perdas são muito fortes.

A baixa da bolsa pegou em cheio e assustou muitos jovens investidores que estavam arriscando suas economias, alguns pela primeira vez, como mostra matéria publicada esta semana pela BBC News Brasil.

Empolgados com a euforia do mercado e as promessas da mídia de um voo econômico sob o ministro Paulo Guedes, eles apostaram no risco da renda variável. O baque do Covid-19 veio lembrar a volatilidade desse tipo de aplicação.

Segundo a matéria da BBC, entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2020, a Bolsa brasileira ganhou 1,1 milhão de novos investidores pessoa física e mais que dobrou de tamanho, somando 1,9 milhão de pessoas.

Em termos relativos, o grupo que mais cresceu dentro da Bolsa foi o de jovens. O total de investidores com idade entre 16 e 25 anos aumentou quase cinco vezes nesse período, de 37,7 mil para 179,9 mil. Na faixa etária entre 26 e 35 anos, o salto foi de 226,9%, de 286 mil para 609,9 mil pessoas.

A queda nos juros, de um lado, diminuiu o retorno das modalidades de renda fixa, menos arriscadas. O ciclo de alta da Bolsa, por sua vez – o que o jargão do mercado financeiro chama de ‘bull market’ -, chamou atenção para as promessas de maior retorno da renda variável.

Uma das jovens que aplicou suas economias foi a estudante de administração Mirela*, de 20 anos. Moradora de Arujá, no interior de São Paulo, ela contou à BBC que tirou tudo que tinha na poupança para comprar ações. Ela, o irmão e o pai, dono de uma loja de roupa infantil, entraram na bolsa ao mesmo tempo.

“O cenário estava muito bom e a gente sentia necessidade de guardar dinheiro para o futuro”, diz ela. Grande parte dos investidores mais jovens nunca viveu uma grande crise financeira. A premissa de que quanto maior retorno, maior o risco, era apenas teórica para muitos deles até a quarta-feira de cinzas, 26 de fevereiro, quando a Bolsa caiu 7%

“Dói ver o dinheiro derreter”, diz Marcelo*, de 22 anos. .Estagiário em um banco, ele começou a investir em renda variável em 2019. Como a família “não tem a cultura de poupar”, contava com a ajuda dos amigos e com o material que lia e pesquisava sobre o mercado financeiro para aplicar.

Apesar de se considerar um investidor de perfil conservador, quando ele viu a Bolsa acelerar em abril do ano passado resolveu colocar parte das economias em fundos de ações, imobiliários e ETFs (sigla para ‘exchange-traded fund’, fundos que acompanham índices – de ações ou de títulos, por exemplo).

O problema, no caso do estudante, foi que uma questão relacionada à sua saúde o obrigou a resgatar parte do dinheiro, o que ele tem feito aos poucos, desde o início de março – materializando as perdas que a bolsa registrou nessa crise.

Fernando*, de 24 anos, que se define como investidor de “perfil mais arrojado”, tem cerca de 70% do patrimônio aplicado em renda variável.

Chegou a vender o carro – que ele, assim como muitos jovens, enxerga mais como custo supérfluo do que como solução para o transporte – e decidiu alocar mais capital na Bolsa durante o ciclo de alta. Nos últimos dias, ele também tem deixado o aplicativo da corretora de lado – “a dor é grande” – e estima que o prejuízo esteja na faixa dos 40%.

Fuga de investimento estrangeiro

Apesar do baque, a maior parte dos pequenos investidores parece estar aguardando dias melhores, em vez de retirar dinheiro da bolsa. A estratégia é aguardar o capital se recompor.

Dados levantados pela B3 a pedido da BBC mostram que, entre 26 de fevereiro e 16 de março, o pequeno investidor não tirou dinheiro. Eles compraram R$ 84,3 bilhões em ações e venderam R$ 70,2 bilhões, um saldo líquido positivo de R$ 14,1 bilhões.

Quem mais tirou dinheiro da bolsa foi o investidor estrangeiro. Naquele intervalo, eles compraram o equivalente a R$ 235,4 bilhões e venderam R$ 259,1 bilhões, saldo negativo de R$ 23,7 bilhões.

Fonte: BBC News Brasil