Coronavírus: Pandemia aniquila a consciência e produz mais xenofobia

Chineses estão envolvidos no Vórtice de difamação, uma situação mais complicada do que a época da Covid-19

Nos últimos dias, a China pode aparecer em vórtice profundo pela epidemia de coronavírus nas redes sociais. Alguns jovens africanos e a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) têm publicado links com títulos como “China cria o coronavírus para roubar ações das empresas dos EUA e dos países ocidentais” ou “Chineses são criadores da coronavírus”.

Alguns senhores e amigos da CPLP enviam essas informações para mim. Como cidadão chinês e mentor da literatura africana em língua portuguesa, tenho responsabilidade e sou voluntário para explicar bem aos meus kambas, amigos angolanos, que falam o idioma português.

Hoje quero sentar num chão com os senhores, para que conversemos com calma e tranquilos sobre uma grande pandemia desconhecida. Por que digo que estamos no chão ao mesmo nível para conversarmos? Com isso, quero dizer: se vocês tiverem sentimentos de crítica preconceituosa, não conseguiremos chegar a um produto comum.

A dizer a verdade, no início não quero conversar estes tipos de temas, porque sempre existem informações falsas sobre a China. Porém hoje nos seus países se produzem pensamento de xenofobia, e por isso temos responsabilidade para conversar sobre as informações sem lógica.

O professor Manuel de Sousa diz: “Difamar nestas ocasiões é uma norma, porque a Humanidade está aflita e com medo da incerteza que toda esta desgraça que está a se abater sobre a Humanidade!”.

Em primeiro lugar, vou explicar a epidemia do coronavírus na China. Desde o dia 23 de janeiro de 2020 até ao dia 21 de março de 2020, a China regista 81.416 casos de Covid-19 e 3.261 mortos. O centro da epidemia na China é a cidade de Wuhan, com 11 milhões de habitantes. A cidade também é a capital de província de Hubei, que tem 58 milhões habitantes.

Na China, para evitar a circulação do coronavírus, o governo central ordenou o fechamento de toda província e mandou mais de 40 mil médicos e enfermeiros para que socorrressem os doentes com o coronavírus. Durante a epidemia, o povo chinês construiu um hospital com mil camas, de 33.900 metros quadrados, em dez dias. Isso porque se curavam os doentes de forma rápida e eficiente, com baixo percentual de mortos, 2.3%. Fora do epicentro da epidemia do Covid-19, a percentual de mortes é menor do que 1%.

Durante a epidemia, todos os chineses saíam de casa com máscaras, de modo obrigatório. Porém, mesmo assim a China registrou 3 mil pessoas falecidas. Pelos dados acima, pode-se ver que os chineses estão sob forte sofrimento por causa do coronavírus. Apesar desta situação triste, há funcionários e políticos norte-americanos que falam que a China criou o coronavírus para combater o mundo – inclusive o presidente Trump chama o coronavírus de “vírus chinês” nas redes sociais.

No dia 12 de fevereiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde publicou que o título do vírus é “Covid-19”. Porém, alguns jovens ignorantes agem como cabritos que ouviram o som do sino do pastor Trump. Alguns jovens gostam de ler as informações negativas e falsas. Quando leem uma informação que lhes interessa, primeiro escolhem partilhar e deixam comentários sem responsabilidade. Nunca querem pesquisar se a informação é verdadeira ou falsa – só querem mostrar “inteligência” a seus amigos e só querem dizer aos outros: “Eu conheço tudo e melhor que vocês”.

No mundo da internet sem restrição e controle por lei, os jovens podem deixar qualquer palavra que queiram escrever. Mas nós somos pessoas da época nova, não deveríamos falar de um assunto na base do insulto, abusos, difamação. Caso esses jovens queiram ser representantes dos EUA contra a China, não o façam como bonecos sem pensamentos próprios.

Durante a história da China, o povo chinês tem sofrido desastres, mas nunca se rendeu ante as dificuldades. Neste momento, a China está quase a obter a vitória na batalha contra o coronavírus, mas agora os norte-americanos dirigem os jovens na difamação do povo chinês e disseminam a xenofobia também nos países africanos. A China e a África são parceiros, não há ódio entre nós. A cooperação com ganhos mútuos é nosso único destino.

A mensagem que transmitimos é claramente: o vírus não tem fronteiras nacionais e não distingue entre cor da pele ou riqueza da raça ou de pessoas. Precisamos ter cuidado no uso de palavras e evitar relacionar o vírus a indivíduos. Acredito que muitos vão se arrepender de vincular o vírus à raça. Isso ninguém quer. Precisamos de trabalhar juntos. A pandemia de 2009 (H1N1) começou na América do Norte, mas ninguém a chamou de “gripe norte-americana”. Portanto, ao encontrar outros vírus, usamos o mesmo método (um nome científico). Em 18 de março, o senhor Michael Ryan, chefe do programa de emergência em saúde da OMS, respondeu em Genebra ao presidente Trump, dizendo que chamar o coronavírus de “vírus chinês” é um comportamento sem responsabilidade.

Os chineses agora estão envolvidos no Vórtice de difamação, uma situação mais complicada do que a época do coronavírus. Podemos superar a pandemia, porém não poderíamos corrigir a discriminação, preconceito e xenofobia dos ativistas. A grande pandemia do coronavírus não mata os espíritos das pessoas, mas estamos preocupados com os insultos e os xenófobos.

Meus amigos que moram na América do Norte foram ameaçados por xenófobos e malandros. Eles me dizem que ficam em casa na América do Norte todos os dias. Ao saírem à rua, alguns ativistas norte-americanos abusam e os insultam. E outros amigos que moram na África também enfrentam essas situações. Estou muito triste, mas estou contente com os encorajamentos e saudações dos meus amigos africanos e portugueses.

Agora, a África já tem 40 países com casos de coronavírus. Mas, segundo dados publicados pelos governos locais, não há nenhuma relação com os chineses, nem qualquer caso proveniente da China. Porque as empresas chinesas proíbem os funcionários de saíram da China com sintomas de febre e tosse, estamos cuidando do chinês e também protegendo os estrangeiros.

Diante da pandemia, o governo chinês e as empresas chinesas sempre estiveram juntos com os africanos. No dia 21 de março, a comunidade chinesa e a embaixada da China na África do Sul doaram 3 milhões de rands (moeda sul-africana) para o povo sul-africano. No dia 16 de março, o grupo Alibaba e o professor Jack Ma decidiram que doarão máscaras, kits de teste e roupas de proteção para todos os países de África, para ajudar o continente na sua luta contra o novo coronavírus. Os empresários chineses estão preocupados com o surto na África e querem combater juntos com os africanos a Covid-19. Não queremos obter aplausos e vivas, mas queremos obter reconhecimento e confiança.

A China já controla bem o surto. Em todos continentes, doutores e enfermeiros chineses querem oferecer a nossa experiência a africanos e europeus.

Finalmente, não quero falar mais sobre difamação e preconceito, porque sempre há pessoas que utilizam boas teorias para explicar mentiras. Todos os seres humanos são iguais. Temos de nos unir com força para ganhar a vitória dessa batalha e usarmos nossa inteligência para seguirmos mais preparados para a necessária ação contra a pandemia.

Vamos à frente e unidos! Amanhã será melhor.

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